O espetáculo do fica ou não fica do Doutor Palóssite é super-divertido. É extraordinário que ele não demonstre um pingo de amor próprio e insista em permanecer. Tivesse um mínimo de pudor, não teria assumido o posto. Mas essa gente é de outra estirpe, só larga o osso a chibatadas.
Por mim, espero que continue a proporcionar esse espetáculo desolador. Durante a entrevista em que tremeu e gaguejou como se fosse flácido, Palóchio desconstruiu o próprio mito. Revelou-se um regurgitador de frases feitas. Foi como assistir ao rabo abanando o cachorro. A parte em que fala em boa fé deveria virar tema de samba-enredo no próximo carnaval.
A melhor parte dessa triste pantomina vem sendo proporcionada pelos artigos sensacionais de Augusto Nunes, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo, Lúcia Hipólito e, no último domingo, pelo insuperável João Ubaldo Ribeiro, em "O Globo". Craque da palavra, Ubaldo destrinchou a crise "Palófice" com uma crônica irônica e inteligente.
Com a decisão do procurador (a ser reconduzido ao cargo) de arquivar o assunto Palhoci, esta semana promete mais alguns dias de sangria lenta do ser que não trafica influenza. O ministro que frequentava uma casa de encontros noturnos e foi reconhecido por um modesto e honesto caseiro parece querer continuar a fazer daquela outra casa, a sua casa. Diga-se de passagem, a sua casa é alugada de uma ex-imobiliária que hoje vende colchões. A gerente da ex-imobiliária não sabe que a ex-empresa era a dona do contrato com o ex-ministro que virou ministro de novo. Esse não sabimento é compreensível porque Palhoffi é um ser em permanente transformação. Passou de ex-ministro a deputado que prestava serviços de consultoria, virou coordenador de campanha e ex-dono de empresa, e depois se tornou coordenador da equipe de transição, mas extra-oficialmente. Não se sabe com qual persona ele assinou o contrato com a ex-imobiliária. Também não se sabe se o aluguel está em dia, ou se a ex-imobiliária está na lista de clientes sigilosos do ser que, por decisão do Supremo, não violou o sigilo do caseiro.
Aliás, Palióci é a negativa em carne, osso e alguma gordura. Ele não traficou influência. Ele não consegue pronunciar ninho mafagafos cheio de mafagafinhos. Ele não enriqueceu ilicitamente. Ele não diz para quem trabalhou. Ele não revela o que consultou. Ele não se arrepende. Ele não comunicou os superiores sobre suas consultorias.
Daquela outra vez ele também estava cheio de negativas. Ele não frequentava a casa. Ele jamais ouvira falar em Mary Jane Corner. Ele não tinha encontro de negócios noturnos, ou melhor, encontros noturnos de negócios. Ele não mandou violar o sigilo do caseiro. Ele não achava que seria demitido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário