Nenhum homem é uma ilha. Isso é fato conhecido desde antes de Robinson Crusoé ter sido inventado por Daniel Defoe. Mesmo na ficção, o náufrago ficou um bom tempo sozinho numa ilha do Atlântico, mas depois encontrou Sexta-feira, um índio que se torna seu amigo depois de ter sido salvo dos canibais a tiros de bacamarte. Quando li o livro, ainda menino, eu imaginava que Sexta-feira também fosse canibal. Naquele tempo eu acreditava, como todo mundo, que a gratidão vence qualquer costume primitivo. Além disso, havia o bacamarte.
Uma vez vi uma versão de Robinson Crusoe em que o verdadeiro herói é Sexta-Feira. Era um musical. Foi chato pacas, não lembro de quase nada. Depois li em algum lugar que Defoe se baseou numa história verídica de um marinheiro inglês que, depois de liderar um motim, desembarcou de um navio e viveu sozinho numa ilha do Pacífico, em águas do Chile. O marinheiro esperava que outros amotinados o seguissem, mas ninguém topou a empreitada. O sujeito viveu mais de 4 anos em solidão na ilha. Não havia nenhum dia da semana com ele. Só algumas cabras. Um dia foi resgatado e voltou a viver na Inglaterra.
Outra vez vi uma versão da história em que o náufrago era o Tom Hanks. Acho que tiveram problemas com o orçamento e não tinha nenhum índio, só uma bola de basquete. Numa das melhores cenas, Hanks faz um lance de três pontos ao perder a bola para um tubarão. A bola era tão expressiva que concorreu ao Oscar de melhor coadjuvante naquele ano.
Tudo isso é para dizer que, assim como os homens, nenhuma cozinha é uma ilha. Veja o Cabeça, por exemplo. Ele agora tem uma no apartamento dele. É grande, bonita e deixaria Robinson Crusoe de queixo caído. Eu fiquei, embora fosse Sábado. Acho que até mesmo Tom Hanks , o quase náufrago espacial de Apolo 13, o náufrago mental de Forrest Gump, e o corajoso navegador seqüestrado de Capitão Philips gostaria daquela ilha.
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