terça-feira, 21 de maio de 2013

O fim do bolsa-família não deveria ser boato



Curb Your Enthusiasm - Swan Kill


Leio nos jornais sobre os boatos a respeito do fim da bolsa-família. O pessoal do governo não gostou nada da boataria. Sempre que alguém do governo não gosta de alguma coisa é um barata-voa danado e montanhas parem ratos. Pelo que vi, surgiram duas facções. Na liderança da primeira apareceu uma ministra para colocar a culpa numa “central de notícias da oposição”. Sei. Se existisse, a central funcionaria mais ou menos assim:

_Você ligou para a central de notícias da oposição. Para fazer elogios, tecle 1. Para sugestões, tecle 2. Para reclamações, tecle 3. Para mandar beijim, tecle 4. Para concorrer a um queijim, tecle 5. Para boatos sobre o fim do bolsa-família, aperte 666...

Pela segunda facção, um outro ministro fez pose de magistrado e declarou que tudo foi muito bem organizado, orquestrado e planejado. O ministro disse também que a origem do boato seria devidamente investigada e os culpados severamente punidos.

Os 44 milhões de brasileiros que votaram no outro candidato nas últimas eleições queriam muito que oposição fosse tão eficiente quanto, em raras ocasiões, o partido da situação pretende que seja. As sucessivas carimbadas de medidas provisórias no Congresso Nacional, no entanto, desmoralizam qualquer tentativa de canto de galo.

Ao final de suas declarações de duela a quem duela, o ministro disse ter escalado o batalhão de arapongas cibernéticos da Polícia Federal para capitanear as investigações. Essa turma é especializada em grampo de e-mail e escuta paralela de skype, agindo desde sempre dentro dos mais estreitos e estritos limites legais, com dois pesos e duas medidas para cada ocasião. Claro, os gênios já intuíram que tudo foi engendrado nas redes sociais, provavelmente no Facebook ou no twitter. Certamente vão localizar mensagens comprometedoras como as seguintes:

_Véi, vamu kmça um boatu?rs,rs,

_Vamu, rs,rs,rs.

_Lol, u gov vai kbar k bolç esmol.

_Rs,rs, ngim vai pdr a mmta.

_Vamu çkar agora.

O trabalho dos especialistas do governo é sobejamente credenciado pelo êxito obtido em investigações como a... er... teve a da ... e ainda a ... sim, e teve também aquela sensacional a... bom, teve alguma aí, que obviamente culminou com todos os canalhas atrás das grades. Encontrados os responsáveis, a depender da cor da camisa, duvido que recebam o mesmo tratamento que o governo concede a malfeitores exonerados de ministérios e bate-paus da blogosfera: churrascos, abraços, tapinhas nas costas, elogios em palanques, anúncios, grana, consultorias do Cebrai e medalhinhas por bons serviços prestados.

Com 13,8 milhões de famílias beneficiadas, o Bolsa-Família é o maior programa do gênero assistencial-clientelista no planeta e, assim como a Muralha da China, pode ser visto a olho nu do espaço batendo 25,8 bilhões anualmente da carteira do nosso pibinho. A gigantesca máquina administrativa de 39 ministérios, os milhares de municípios imbecilmente emancipados - que torram tudo que recebem do FPM nos salários de prefeituras e assembléias perdulárias e inúteis - e o Bolsa-Família são as nem tão novas saúvas do país. Hoje, nenhum político tem coragem de começar a diminuir essas encrencas e elas estão acabando com a coragem de se fazer política de maneira decente no Brasil. O fim do Bolsa-Família é só um boato. Mas deveria ser programa de governo torná-lo desnecessário. Deveria ser meta registrada em cartório o planejamento e método para a sua erradicação. Um dia alguém vai ter que matar esses gansos.



P.S: Começaram a pipocar matérias nos jornais dizendo que os arapongas cibernéticos talvez não sejam os mais indicados para investigar os boatos, já que a propaganda boca-a-boca é que provocou a confusão em alguns estados notadamente menos eletrônicos. Seja como for, é interessante imaginar que em algum município, um único telefone de uma agência qualquer registra ligações para centenas de beneficiários do bolsa-família no mesmo dia, em ordem alfabética.

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