quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Recibo de propina não vale

Vamos ver se eu entendi.

O Sujeito é diretor da agência que libera os alvarás de funcionamento de laboratórios.

Um dia esse Sujeito recebe um depósito de cinco mil reais de um Fulano, funcionário de laboratório, que era seu Amigão.

Por coincidência, naquele mesmo dia, o alvará é assinado e liberado.

O Fulano depositou a grana em 2008 e, por gostar loucamente de colecionar recibos de depósitos, guardou aquele com carinho.

Fulano e Sujeito eram super-amigos, assim ó, de um pedir emprestado para o outro sem papel nem nada. Podia ser cinco ou cinquenta mil. Não fazia diferença. Mas Brasília é uma cidade fria, e cada um foi cuidar da sua vida.

Um dia desses, Fulano estava olhando a sua coleção de recibos de depósitos bancários quando viu aquele, de 2008, quando seu ex-amigo ainda era diretor de assinar alvará.

Um súbito acesso de memória o fez se lembrar de que os cinco mil eram propina, bola, ganja, jabá, bufunfa, ou mônei não contabilizado, cash direto para o Sujeito. E também que além dos cinco mil, pagou outros 45 mil para que o tal alvará fosse assinado, rubricado, selado e publicado.

Por causa do recibo, o Sujeito não tem como negar que recebeu o dinheiro.

Então, o Sujeito que recebeu o depósito de cinco mil confirma que recebeu mesmo aquela grana, mas que era apenas a quitação de uma dívida dos tempos em que o Fulano era seu Amigão.

O Fulano, que era um Amigão mas hoje não é mais, diz em seguida que foi procurado por parlamentares obtusos que lhe ofereceram rios de dinheiro para contar aquela história.

O Sujeito solta foguetes e faz um mega-festão numa churrascaria e diz que tudo não passa de uma armação da oposiçãozinha.

-.-

Pois é, a criatividade dos achacados é impressionante, mas nem mesmo recibo de propina é aceito como evidência pela Câmara do Detrito Federal.

Nossos dirigentes são incomparáveis. Um deles quer que a felicidade seja um direito constitucional. Tem fama de gostar de educação, mas sob sua gestão as escolas ficaram 169 dias paradas num único ano letivo. Um outro caiu por causa de uma bezerra que valia o peso em ouro, desde que financiado pelo banco estatal. Um terceiro chegou a ser preso e perdeu o mandato depois de ter sido filmado pegando um pacotão de dinheiro de propina.

O atual por enquanto nega tudo. Só admite que é mão aberta e empresta dinheiro às pencas para os amigos, sem papel, sem documento, por favor, é tudo no fio da barba e do bigode. Do jeito que está, se aparecer um filme dele recebendo sacolas de dinheiro numa garagem, não há motivo para alarme. Será algum outro amigão quitando uma dívida, é claro.

Nenhum comentário:

Frase do dia