sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A felicidade é um sorvete



The Offspring - The Kids Aren't Alright

Ontem colhi pepinos da horta. O meu pé de limão china é um prodígio, está sempre carregado. Tivemos framboesas, pintangas e o pé de jabuticabas está carregado. As frutas estarão boas em dezembro, vai ser uma maravilha. Hoje também me servi de mangas, laranjas e cajus, no quintal de um vizinho. Vi um pé de sapotis cheio, não sou muito fã da fruta. Mas amanhã vou colher alguns para levar ao meu sogro, que adora.

O feriado encurtou as atividades da semana, parece que tudo passou mais rápido. Faltou luz a manhã inteira e também no início da tarde, estourou um transformador no início da rua. Conversando com os vizinhos, organizamos uma blitz de reclamações na companhia de luz, alternando ligações de diferentes telefones. Mesmo assim, o conserto só foi providenciado às três e meia. Ainda bem, já estava correndo para comprar gelo e sal para salvar as coisas congeladas do freezer.

Rose, a universitária-babá-cozinheira-faxineira daqui de casa, faltou porque é época de provas e trabalhos acadêmicos. Fomos almoçar no shopping porque já estou com vergonha de filar rango na minha mãe. As crianças pediram sorvete e cada uma ganhou uma casquinha de baunilha do MacDonalds. Eu também ganhei.

"A felicidade é um gelato" - diz o melhor slogan do mundo, para um dos melhores sorvetes que já experimentei, o Diletto. É sim. A felicidade é um sorvete, colher uma fruta no pé, água fresca, uma cerveja Stella Artois long neck bem gelada, pão com manteiga com sal tostado no forninho elétrico. É sim. É sim. Também é olhar para frente, o passado é uma invenção triste que, com sorte, esquecemos.

Às vezes acho que acordei de um pesadelo, me sinto em estado de graça, em pura epifania por vislumbrar um caminho diferente daquilo em que eu estava lançado. E não é bem assim, não solucionei nenhum quebra-cabeça, minha vida é uma incognita, um salto no escuro. Ainda assim me rejubilo.

Em outros instantes, sinto calafrios e um medo terrível do que ainda não veio, de tudo o que não controlo. É uma paúra imensa, de bater o queixo e arrancar os cabelos do peito. Nessas horas lamento tudo de que desisti, as coisas para as quais eu disse não. Ah, me arrependo, mas para algumas coisas não há volta possível.

Depois do almoço fomos passear na livraria. Não posso entrar em livrarias porque tenho compulsão por livros, tenho que me vigiar para não comprar alguma coisa. Achei um livro que não conhecia da Patrícia Highsmith. É ambientado no México. Fiquei curioso, mas não comprei. Escondi atrás de um best-seller do Scott Turow. Depois encontrei uma nova edição de Com o Diabo no Corpo, o famoso livro que Raymnond Radiguet começou a escrever com 16 anos. Tive que me segurar. Mas seria pura gula. O bom é ler esse livro com a mesma idade de Radiguet. Escondi atrás de uma continuação de "O Poderoso Chefão". Eu nem sabia que existia.

Consegui. Eu pensei. Consegui. Vou sair da livraria sem comprar nada. Nada. E a galera grita, é, cam-pe-ão, é, cam-pe-ão.

Ah. Poxa. Só um livrinho, vai. Um pequeno. Papel jornal. Bem chinfrim. Não custa quase nada. É mais barato que o macarrão do almoço.

Tá bom. Tudo bem. Mas é a última vez.

A felicidade é um livro de bolso. The Godfather - Mário Puzo.

2 comentários:

Emerson Cardoso disse...

muito bom... muito original.. parabens!

Careca disse...

Emerson, é isso aí. Abç,

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