quinta-feira, 6 de março de 2014

A arma Zeta 06 de março

_Montinhos de roupas? Que ridículo – disse Manoela.

_Também acho, mas não sou eu que estou disparando essa coisa. É você. Se dependesse de mim, eu desintegrava tudo – eu disse.

_Eu não estou disparando nada. Isso é tudo coisa da sua cabeça, Toni.

_ Toni? Você vivia me chamando de Sam. Agora é Toni?

_É tão bom quanto Manú. E você sempre me chama de Manú – ela disse.

_Tudo bem, Manú. Se as pessoas não estão desaparecendo, se você não tem nada a ver com a morte do meu primo Vini, pode me explicar o que está fazendo aqui, no cemitério?

_Eu poderia mentir sobre isso, Toni.

_Eu sei, Manu. Você faz isso o tempo todo. Mas você também poderia dizer a verdade.

_Tudo bem. Vou dizer a verdade. Por onde você quer que eu comece?

_Pela arma Zeta.

_Por isso aqui? É só um pedaço de lixo, já te disse muitas vezes. Tome, é inofensivo – disse Manoela, estendendo a arma Zeta para mim. Eu a agarrei imediatamente.

_ Esta é a arma de todas as armas, você mesmo me disse. E também já me contou uma história louca, do seu trisavô, índios, traições e nazistas.

_ Eu menti daquela vez. Uma única vez. Era carnaval. Você estava muito louco. Eu também. Foi uma brincadeira. Sua imaginação fez o resto. Mas desde então vivo repetindo a verdade. Não existe arma Zeta. Isso é só um enfeite de mesa. Mas você sempre prefere a mentira. Eu digo que é um brinquedo velho, você diz que é um artefato bélico. É uma questão de caráter.

_Você se feriu, sua mãe ficou louca, Caleb a usou ...

_Caleb é meu pai! Ele jamais nos machucaria. Foi você que pirou e passou mal, Toni. A história da arma Zeta de algum modo fez você entrar em curto-circuito. Cuidamos de você até que seus pais chegaram de viagem. Mas depois você se tornou um chato, não saía lá de casa...

_ E por quê você deixou esta chave para mim? – eu disse, segurando a chave no colar e apontando a arma Zeta para Manoela.

Com os olhos arregalados, Manoela emudeceu.

_Eu não deixei nada para você. Por favor, me devolva o brinquedo – ela disse.

_Então foi Brigite, não importa. Eu demorei a entender, Manu, que a arma de todas as armas deveria ter um gatilho especial. E o que seria mais especial do que um gatilho externo que não se parecesse com um gatilho? Bacana, não é? Mas foi só o início. Depois eu remoí a memória e descobri que você me deu uma dica e tanto quando disse que só você poderia disparar a sua arma Zeta. Você também disse que existem várias armas Zeta em circulação. Eu não sou muito inteligente, mas ficou óbvio que para cada uma das armas haveria também um único e exclusivo gatilho. Uma chave, um anel, um colar, um brinco, um pingente... Coisas que uma exímia artesã poderia fazer em casa.

_É tarde demais, Toni.

E sem que ela me dissesse eu sabia que Caleb estava às minhas custas.

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