segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A estudante do vestido vermelho

Virou comoção a história da moça do micro-vestido vermelho-rosa. Também achei preconceito, expulsar a estudante por causa de mini-saia, decote e breguice. Acho que mau gosto não se discute, um mínimo de tolerância todo mundo deve ter. Até mesmo com as cores. Afinal de contas, é preciso reconhecer, a moça teve muita coragem para, acima do peso dessas difíceis decisões, usar cores berrantes para assistir aula.

Também achei uma hipocrisia grande daquela moçada vaiando. Aposto que na hora da onça beber água, de levantar e sentar, ou cruzar a perna, muitos dos que vaiaram procuraram um jeito de brechar a moçoila. Tanto os homens que gostam de fartura, quanto das mulheres que também invejam a opulência alheia, tanto em cima quanto na linha da cintura.

Para as pessoas que acham um exagero o assunto virar notícia nacional e internacional, recomendaria o esforço de tentar se colocar, nem que fosse por um minuto, naquele tubinho vermelho-rosa. Não é fácil. O preconceito é uma dieta difícil de se fazer, como teria dito Bussunda. É preciso firmeza, como teria dito Parkinson. É preciso abrir os olhos para ver, como teriam dito Borges e R. Charles. É preciso... preciso... o quê mesmo? teria dito Alzheimer.

Concordo com todos os sábios, inclusive o Paulo Bono, que também já falou sobre o preconceito. Tenho pouco ou nada a acrescentar. Eu só acho importante repetir, mais uma vez, o bom e velho clichê: nem tanto ao mar, nem tanto à saia.

Já lemos esse conto no Guy de Maupassant, em Bolinha de Sebo, já ouvimos essa música com a Geni, do Chico, já vimos centenas de vezes no cinema e na TV. E não cansamos de ver nos programas de auditório, onde o ridículo começa pelo apresentador e se espraia pela platéia, numa catarse coletiva de risos e exaltações para o que é extraordinário e também para o que é ordinário. Isso vale para o que nos deslumbra, o que nos encanta, o que nos ultraja e também o que nos causa horror. Essas cerimônias nos embevecem.

E nós gostamos, sobretudo, de escarnecer, é humano. Não é politicamente correto. E também gostamos da piedade com os escarnecidos. Coitado do escarnecido, que precisa fugir com escolta policial. Coitada da moça de mini-vestido vermelho-rosa, que foi esculachada, esculhambada, vaiada e expulsa da faculdade. Que botou a boca no trombone, recolocou o micro-vestido e falou para a TV. Coitada. Virou motivo de manifestação. De carro de som, de alto-falante. Coitada da moça, que foi, por fim, rematriculada.

Eu queria ver mais comoções assim. Mais carros de som assim. Queria mais dessas legítimas manifestações contra o que nos deixa indignados. Queria que elas não se limitassem à defesa do micro-vestido pinky-choque-protuberante. Queria que fosse além do apoio a quem descolore os cabelos, aos que precisam de cuidados alimentares. Mas nada de palavras de ordem. Nada de punhos fechados. Queria um pink-choque-maneiro de defesa da cidadania, cheio de gente bem-humorada. E com boa-vontade. Eu sei que eu quero demais.

4 comentários:

franka disse...

daqui a pouco ela aparece nua na playboy.

Paulo Bono disse...

perfeito, Careca.

Careca disse...

Franka, se depender de moi, encalhará horrores. Mas ouvi dizer que pretendem lançar uma edição especial só com blogueiras...

Careca disse...

Bono, longe disso, mas obrigado.

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