quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
O décimo terceiro trabalho de Hércules
Rival Sons - Pressure And Time
_E hoje, como foi a escola? Aprendeu muita coisa nova? - eu disse para o meu filho.
_Foi legal. A professora levou a gente para a biblioteca. Eu comecei a ler um livro sobre os trabalhos de Hércules.
_Os 12 trabalhos de Hércules, do Monteiro Lobato?
_Esse mesmo. Li até o terceiro trabalho - disse o meu filho.
_Caramba, eu adorava esse livro. O primeiro trabalho é matar o leão de Neméia, não é?
_É. O segundo é a Hidra de Lerna e o terceiro é o da Corça de alguma coisa, ela tem os pés de bronze.
_Os cascos - eu disse.
_É. Os cascos. Mas o que mais gostei até agora foi a Hidra de Lerna. É uma serpente de nove cabeças venenosas, sendo uma imortal. Cada vez que Hércules cortava uma cabeça, nascia outra no lugar. Então ele teve a idéia de ir queimando os pescoços para que não nascesse nada de volta.
_E serpente tem pescoço? - eu disse.
_Bom, ter, não tem. Hércules queimava o lugar onde nascia cabeça - ele disse.
_Mas e a cabeça imortal? - eu disse.
_Ele cobriu a cabeça imortal com uma pedra gigante. Aí tanto faz ela estar viva ou não. Quer dizer, não adianta nada ser imortal debaixo de uma pedra gigante.
_Não sei. E se algum dia alguém encontra essa cabeça venenosa imortal por acaso e ela consiga sair debaixo da pedra? Já pensou?
_Era só chamar o Hércules de novo, ué.
_Mas com o Hércules não dá para chamar assim e dizer que é um trabalhinho extra.
_Pai, vai por mim, tinha que ser o Hércules.
_Acho que você tem razão. Não dá para chamar o Batman numa história dessas.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Bonita e triste com criança
Tedeschi Trucks Band - Bound for Glory
Perdi a cerimônia do Oscar. Não foi por falta de vontade, foi por excesso de sono mesmo. Todos os anos eu me preparo intensamente para assistir a entrega das estatuetas. Eu corro atrás dos filmes candidatos nos cinemas. Decoro a lista de filmes e atrizes indicadas. Vejo quem está concorrendo ao melhor roteiro. Gravo pelo menos uma música dos filmes concorrentes. E como pipocas também.
Mas esse ano foi diferente. Fiquei alheio a tudo, observei muito de longe quem era candidato a isso e aquilo. Nunca tinha ouvido falar de "O Artista" e a verdade é que não quis assistir ao filme do Scorcese. Vi o trailler, li uns artigos nas revitas e coisa e tal, cheguei a planejar uma ida ao cinema, mas mudei de idéia depois que conversei com o meu irmão.
_Você gostou do Hugo? - eu disse.
_Muito. É uma história muito bonita e triste - ele disse.
_Muito triste?
_É emocionante.
_Você chorou? - eu perguntei.
_Mas disfarcei bem. Nem minha mulher percebeu - ele disse.
_Então não posso ir. Eu choro demais em filme triste, não tem como disfarçar. Passo vergonha. Minha mulher chega a fingir que não me conhece. Choro até em animação. Naquele desenho, Wall-E, eu até derramei refrigerante na minha camisa para ninguém perceber que ela já estava toda molhada de lágrimas. Estava com os olhos tão vermelhos que dois policiais no shopping vieram me dar um bacolejo enquanto eu soluçava. Foi uma tristeza. Mas em Toy Story 3 foi pior ainda, alguém do auditório chamou os bombeiros, tive que espantar os paramédicos com pontapés, quase me aplicam um sossega-leão. Agora eu só assisto animações depois que alguém lá de casa já fez um test-drive e não lacrimejou muito.
_Esse é triste, mas nem tanto - disse o meu irmão.
_Mas tem criança. Acho uma apelação filme triste com criança, eu me acabo, não dá, não tem jeito. Lembro de ver "O Campeão", estrelado pelo pai da Angelina Jolie. Tinha um garoto no filme que abria o berreiro a toda hora. E eu ia junto. Todo ano tem história bonita e triste concorrendo ao Oscar, mas só leva a estatueta os que têm criança no meio. Lembra de A Vida é Bela, com o Roberto Benigni? Pois então. É uma fórmula antiga, começou com o Chaplin, não caio mais nessa. Vou alugar o vídeo do Hugo e chorar em casa, numa boa. Eu me conheço. Ainda mais que é filme do Scorcese, que me faz chorar desde Taxi Driver, que tinha a Jodie Foster ainda menina. É muita emoção, bro, eu sou manteiga derretida em filme com história bonita e triste com criança.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Birra e boliche
A fragment of the film the Big Lebowski (Joel & Ethan Coen, 1998)
Music of this scene: "Hotel California"
Written by Don Henley, Glenn Frey and Don Felder
Performed by Gipsy Kings (as The Gipsy Kings)
Nossos amigos da Bahia vieram nos visitar durante o carnaval e fizemos alguns programas diferentes. Um dos mais divertidos foi uma noite no boliche. No Carnaval o boliche tem preços promocionais e cobra a metade do preço por pessoa. Isso é bacana porque criança paga meia, o que reduz a entrada para um quarto do preço, o que considero sensacional nesses tempos de crise na Europa e nos EUA. Aqui não, só temos marolinha, nossos campos têm mais vida e mais flores.
