Fiquei sabendo que o terrorista do Lockerbie (270 mortos) voltou para casa e foi recebido por uma multidão como se fosse herói. Teremos regras novas para a exploração do petróleo anunciadas em breve. Um senador mostrou um cartão vermelho para outro. O dólar caiu. O número de desempregados tende a diminuir, de acordo com as estatísticas oficiais. Meu blog vai completar dois anos, muito em breve. Não consigo fazer um desenho decente há uma semana. Só agora me dei conta da infinidade de arquivos preciosos que perdi com o crash do computador, na semana passada. Estou no meio de uma crise de criatividade. Há mais uma crise, dentro da crise, que dá a volta por dentro da velha crise.
Mas nada disso importa, porque agora estou na casa da minha cunhada, observando um sobrinho e os meus dois filhos na mesa de jantar. Meu sobrinho tem nove anos e come com voracidade. Todos os pratos são absolutamente idênticos: arroz, batata palha, feijão, salsicha de cachorro quente e molho de tomate.
_Vamos comer, criançada. Vocês é que escolheram a comida. Agora tratem de comer.
Meus filhos não acompanharam a voracidade do primo, idealizador do cardápio.
_Sabe Paiê, eu não estou com muita fome – diz a minha filha, com uma voz de chorinho.
_Acho bom comer, porque senão eu vou ter que fazer jantar para vocês dois lá em casa. E ninguém vai dormir sem jantar.
Meu filho imediatamente começou a comer, metodicamente. Minha princesa ainda insistiu.
_Paiê, eu realmente não estou com fome – ela disse, séria.
_Então vamos “realmente” embora, para que eu possa fazer o jantar lá em casa. Teremos macarrão grudento, pão com feijão gelado e cebola frita. Tomara que vocês gostem. A última vez que comi isso fiquei com dor de barriga quase duas semanas.
Meu filho acelerou as garfadas. Minha menina olhou o prato com outros olhos e também começou a comer, rapidamente. Num instante todos terminaram o jantar. Eles se despediram do primo e fomos para casa.
_Paiê, você vai mesmo fazer o seu jantar? – perguntou a minha menina, logo que chegamos.
_Só um macarrão grudento, filha – eu respondi.
_Ugh – ela emendou, com uma careta.
Mas nem fiz nada. Tratamos de trocar de roupa e ficamos todos de pijama. Foi sensacional descobrir que o meu filho já consegue ler um livro inteiro. O livro sobre os bombeiros deve ter umas dez frases, no máximo, mas ele leu tudo, sem erros e num ritmo excelente.
Depois que eles dormiram, eu os carreguei para a cama, um de cada vez. Eles estão ficando pesados e grandes. Daqui a pouco não dou conta mais. Encontrei comida na geladeira e liguei a TV. Minha criatividade evaporou. Em algum lugar do planeta, um terrorista voltou para casa. O desemprego aumentou. Um político xingou a mãe do outro, a crise acelerou....
2 comentários:
Já sei. Reune essas crônicas sobre pai e filhos. e tenta publicar. são muito boas, carecone.
abraço
Bono, vou tentar. Abç,
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