domingo, 6 de novembro de 2011
A música que meu filho mais escuta
The Beatles - Roll Over Beethoven (with Jimmy Nicol)
Existe uma grande competição para a venda de botijões de gás onde eu moro. De meia em meia hora, passa um daqueles carrinhos chineses ou indianos, carregado de botijões. Nesses carrinhos o lugar do motorista é bem apertado, os caras têm que andar de cabeça baixa. Uma das empresas, eu já reparei, parece selecionar os motoristas pelo tipo físico. Todos parecem jóqueis halterofilistas. Eu ia escrever nanicos mas ando muito politicamente correto.
Hoje, por exemplo, eu estava folheando aquela revista que sempre traz notícias que derrubam ministros e parei no anúncio dos três homens azuis. Sempre achei os homens smurfs patéticos, toda aquela tinta deve dar um trabalhão para tirar. Na foto, o primeiro aparece com olhos esbugalhados, o segundo parece que levou uma dedada, e o terceiro está olhando para o segundo como se ainda estivesse lhe aplicando uma. Eu ia fazer um comentário sobre a foto com a minha mulher, mas a onda politicamente correta me conteve.
Eu também ia fazer um comentário sobre o novo escândalo no ministério e a provável nova demissão, mas preferi ficar calado. Não gosto de parecer boca de sapo. Acho chato dizer "eu já cantei essa pedra" e também não gosto de ouvir. Isso é só para quem tem vocação de Cassandra.
A competição pela venda de gás por estas bandas possui vários denominadores em comum, além do transporte em carrinho estrangeiro. O preço é bem parecido, varia entre 50 centavos e um real. É preciso conferir se o botijão está mesmo com o lacre de segurança intacto. Ninguém nunca tem troco. E todas as empresas usam a mesma musiquinha para anunciar o gás: "Pour Elise", de Beethoven.
No início pensei que era apenas a empresa que usa os jóqueis do gás. Depois de algum tempo morando aqui me dei conta de que todas as empresas usam a mesma música. E é batata, todas as vezes que precisei trocar o botijão aproveitei a passagem do carrinho. Dá pra ouvir de longe o pianinho. Nas duas primeiras foram os jóqueis e nas vezes seguintes foram motoristas com o pescoço torto. Todas as vezes paguei o mesmo preço, porque os jóqueis e os motoristas não tinham moedas. Numa das vezes, o jóquei me mostrou que eu não tinha percebido o lacre violado. Ele disse que não haveria problema em trocar o botijão. E também disse que se eu quisesse ficar com o botijão com o lacre violado o preço ficava pela metade. Eu preferi pagar o preço por um botijão inteiro, lacrado. E depois disso examino todos os botijões que chegam aqui em casa.
_Pai, como chama aquela música dos carrinhos de gás?
_Pour Elise, de Ludwig von Beethoven. Por quê?
_É que na escola querem saber qual é a música que eu mais escuto. É essa música, pai. A dos carrinhos de gás. Toca todo dia, umas três ou quatro vezes.
A resposta impressionou a professora de música. E amanhã, na hora em que um caminhãozinho de gás passar, quem sabe um outro ministro não terá caído?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário