domingo, 16 de junho de 2013

Os suspeitos de sempre



The Walkmen - We Can't Be Beat

Vi as imagens diversas vezes na manhã deste domingo. Foram divulgadas pela TV, momentos antes da festa de abertura da Copa das Confederações. O vídeo está na internet, não dura mais que um minuto e meio. O manifestante corre em ziguezague pelo gramado e um policial surge do lado oposto, montado numa moto. O manifestante tenta fugir da moto, mas é atropelado pelo policial. Ele se levanta e o policial prossegue em seu encalço até jogar a moto outra vez sobre o manifestante. Ele desaba no chão e é cercado por vários policiais e imobilizado. Em seguida as imagens mostram outro manifestante sendo perseguido por vários policiais. A câmera acompanha a nova fuga. O manifestante diminui a velocidade ao se aproximar de torcedores e é contido por vários policiais e imobilizado. Um simpatizante tenta chamar a atenção dos policiais, estourando o que parece uma garrafa dágua. Uma penca de policiais também o cerca, e uma nova moto surge para derrubá-lo. As duas pessoas são levadas para o camburão. Uma dupla agita os braços em protesto ao lado do camburão, mas recua. Pedestres perambulam pela cena. Uma mulher parece confusa andando por ali, de mão dada com uma criança.

Acho um tremendo programa de índio sair de casa para protestar, mas toda e qualquer pessoa tem o direito de se manifestar de forma livre e civilizada. Excessos e abusos devem ser investigados e punidos. Os manifestantes que foram detidos devem passar pelo devido processo legal e, caso seja provada sua culpa, sofrerem as penalidades cabíveis. Do mesmo modo, os policiais que cometeram excessos, devem passar pelo devido processo legal e, caso seja provada sua culpa, sofrer as penalidades cabíveis. Liberdade não é passar a mão na cabeça nem de manifestante maluco e nem muito menos de policial aloprado. Atropelamento de manifestante não é procedimento policial adequado. Nem mesmo Dirty Harry utilizava essa abordagem junto a criminosos condenados. O que chama a atenção é que o episódio foi filmado e existem provas concretas para a abertura de processo judicial contra indivíduos da corporação da PM. As pessoas atropeladas têm esse direito. Se levado adiante, o processo poderá resultar em pagamento de indenização do Estado aos manifestantes. É assim que funciona o Estado de Direito. Existem etapas e processos a serem percorridos. É chato e pode ser moroso. As tiranias é que têm solução imediata para tudo. Entretanto, caso os processos ocorram, eu, cidadão, terei sido triplamente vilipendiado: uma vez pela administração pública que resolveu gastar uma fortuna num estádio que custou 1,8 bilhão de reais e que neste ano não será usado em nenhuma outra competição; uma segunda vez pelo despreparo de uma polícia que quase sempre abusa da força e violência em qualquer situação, seja ela um ajuntamento de manés ou uma revolta na prisão; e por último, mas não menos importante, pelo pagamento de indenizações que não deveriam ser necessárias se os antecedentes mencionados não tivessem sido cometidos.

Quem se arrisca a sair de casa para ser atingido por uma bala de borracha? Quem se arrisca a sair de casa para cheirar gás lacrimogêneo? A levar spray de pimenta nos olhos? São as pessoas que não têm nada a perder ou as pessoas que acham que já basta, não podem perder mais nada? Talvez sejam as mesmas pessoas. Seres humanos. Ninguém pode ser atropelado por um policial por gritar que o dinheiro dos impostos deveria ser gasto em saúde e educação. E o extraordinário é que isso não nos escandalize. Onde estão aquelas figuras sempre prontas a defender os direitos humanos? Onde estão as tradicionais entidades que sempre posaram de defensoras do cidadão contra os abusos e excessos das autoridades? Onde estão os representantes eleitos?


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