segunda-feira, 24 de junho de 2013
No domingo, fui ao enterro 2
Young the Giant - My Body
Descobri um banco desocupado e esperei. Pessoas de todas as idades também esperavam do lado de fora, havia uma sombra agradável e a ventania era contida pelos grandes eucaliptos próximos. Ninguém conversava sobre as manifestações de rua das últimas semanas, que haviam sacudido as grandes e médias cidades do país. O assunto também não era a Copa. As pessoas conversavam apenas sobre a trivialidade de suas vidas, os assuntos pequenos das existências humildes. Quem morreu, quem está doente, as mulheres que engravidaram, fulano que foi assaltado, beltrano que foi preso, o medo dos filhos se envolverem com drogas e marginais, o sofrimento nas filas dos hospitais, como estão se virando para pagar as contas, como fulano fez para se dar bem. Meus primos chegaram da cidade do interior direto para o enterro. Fazem parte da ala de gigantes da família, o mais baixo tem 1,94 m, o que tornou muito fácil distingui-los no meio da multidão num cemitério. As moças com as roupas inadequadas se aproximaram, as esposas dos primos estavam atentas. Outra garrafa de coca-cola apareceu numa sacola plástica, talvez fosse a mesma que já vira antes. No velório, as orações tradicionais começaram, os cantos tristes que sempre são ouvidos nos enterros se repetiram. Desde que me entendo por gente é desse jeito. Os parentes perguntaram sobre outros parentes, as noticias familiares, uma resignação nos olhos e nos gestos. Depois, novamente tristeza, as pessoas homenagearam a falecida com declarações breves e muito emocionadas. Em seguida, os primos se aproximam, em busca de notícias mais detalhadas sobre os parentes. Há uma enorme curiosidade sobre a vida na capital, o que andamos fazendo? Leio nos olhos deles as perguntas importantes que não são feitas: será que estão perdendo realmente alguma coisa? A vida pacata que levam é melhor ou pior do que a minha? Dou a entender que não é melhor nem pior, estamos todos no mesmo barco. Aqui ou no interior do Tocantins, no centro das grandes cidades ou na periferia dos pequenos vilarejos estamos à mercê da nossa própria sorte, sob o olhar indiferente de quem tem alguma migalha de poder. Ou talvez seja de desprezo, esse olhar. Eles me examinam de alto a baixo, minha calça jeans com pequenas manchas de tinta verde na altura do joelho, a camisa branca puída nos punhos e no colarinho, os tênis encardidos e cobertos de poeira. Não sou exemplo de sucesso, tenho uma vida tão monótona quanto a deles e a de todos os outros que nos cercam. E nem toda essa comunhão de infortúnios nos irmana. Minha mãe me convida para ir embora, ainda faltam algumas horas para o enterro, mas estamos cansados. As despedidas dos primos são arrastadas. São feitas promessas de encontros em ocasiões mais festivas, praticamente só nos encontramos em enterros. Desejamos boa sorte uns aos outros. É sincero, tudo isso, mas sabemos que não será assim. Quando vou buscar o carro, eu observo com mais atenção a estreita rua do cemitério. Existem grandes cupinzeiros, mato e grama alta, cavalos pastam e galinhas aparecem aqui e ali. Há uma grande cruz de concreto armado no fim da rua, que se bifurca para formar uma elipse. Já no carro, faço a elipse e me dirijo para a saída. Pensando bem, não há muito o que aprender no desalento. No retorno para Brasília, escutei o rádio para ter certeza de que não haveria nenhuma manifestação popular no trajeto.
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