sexta-feira, 5 de julho de 2013

A embalagem enganosa 2



Black crowes - Feelin' alright

_Não havia sensor - eu disse.

_Espere aqui. Não se mexa. Vou lhe mostrar o sensor-temporizador! - disse o vendedor.

Nessa altura do campeonato, já havia ajuntamento e torcida. Outros fregueses e vendedores se aproximavam para ver o que estava acontecendo. Um engraçadinho começou a fingir que agenciava apostas.

_Aposto cem pratas no careca! - disse o sujeito.

Eu realmente só queria ir embora, mas as pessoas simplesmente não me deixavam passar. Quando pensei ter conseguido encontrar uma brecha entre dois apostadores, o vendedor voltou.

_Aqui. Olha aqui. É um sensor-temporizador, conforme eu havia dito - ele disse, abrindo a embalagem e exibindo a engenhoca.

_Mostra pro Osvaldo - eu disse, e apontei para trás.

Saí correndo quando todos se viraram. Nem olhei para trás. Acho que nunca mais voltarei para a loja de bricabraques. É uma pena, porque é a loja mais próxima de casa, eu nem precisava de automóvel para ir até lá. De qualquer modo, já que eu estava de carro e continuava sem um temporizador, resolvi ir até uma loja mais distante para procurar um novo equipamento. Essa outra loja é enorme, no sentido maioral da palavra. É uma gigantesca empresa multinacional, de modo que eu não teria problemas para me livrar de vendedores. Na verdade, é bem o contrário. É mais fácil encontrar uma pessoa que lhe deve dinheiro do que um vendedor nesse lugar. Não que os vendedores não existam. Eles existem aos montes, mas ficam em grupos espalhados pelos cantos, não ligam para quem veio fazer compras. São profissionais altamente treinados e capacitados, sabem avaliar um cliente com uma breve olhadela de alto a baixo no interessado. Se um deles olhasse na minha direção, talvez me enquadrasse no perfil de cliente insignificante, alguém que não vale a pena deixar de conversar sobre futebol ou novela para atender. Portanto, fui até a prateleira de sensores fotoelétricos e escolhi o modelo mais barato. Custava vinte pratas. Levei a engenhoca até o caixa, paguei a crédito e me retirei rapidamente. A operação toda não durou mais do que cinco minutos.

De volta a casa, demorei apenas um minuto para encaixar o novo sensor fotoelétrico sobre a base existente. Assim que o fiz, me lembrei que o jardineiro havia feito um pequeno comentário sobre o rompimento de fios elétricos naquela parte do jardim, coisa de seis meses antes, exatamente no mesmo período em que o sensor fotoelétrico deixou de funcionar e eu presumi que estivesse queimado.

_Cortei uns fiozinhos que saíam de um conduíte, espero que não se importe - dissera o jardineiro.

Eu me importei, é claro. Mas acabei me esquecendo. Não faz mal. Depois de tudo consertado, terei um sensor fotoelétrico de reserva.

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