terça-feira, 18 de junho de 2013

Educação Moral e Cívica



Jorge Ben - Brother

Ontem, eu e a minha mulher ficamos assistindo as manifestações e protestos na televisão. As crianças ficaram curiosas e se sentaram com a gente. Daí a pouco começaram as perguntas.

_Pai, o que essa gente está fazendo?

_As multidões estão protestando, filho. Elas estão contra o aumento da passagem de ônibus em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, além de outras cidades. Aqui em Brasília, por exemplo, a multidão protesta porque está apoiando os protestos contra o preço das passagens de outras cidades - eu disse.

_Explica direito. Não é só isso. As pessoas estão insatisfeitas com os gastos feitos em estádios de futebol e com a situação ruim dos hospitais, das escolas e com a falta de segurança pública. Elas estão contra tudo o que está errado no país - disse a minha mulher.

_Eu ia chegar lá. O problema é que é muita coisa errada, falta até fôlego. Numa democracia, as pessoas têm o direito de se manifestar pacificamente, ou seja, sem quebra-quebra, sem vandalismo, sem botar fogo em nada, respeitando o direito de ir e vir das outras pessoas - eu disse.

_Ou seja, se as pessoas se comportarem bem, elas podem se manifestar - disse a minha filha.

_É, pode-se dizer que sim - eu disse. E imediatamente começou a soar aquela campainha de alarme interno, que todo mundo tem.

_Quer dizer que se eu me comportar bem, eu posso protestar - disse o meu filho.

Minha campainha interna dobrou de volume. Quando meu filho repete uma frase da irmã é sinal de que ele percebeu uma daquelas fissuras que podem provocar um abalo sísmico no planeta.

_Também é preciso um bom motivo. Ninguém fica protestando por qualquer coisa. As pessoas protestam quando não estão aguentando mais uma situação, quando as coisas começam a ficar insuportáveis. Aí então, as autoridades se vêem obrigadas a tomar algum tipo de providência - eu disse. E agora a minha campainha interna de alarme já estava no volume máximo, era quase uma sirene.

_Então, pai, eu queria fazer um protesto - disse o meu filho.

_Eu também, eu também - disse a minha filha.

Minha mulher me olhou com aquele olhar de governador para prefeito. Tudo bem, eu pensei, eu vou ter que me virar com a guarda municipal.

_Um de cada vez - eu disse.

_Pai, eu já não suporto mais ir pra escola. Então eu protesto - disse o meu filho.

_Pai, eu também não aguento mais a escola. E também cansei de sopa. Protesto duplo - disse a minha filha.

_Muito bem, são protestos legítimos. A insatisfação com a escola e a sopa de vocês dois é visível e, além disso, vocês fizeram os protestos de uma maneira bem civilizada, parabéns - eu disse.

_E agora? - disseram os dois.

_E agora o quê?

_O que você vai fazer? Qual vai ser a providência? - disse o meu filho.

_Nenhuma.

_Mas pai, você mesmo disse que as autoridades se sentem obrigadas a tomar algum tipo de providência. E, depois da mamãe, você é a autoridade aqui em casa - disse o meu filho.

Deixei passar a ironia antes de encerrar a conversa.

_Acontece que nós estamos numa família, e as famílias não são democracias, elas são governadas pelos pais. Ia ser engraçado se você votassem num pai - eu disse.

_Se eu pudesse votar, eu votaria para deixar de ir para a escola - disse a meu filho.

_Eu votaria contra a sopa - disse a minha filha.

_Nem adianta pensar nisso. Pai é cargo vitalício - eu disse.






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