sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Super-heróis a caminho da escola

Você se acostuma a acordar cedo bem rápido. Num instante você está tão ansioso quanto eles para entrar no carro e ir para a escola. Em geral, escutamos rock´n roll ou Marisa Monte. Música velha. Nunca lembro de descer com um CD para tocar no carro. Aliás, CD já é coisa de velho. Hoje em dia os carros todos têm DVD player com entrada USB. Tela removível. Toca MP3, MP4, sei lá mais o quê. O meu ainda é um CD Player-Toca-fitas com disqueteira no bagageiro, um estilo muito convencional em 1998.
É uma antiguidade. E o toca-fitas parou de funcionar em 2000, nunca entendi o motivo. Uma vez eu quis tentar fazer uma gambiarra, adaptar um MP3. Quando falei nisso com o cara da instalação de som ele começou a rir. Aí eu desisti. Aprendi com o John Travolta, em Pulp Fiction, que a melhor forma de ser démodé é em francês: tenho uma “antique”, uma “vintage” no meu carro.

Mas hoje, como estamos um pouco enjoados dos discos que ficam na disqueteira, vamos conversando o caminho inteiro. E dentro do carro, o diálogo segue uma lógica própria. Às vezes entram respostas para perguntas que foram feitas na semana anterior e que tinham ficado sem resposta. Outras vezes entram perguntas sobre coisas que eu deveria estar sabendo, mas que eles só conversaram com a minha mulher. E para complicar ainda mais, quase sempre há uma mudança abrupta de assunto. É preciso estar atento e forte.

_Pai, vamos continuar a brincadeira de inventar super-herói? – pergunta a minha filha, que vai fazer cinco anos em breve. Ela quase sempre pergunta primeiro. Minha filha não gosta de ficar em segundo plano e por isso tenta iniciar os diálogos dentro do carro. De algum modo ela sacou que a conversa é conduzida por quem puxa o assunto.

_Claro! Senhoras e senhores, respeitável público, aí vem a super... supeeerr.... supeerrr..... qual é o nome da super, filhota? – eu pergunto, fazendo voz de locutor de rádio e dono de circo.

_Super-Rosa! – e brilham os seu lindos olhos no espelho retrovisor.

_Mas é claro! Super-Rosa, a heroína de todos os fracos e oprimidos está na área e quem derrubar é pênalti! Ela tem o superpoder da rosa ... ela tem o superpoder da rosa.... como é o superpoder da Rosa, filhota?

_É um raio cor-de-rosa que faz todo mundo ficar gostando de todo mundo, até os maus. E aí todo mundo fica do bem – ela me explica, com paciência.

_Uau! Esse raio é super, mesmo!

_Agora eu, agora eu! Eu queria ser o Super-Kraken.

_Senhoras e senhores, aí vem o Suuuuuper-Kraken! Ele é grande, ele é do bem, ele parece um polvo gigantesco. Ele ééééééé o Suuuper-Kraken! E o que ele faz, filho?

_Ele pega os que são do mal e arranca as cabeças.

_Caramba! Esse Super-Kraken é mesmo do bem? Ele não dá nenhuma chance para os do mal? Afinal, de cabeça arrancada ninguém pode ficar do bem.

_Não, paiê, quem está inventando sou eu. E o Super-Kraken vai arrancar as cabeças e pronto.

_Pôxa, mas e se ele errar e arrancar uma cabeça de quem é do bem por engano? Aí o Super-Kraken terá feito mal não é mesmo? E quem é Super deve fazer o bem, ainda mais sendo super e coisa e tal.

Ele pensou por alguns segundos.

_Tá bom, ele acerta uns super-cascudos em todo mundo. Quem for do bem não morre.

_Suuuuuper-Kraken!

Frase do dia