_Paiê - chama uma voz bem baixinho, parecida com a voz da minha princesa.
Estou deitado. Ainda está escuro lá fora e é domingo. E está fazendo um friozinho gostoso. Eu imagino que o travesseiro está me chamando.
_Careca, fica no quentinho - diz o travesseiro, no meu sonho/imaginação.
_Paiê! - chama a minha princesa, mais alto desta vez.
_Hoje é domingo, domingo - sussurra o meu travesseiro.
Domingo! E eu saio da cama com cuidado, para não acordar muito a minha mulher. Ela acorda de qualquer jeito, mas a gente finge que um não acorda o outro quando acorda, e assim é possível voltar a dormir mais um pouco. No sábado, é a minha mulher que levanta para ficar com as crianças. Eu fico dormindo até as nove. No domingo, é a minha vez de levantar. As crianças já sabem a rotina e a quem chamar no dia certo.
_Bon jour, minha petite pricesse - eu digo. Ainda está escuro lá fora, é melhor esperar um pouco.
E esperamos abraçados mais ou menos uns trinta e dois segundos. Daí carregamos o cobertor, a princesa e o travesseiro para a sala. No domingo passa uns desenhos legais na TV. Daí a pouco, o irmão chega para fazer companhia e criticar os desenhos. Ele agora critica os desenhos animados.
_Não teve graça!- ele diz, depois que um elefante cor-de-rosa de massinha caiu sentado sobre um pato.
_Eu achei engraçado! - diz a minha menina. Depois que ele assumiu o papel de crítico, ela também começou a dar palpites anti-críticos. É uma espécie de versão mirim de "good cop, bad cop" com desenhos animados.
Como a conversa está muito profunda, aproveito a deixa para ir fazer alguma coisa para que todos nós possamos comer. Em geral, faço café. Mas desde que a minha antiga cafeteira desistir de trabalhar aqui em casa, não faço mais café. Só leite. No domingo, ninguém quer mexer com louça, vamos tomar um café da manhã perto de casa, numa padaria. Mas as crianças acordam com fome, não dá para esperar muito. Faço leite com morango para a menina e leite com chocolate para o menino. Frutas para os dois. Eles nunca comem, mas não custa nada insistir. Encontrei gelatina na geladeira, obra deles e da minha mulher, ontem à noite. Também fiz duas torradas com bastante manteiga, meu menino adora.
Às vezes eu olho para cima e agradeço muito pelas manhãs de domingo, bem cedo.
Um comentário:
careca, você sofre do mesmo mal do zé: nostalgia do presente.
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