quarta-feira, 11 de maio de 2011

Os novos barulhos

Quando a gente se muda, é preciso acostumar os ouvidos. Os barulhos são diferentes. Depois de treze anos em apartamento, acostumei a andar descalço dentro de casa, para não ferir os ouvidos do vizinho de baixo. Também me acostumei a evitar a descarga durante a noite, para não acordar os vizinhos de baixo e de cima. Me acostumei a sussurrar no banheiro, para não ser ouvido por todos os lados. E também não ligo máquinas de lavar louça ou roupa depois das oito da noite.

Numa casa tudo é permitido. Mesmo assim, continuo com os meus costumes. E tratei logo de me habituar aos novos barulhos. A minha casa, descobri na primeira noite, estala que é uma barbaridade. Existe uma grande escada de madeira na casa, que dá acesso aos quartos, na parte de cima, e à cozinha, na parte de baixo. É uma bela escada de ipê e trato ela com carinho e produtos Ingleza desde que a comprei, junto com a casa. Imaginei que era a escada que estalava, mas na madrugada da segunda noite descobri que os estalos vinham de outro lugar. Não era um barulho interno, era externo. Eram as telhas, é claro.

E além do barulho das coisa, tem ainda o barulho dos bichos. Casa tem muito bicho. O sótão tem um ou dois casais de morcegos, mas eles estão de mudança. Lagartos e lagartixas existem às pencas, mas eles quase não fazem barulho. Pererecas e mamangavas também. Descobri que existem muitos marimbondos ou vespas gigantes nas proximidades. Cansado de matar as vespas com pancadas da raquete de tênis elétrica (os choques não funcionam nos bichões), decidi passar a fechar as janelas dos quartos a partir das seis da tarde. Um bicho desses se debatendo no vidro faz um barulho assustador. Tenho pavor de marimbondos desde que recebi umas trinta picadas desses gigantes e fui parar no pronto socorro, com um big duma reação alérgica.

Os morcegos estão de mudança porque um casal de corujinhas fez o ninho no jardim, na parte da frente da casa. Eles são pontuais. Saem para caçar lá pelas seis e meia e às nove e trinta já estão trazendo comida de volta. Evito chegar perto do ninho, porque esses bichos são bem agressivos quando se sentem ameaçados. Avisei às crianças para tomar cuidado. E eu também mantenho uma distância segura dessas aves. Rafa, o destemido cãozinho shi-tsu, morre de medo de coruja, não preciso avisar a ele.


No quintal também existem joões de barro, pombas e rolinhas. Às vezes passa um bando de periquitos. Eles vigiam o meu pé de jabuticabas. Minha mãe me disse que é bom aguar o pé de jabuticabas todos os dias, que assim ele dá frutos várias vezes ao ano. Por isso comprei uma mangueira de jardim semi-profissional. Prestando atenção nos barulhos e sons do jardim, descobri um vazamento numa tubulação. Felizmente, consegui remendar.

Tudo é fascinante. É delicioso me acostumar aos novos barulhos da nova casa. E um dos mais bacanas é o som do vento nas folhas das árvores do quintal.

3 comentários:

Mwho disse...

Careca,
Parece que estou vendo o mesmo filme, com estalos e tudo mais...
Bem interessante...

Paulo Bono disse...

Ok, você mora numa porra de uma selva.

Careca disse...

Rá, rá. Mogli foi encontrado a duas quadras daqui.

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