No Recife, como bem disse o Samarone Lima(dica do Paulo Bono), tem rei para tudo quanto é lado. Na Bahia, nem se fala.
No Goiás, tem o "Não-sei-o-quê de Ouro", que é uma variação de Rei da Cocada Preta, ouro é coisa de realeza, você sabe. Basta uma pequena volta por uma cidade goiana para encontrar o Garfo de Ouro, o Frango de Ouro, a Oficina de Ouro, a Costureira de Ouro, a Linha de Ouro, o Martelinho de Ouro e a Bezerra de Ouro do Joaquim Roriz. É ouro que não acaba mais.
Aqui, no Distrito Federal, o povo é mais comedido na realeza ou a falsidade impera e a onda é o "Não-sei-o-quê Dourado". Já vi placa de Faisão Dourado, Dragão Dourado, Tesoura Dourada, Padaria Pão Dourado, Academia Dourada, Funilaria Dourada, Buteco Dourado e a Lanchonete do Dourado, que fica no Cruzeiro e que, mesmo com preposição, também vou considerar.
Em Minas, tudo é Estrada Real. O Hotel Real, a Viola Real, o Bagual Real, a Perua Real, o Pão-de-Queijo Real, a Cachaça Real, a Vagaba Real, o Queijo Real, o Pastel Real, a Rapadura Real, o Caldo de Cana Real e o Bicho de Pé Real. É uma realeza sem fim. Só o Aécio não cai na real e não percebe que nunca conseguirá ser presidente.
Em outras partes do país, o adjetivo varia, mas a intenção é a mesma. Nós, brasileiros, temos um orgulho danado do nosso modesto terreiro e nos achamos o ó-do-borogodó, o pingo no í do pinguím, o mafagafo dos mafagafinhos. Eu também, eu também, preciso me apressar logo em dizer, antes que você pense que eu sou um renegador do berço esplêndido.
Não senhor, não senhor. Também faço coro na hora do hino, canto de pé, mão no coração, pago meus impostos em parcelas, aquelas coisas. Mas convenhamos, há exageros e senões na nossa mania de cantar de galo. E ela é mais explícita na forma de contar vantagem a toda hora, quando enchemos o peito e dizemos com a maior cara dura que uma coisa daqui, do Brasil, é a melhor do mundo.
Sim, nunca antes neste país nós nos jactamos tanto de coisas à tôa ou para as quais não existem termos de comparação. Não faz muito tempo, li em algum lugar que uma pesquisa mostrou que somos o povo mais feliz do mundo. Não tenho a menor idéia de como foi feita essa pesquisa, mas lembro de ter discutido o tema num buteco com um argentino que queria me provar que o resultado tinha favorecido, na verdade, os nossos hermanos.
_Que dices? Estás loco, abreu? - eu disse, em perfeito portunhol - basta ponhar la língua en la puenta dos dentes.
_Nosotros somos los felices! - disse o gringo, batizado de Diego em homenagem a outro pretenso mejor del mundo.
_Dieguito, o país do tango no puede ser o mas feliz, o riso não combina com as milongas - eu disse.
Não lembro mais dos argumentos de Diego, porque o primeiro começava com "hijo de" o que me obrigou a desperdiçar o meu chopp antes que o garçom entrasse para desapartar a porradaria e ficasse do meu lado, é claro.
_Sai fuera, gringo, nosotros é que suemos los mejores del mundo - disse o garçom, num portunhol bem melhor que o meu.
_Boludos, boludos - gritou Dieguito, a hacer gestos obscenos com la mano de Dios.
Sim, para nós, brasileiros, tudo é questão de ser ou não ser o melhor e o maior do mundo. E não apenas no futebol. Nós somos os melhores do mundo em matéria de Gisele Bundchen, por exemplo. É um espectro bem amplo. Isso vai da produção de soja até a exploração de petróleo em águas profundas.
De cabeça dá para dizer que nós temos a melhor música bossa nova, o samba mais bonito, o carnaval de escola de samba mais caro do planeta, a jabuticaba maior e mais doce, a jaca(que dispensa outros adjetivos), o jabuti em cima da árvore e os jabutis do Chico, a maior usina hidrelétrica, o governador mais ongnelo, o sexto e mais cara-de-pau dos ministros, estamos lá em cima no ranking dos mais corruptos(a gente chega lá), os juros mais altos do mundo, a presidente mais presidenta, as ongs mais fajutas do mundo e a maior e mais completa bandalheira de que qualquer um já tenha tido notícia. Não, você não tem noção, é coisa de doido. E ainda assim, na maior cara dura, cantamos de galo. Dieguito tem razão, somos uns boludos.
Um comentário:
É verdade. Por aqui tem o rei do hot dog, rei do hamburguer, rei dos pneus, rei da pamonha etc.
E uma coisa que não sou é patriota.
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