segunda-feira, 27 de maio de 2013

O kit Niemeyyer e a ciclovia na esplanada



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Fiquei sabendo pelo meu amigo Mário que o governo do Distrito Federal começou a construir feito mineirinho come quieto uma ciclovia nos gramados da Esplanada dos Ministérios. De repente, com a agilidade que lhe falta para arrumar hospitais, escolas e as pistas já existentes, o governo local providenciou o início e meio das obras, rapidamente. Assim como a rápida demolição do antigo Estádio Mané Garrincha, os nosso briosos administradores fizeram como sempre fazem, mandam quebrar tudo logo de cara que é para não ter como refazer o já desfeito. No caso, trataram logo de escavar os buracos de pistas e as covas para as mudas. Além da sinuosa pista de cimento, o projeto desenvolvido inclui a plantação de algumas dezenas de árvores que poderão chegar a trinta metros. Arquitetos cheios de argumentos e defensores do projeto arquitetônico original fizeram críticas ácidas à iniciativa, conforme pode ser visto em vídeo da Folha no YouTube.

Como é habitual, nossos governantes acham que sabem tudo e não combinaram nada com ninguém que não fosse da patota. O projeto pulou de uma gaveta e virou realidade num instante, sem discussão com a população. E isso deve ser questionado. O povo precisa ser ouvido sempre e hoje em dia, convenhamos, é bem simples fazer uma consulta popular.

Pessoalmente, acho que os espaços de lazer de Brasília são escassos e extremamente mal estruturados. Recomendo a todos os visitantes da capital que sejam precavidos e tragam água, sombrinha, cadeira dobrável e uma matula ao fazer o circuito de monumentos. Esses são os quatro componentes básicos do kit-Niemeyer. Sim, você não encontra água, o sol é de rachar, não há lugar para descanso e inexistem estabelecimentos para beliscar nada na Esplanada durante os finais de semana. Com sorte, haverá ambulantes cobrando preços escorchantes por uma pipoquinha amanhecida. Durante a semana será preciso apresentar identidade para ultrapassar uma roleta de um ministério qualquer e descolar um refri ou um salgadinho numa biboca no térreo ou no subsolo. Em qualquer dia, se precisar ir ao banheiro, chame um táxi e corra para o Conjunto Nacional. Os banheiros de acesso público na Esplanada são quase inacessíveis ou estarão fora de ordem. É constrangedor. Já vi brigas na Catedral por causa disso. Para um passeio noturno na capital será preciso acrescentar lanterna e casaco e deixar separada uma grana para o sujeito que vai olhar o seu carro.

O projeto da ciclovia arborizada na Esplanada promete aliviar, daqui a alguns anos, o problema da falta de sombra. Mas todos os outros permanecem e permanecerão. A cidade não possui apenas uma arquitetura peculiar. Ela nasceu da imposição de uma vontade, do sonho e capricho de um homem que soube contagiar multidões no seu tempo e congregar milhares e milhares de vontades. A renúncia de Jânio e o regime militar não destruíram apenas o regime democrático no país: sufocaram liberdades e fizeram com que Brasília fosse durante longo período menos que uma cidade, uma estadia funcional. Com o fim do regime e a possibilidade de uma representação política para os moradores da capital, a existência de uma câmara legislativa foi saudada como a reconquista da cidade pelos que as construíram e pelos que aqui cresceram e a amam. Os moradores daqui, no entanto, vêm sendo sucessivamente traídos e vilipendiados pela maioria dos seus representantes. Ainda hoje Brasília é moldada ao quase exclusivo bel prazer dos que detêm poder, que parecem se preocupar cada vez menos em respeitar os direitos e a vontade dos moradores. Ou pior, o descaso e o arbítrio é que tomam conta da cidade. E o descaso é bem penoso de se ver, com as dezenas e dezenas de quadras de esporte aos cacarecos nas entrequadras do Plano Piloto, na velha ciclovia e nas cidades satélites, como o Guará.

Com a ciclovia pronta, certamente irei conhecer, levar as crianças para uma volta de bicicleta, um passeio de skate. A cidade precisa de espaços de convivência agradáveis, limpos, com lugar para sentar, banheiro, sombra, água, um café, caramba! Por precaução, levarei também o kit-Niemeyer.

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