terça-feira, 15 de setembro de 2009

Uma porção de bolinhas

Desenhar jabuticabas é muito difícil. Estou fazendo uma porção. Tento fazer algum tipo de realce, algo diferente. Mas por mais que me esforce são apenas bolinhas pretas desenhadas numa linha torta, nem fica parecendo um galho. Digo para mim mesmo que são jabuticabas. Tento colocar um roxo bem escuro, para ver se melhora. Não adianta. São apenas bolinhas pretas, não parecem nada com jabuticabas. Aí tento desenhar todas numa vasilha. Fica parecendo um monte de bolinhas pretas numa vasilha. É um beco aparentemente sem saída.

Aí reduzo a velocidade. Capricho na forma arrendondada. As jabuticabas fazem um biquinho, bem pequeno. Brilham muito, parecem enceradas e ao mesmo tempo aveludadas. Às vezes, pequenas manchas aparecem na casca. Às vezes, um minúsculo sinal na casca é sinal de que uma vespa está alojada lá dentro, traiçoeira. Nos livros do Monteiro Lobato, sempre tem um menino do sítio que leva uma picada. Eu mesmo levei uma picada de vespa, mas tive sorte, não foi na língua. Lembro de comer muitas jabuticabas num pé que havia na casa de uma tia, minha madrinha. Uma vez fomos numa fazenda, com muitos e muitos pés de jabuticaba. Foi lá que vi, pela primeira vez, um camaleão. Jabuticaba tem gosto de infância.

E talvez por causa das lembranças que me envolvem, eu fico satisfeito com o desenho que fiz. É uma porção de jabuticabas, unidas num ramo, com poucas folhas à vista. As manchas nas cascas, as diferenças de tons de cinza nos ramos e no galho, me deixam satisfeito.

Aí minha filha vem sentar ao meu lado.

_Pai, eu também gosto de desenhar bolinhas. Mas eu prefiro as coloridas.

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