sábado, 12 de novembro de 2011

O Inspetor de Galinhas e a lógica irrefutável



Amy Winehouse - Love is a Losing Game


Em 1946, Jorge Luis Borges(1899-1986) foi destituído pelos peronistas do cargo que ocupava na Biblioteca de Almagro, em Buenos Aires, e "promovido" a Inspetor de Galinhas e Ovos em feiras públicas. Obviamente, recusou a humilhação. Nos anos seguintes, os peronistas colocaram sua mãe e também sua irmã na cadeia. Eram seus olhos que aprisionavam.

As biografias de Borges dizem que ele era classe média. Mas viveu até os 70 anos num apartamento pequenino com a mãe. Dormia na sala. Só foi ter um quarto próprio após a morte da mãe. Em 1981, Mario Vargas Llosa foi visitá-lo e ficou emocionado com a modéstia dos aposentos do colega, descrevendo-o como uma cela estreita, com uma cama tão frágil "que parece de criança".

Reencontrei na minha estante um livro de conversas entre Jorge Luís Borges e Ernesto Sábato, organizado por Orlando Barone e publicado pela ed. Globo. É o registro gravado dos encontros dos escritores em 1974, depois de mais de vinte anos que os dois não se falavam. Por divergências políticas. Foi o diálogo que me chamou a atenção para esses detalhes biográficos. O trecho principal é este:

BORGES: Veja que me deram esse posto para me humilhar e eu renunciei no mesmo dia. Lembro que perguntei a um amigo meu por que, havendo 40 empregados na biblioteca, mandavam embora a mim, que era escritor. Ele me perguntou se eu não estivera com os aliados durante a guerra. Respondi que sim. "E então o que o senhor quer?", ele me disse. Percebi que essa lógica era irrefutável.

Sim, vivemos tempos de lógica irrefutável.

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