Desde que as crianças nasceram, logística é uma das minhas principais preocupações. Locomover quatro adultos e quatro crianças pode ser uma tarefa complicada, especialmente se uma das crianças ficar emburrada ou se todas as crianças quiserem ir no mesmo carro, por exemplo. Quatro crianças dividindo o banco traseiro dá confusão porque os carros só têm três cintos de segurança, é arriscado. As autoridades policiais são rigorosas por aqui, especialmente se você for um non-VIP, como eu. No Brasil, o cidadão comum sempre paga o pato do privilégio vassalar concedido irracionalmente a quem deveria servir de exemplo mas quase sempre é um fiasco. Por outro lado, três é o número exato. O problema é que criança nenhuma quer ficar sozinha num carro cheio de adultos.
Naturalmente eu pensava nessas coisas antes de irmos para o boliche, porque se sair de casa com duas crianças é complicado, imagine com quatro. Pensava numa maneira de convencer a minha filha a ir no carro só de adultos, já que três meninos, teoricamente, interagem com mais afinidade, todos gostam de rock´n´roll, futebol e trocar socos, seria só uma questão de colocar o som bem alto e vetar golpes baixos.
Estava decidido a bancar um sorvete de baunilha exclusivo para a menina quando aconteceu a birra. Pensando bem, deveriam criar uma palavra nova para aquele espetáculo. Minha nossa! Um dos meninos visitantes cismou de escolher o próprio vestuário e destravou as chorumelas. O que era aquilo? Só me lembro de ter visto uma birra igual quando era criança e minha irmã mais nova não queria usar um vestido cor-de-rosa. Ela esperneou, esbravejou, gritou, se esgoelou, se jogou no chão, se esparramou e teria feito mais coisas se a minha mãe não tivesse apelado e colocado a menina debaixo do chuveiro frio. Ela se acalmou, até porque precisava parar de gritar para respirar debaixo do chuveiro.
Sou um cara antiquado, mas percebi que nos dias de hoje não é adequado sugerir que coloquem uma criança debaixo do chuveiro para cortar uma birra. Fiquei observando a cena à distância, com as outras crianças, puxando assuntos diferentes para evitar contágio. Sim, birra não é um negócio contagioso, mas aquilo, meu amigo, era tão grande que poderia se espalhar, nunca se sabe.
Entretanto, o berreiro facilitou a logística. As crianças não embirradas também ficaram impressionadas e entraram juntas no carro. Elas permaneceram em silêncio até chegarmos ao boliche, nem precisei usar o rock´n´roll. No outro carro, minha mulher levou o pequeno gritador e o pai da criança. Nessa hora, todo mundo sabe, quem pariu Mateus que o embale, diz o ditado.
Ao chegarmos no boliche, o milagre aconteceu, a birra já havia passado e fomos nos divertir. Sou um jogador medíocre, ruim mesmo. Fui derrotado , com folga, por dois meninos de oito anos de idade. Quase dei birra.
