domingo, 15 de maio de 2011

Novas caminhadas para o velho Rafa

Rafa e eu nos acostumamos a passear em volta de um retângulo, durante vinte minutos. Podemos fazer isso no sentido horário ou anti-horário, mas tem que ser alguma coisa próxima de vinte minutos. Mais do que isso o Rafa e eu reclamamos e ficamos cansados.

Rafa é o cão shi-tsu da minha filha. Agora que nos mudamos para uma casa num dos melhores bairros desta cidade, Rafa se assoberbou e não liga a mínima para a política de boa vizinhança. Se um cachorro late para ele, do outro lado da cerca, Rafa trata logo de latir de volta, mais alto.

Nos tempos do apartamento, na superquadra, Rafa parecia ser mais tímido e não contra-latia. Agora, ele late primeiro e vê o tamanho do outro cachorro depois. E não importa o tamanho do bicho do outro lado da cerca, Rafa realmente fica muito valente quando percebe que o outro animal está contido por uma grade.

Também não importa mais se os potenciais adversários estão em maior número. Rafa enfrenta matilhas inteiras com seus latidos. Eu observo em silêncio e às vezes reprimo o Rafa.

_Pô, Rafa, vê se te enxerga, esse doberman pesa uns oitenta quilos! Pare de latir!

_Rafa, deixa esse collie, o pitbull e o paulistinha na deles. Eles são de paz!

_Ah, não, Rafa, não provoca o policial! Ele vai acabar pulando essa cerca e nos pegando. Se ele pular eu deixo você de aperitivo para ganhar tempo, hem, Rafa.

Os vizinhos ainda não se acostumaram comigo e o Rafa. De manhã, quando fazemos a nossa caminhada proativa, os cães espumam de raiva quando passamos. Alguns vizinhos espiam pelas janelas. Sou o novo morador chato que está quebrando uma rotina de silêncio e calmaria com um cãozinho. Eu aceno e digo bom dia, bom dia. Ninguém responde.

A caminhada noturna também não é diferente. Eu e o Rafa subimos a rua, junto com os latidos em crescendo. Todo o trajeto é pontuado por paradas do Rafa em frente às grades dos novos desafetos. Ele enfrenta todos com galhardia. E faz um xixizinho de Rafa esteve aqui em lugares estratégicos. Acho que ele não está sabendo fazer novas amizades. Mas eu também não estou muito melhor. Eu aceno e digo boa noite, boa noite. Ninguém responde.

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