sábado, 1 de junho de 2013

Pontapés no Facebook



Hitchcock Demonstrates Montage

Esta lição de montagem aprendi há muito tempo, lendo um livro numa biblioteca. Uma porção das melhores lições que tive, tive sozinho. Sempre achei que é assim que se aprende, pensando com a própria cabeça. Professor e método são importantes, é claro, porque são essenciais para as indicações do mapa, para o pontapé gentil no seu traseiro para que deixe de ser vagabundo e volte para o caminho táctil e tortuoso, quase sempre difícil, da autodescoberta. Hoje, como ontem, com maior ou menor facilidade, temos acesso a milhares de informações que nos atingem de todos os lados. Entretanto, informação não é conhecimento. Separar joio do trigo requer muita atenção e discernimento. Deveria ter pontapé no Facebook.

Mas talvez seja interessante olhar o vídeo acima também como uma espécie de mapa da mina para ver o próprio Hitchcock. Ele sempre esteve preocupado com a ambiguidade. Em Pacto Sinistro, O Homem Errado, Um Corpo Que Cai, Psicose e Intriga Internacional há sempre alguém que finge ser o que não é, uma pessoa que guarda um segredo sinistro, um duplo. Hitchcock é vaidoso, ou não apareceria pelo menos em uma única cena em todos os seus filmes. E ele exemplifica a sua idéia central de montagem usando a si mesmo como personagem. Coisa que Kulechov desdenharia. Talvez Hitch esteja brincando com os biógrafos: ele é mesmo o velho devasso ou o velho simpático? A resposta é simples: no cinema, Hitchcock é o que a montagem sugere que seja.

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