quarta-feira, 26 de junho de 2013

Conectado



The Specials - Nelson Mandela

R.I.P. Nelson Mandela

Vivemos um tempo onde é possível ficar conectado o tempo todo, sem grandes custos. Há quem acredite que este é o alvorecer de uma nova era, que estamos muito perto de realizar maravilhas, desde que estejamos com o coração preparado para surfar na rede de forma adequada e aproveitar todas as potencialidades. É uma maneira de ver as coisas. Recuando no tempo, esse devia ser o espírito dos marinheiros na época do descobrimento, embora se saiba que a maioria era engajada a força e os motins só eram contidos à custa de muitas chibatadas. As oportunidades e as possibilidades são mesmo fantásticas e as pessoas que têm a capacidade de sonhar esse sonho podem e devem fazê-lo. Cada um faz mesmo o que pode. Eu reconheço que sou propenso a ter baixas expectativas em relação a tudo, então me reservo o direito de exercitar um pouco do meu pessimismo.

O grande problema de estar sempre conectado é também a grande vantagem de estar sempre conectado. Alguém sempre poderá estar em contato com você e vice-versa. O que acontece comigo é que muitas vezes não estou com muita vontade de estar conectado. Então eu simplesmente saio da frente do computador e vou fazer outra coisa. Por me considerar um sujeito comum e bem capaz de ser confundido com qualquer mané que anda por aí, também acredito que o que acontece comigo pode acontecer com qualquer um. Ou seja, que a maioria de nós, manés, às vezes fica de s. cheio de estar algumas horas na frente do computador. As duas últimas semanas, por exemplo, me exauriram. Sim, foi fantástico acompanhar remotamente e em tempo real as dezenas de manifestações que aconteceram nas cidades brasileiras. Do Oiapoque ao Chuí, todo mundo deu um jeito de pegar um pincel atômico e sair para as ruas, reclamando e expressando pacificamente o seu protesto contra o que está errado no país. Eu também fiz isso, pode acreditar. Eu fui para as ruas de Brasília com um cartaz para protestar contra o fim da nota de um real. Na verdade, minha idéia inicial era protestar contra o fim da moeda de vinte centavos, mas tive receio de não ser bem compreendido. Muita gente estava dizendo o tempo todo que não era só por vinte centavos, então fiquei com vergonha de dizer que não, para mim era mesmo por vinte centavos. Então resolvi aumentar o cacife e lutar pela volta da nota de um real. Peguei pincel atômico e uma cartolina, desenhei uma nota de um real e escrevi embaixo:

_Pela volta da nota de um real!!

Ao chegar na Esplanada dos Ministérios percebi rapidamente que aquela não era a minha praia. Pra começar, o meu celular é peba e não chega nem perto do modelo básico das pessoas na multidão. Além disso, minha careca chamava mais atenção do que o meu cartaz.

_E aí, Véi, que protesto é esse? - perguntou um skinhead assim que me aproximei do espelho dágua do Congresso.

_Quero a volta das notas de um, ué - eu disse.

_E pra quê?

_Detesto carregar moedas - eu disse.

Pensei que ele fosse jogar água em mim, ou coisa pior, mas preferiu jogar uma bola num policial. Pois é, havia dezenas de bolas de futebol em frente ao Congresso, não me pergunte o motivo. Dito isto, fiz o que todo manifestante pacífico faz: fiquei andando de um lado para outro com o meu cartaz para encontrar a minha turma, torcendo para não ser assaltado. O problema é que o meu celular peba estava sem bateria, eu não encontraria ninguém na multidão nem se usasse um detector de conhecidos. Sou de outra geração. Logo depois começou um tumulto, bombas de gás, spray de pimenta e eu resolvi encerrar a minha carreira de manifestante. Procure por mim nas fotos das multidões. Eu estava lá. Meninos, eu vi. Meu próximo cartaz será contra aquele uniforme vermelho do goleiro Júlio César.

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