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Comigo, não
Kinny - Upside Down
Se eu tivesse uma bola de cristal eu fingiria ler o futuro e diria que este é o ano de Kinny, uma cantora lírica que caiu de amores pelo soul. Ela combina uma voz linda com interpretações corajosas e emocionantes. O repertório do álbum Can't Kill a Dame With Soul (2012) merece uma visita de quem gosta de boa música. Uma alma caridosa já fez o favor de colocar tudo no You Tube, então corra para lá. Gostei também de uma versão de Love Cats do The Cure(Feliz aniversário, Cynthia!) e especialmente de You From This Sting. Sim, existem milhões de músicas novas e gostosas sendo gravadas todos os dias e algumas, como esta excelente cantora, com míseros 145 hits dos internautas. Só eu cliquei umas vinte vezes. Mesmo assim, o Cabeça insiste em ouvir somente os discos clássicos dos Rolling Stones, é um cara teimoso, acha que o melhor já foi feito, o cara está ficando velho e enferrujado. Comigo não, gosto de envelhecer escutando músicas de qualquer idade.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Onde estou indo
The Liberators & Roxie Ray - Let It Go
As aulas das crianças recomeçaram hoje e parece que o tempo ficou mais curto para tudo. Passei uma parte da manhã na oficina, lixando madeira para uma nova bancada de trabalho. A anterior eu desmontei, porque estava muito ruim, foi feita com cantoneiras e grandes parafusos. A nova deverá ter apenas encaixes e cola, se tudo der certo. Improvisei uma solução para diminuir a poeira no ar e até que deu certo. Usei um longo tubo plástico sanfonado, daqueles que encaixam debaixo da pia, para levar o pó da lixadeira até um saco de pano úmido. Coloquei o saco dentro de uma caixa plástica grande, com tampa. Usei fita crepe para fixar a tampa. Com o estratagema consegui lixar toda a madeira sem precisar de uma máscara para respirar. Depois usei uma lixa de disco, adaptada numa furadeira. Aí não teve jeito. Tive que colocar uma máscara igual à dos cirurgiões. Mesmo assim, a poeira era tanta que acabei colocando uma capa plástica para não me sujar demais. Usei uma capa de chuva laranja que ganhei da minha mãe. O dia passou voando.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Para a minha kombi de leitores
Chris Isaak- I'll Go Crazy
Faço minhas as palavras do Chris Isaak. Oh, yeah!
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
A queda 1
Decaímos. Desaprendemos a fazer até mesmo apuração de desfile de escola de samba. Esquecemos como se faz um carnaval legal. A folia foi disciplinada, encerrada dentro de sambódromos megalomaníacos ou saracoteado entre cordas e debaixo de abadás. Tudo é gigante, ensurdecedor, exagerado, excessivo. Em casa decidimos que é melhor manter as crianças longe da tv aberta e do barulho.
Acho que nós, desse país, também esquecemos o futebol. Não é opinião minha, que só assisto a jogos de copa do mundo ou quando estou sozinho na sala. É opinião de especialista com base no público pagante dos estádios. No campeonato carioca, teve jogo com sete pagantes. Clássicos com dezenas de espectadores. A cobertura também é uma droga, só tem fuxico e maledicência. Os craques são sofríveis, são mais assunto sobre o que fizeram fora de campo. A arbitragem é flagrantemente son-of-a-bitch. Não, nem quando estou sozinho assisto a jogos. Pagaremos um mico impagável na copa em casa.
Acho que nós, desse país, também esquecemos o futebol. Não é opinião minha, que só assisto a jogos de copa do mundo ou quando estou sozinho na sala. É opinião de especialista com base no público pagante dos estádios. No campeonato carioca, teve jogo com sete pagantes. Clássicos com dezenas de espectadores. A cobertura também é uma droga, só tem fuxico e maledicência. Os craques são sofríveis, são mais assunto sobre o que fizeram fora de campo. A arbitragem é flagrantemente son-of-a-bitch. Não, nem quando estou sozinho assisto a jogos. Pagaremos um mico impagável na copa em casa.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
domingo, 19 de fevereiro de 2012
sábado, 18 de fevereiro de 2012
Consultoria
Wolfmother - Joker and The Thief
Encontrei uma porção de ex-colegas de trabalho no shopping. Todos fizeram as mesmas perguntas.
_Onde você está?
_Aqui, ué.
_Não, onde você está trabalhando?
_Em casa.
_Não, fala sério.
_Estou falando sério. Tem muito trabalho em casa.
_E pra quem você está trabalhando?
_É consultoria, você sabe como é.
_Sei.
Todo mundo sabe como é consultoria.
É quando você fica com vergonha de dizer que está desempregado.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Carnaval é a maior limpeza
Peter Frampton "Baby I Love Your Way"
As crianças ficaram a tarde toda na piscina. No finalzinho, quase noite, decidiram colher limões. Correram para debaixo do pé, mas os frutos de baixo estão verdes demais. Os limões maduros estão na parte de cima, é preciso usar uma escada alta para colher.
_Que tal a gente deixar para colher os limões amanhã de manhã? - eui disse.
_Não, paiê, vamos agora - disse a minha filha.
_É que limão colhido à noite fica azedo, com um gosto muito ruim - eu disse.
_Tudo bem, então. Podemos catar minhocas? - disse o meu filho.
_Só vamos pescar amanhã. E agora a gente nem consegue enxergar as minhocas - eu disse.
_Tudo bem. E que tal a gente ir caçar morcegos? - disse o meu filho.
_Acho ótima idéia, umas das melhores de hoje. Mas precisamos do equipamento certo. Rede, apito para chamar morcego, luva para morcegos, e mais um monte de outras coisas.
_Tudo bem. Pai, afinal de contas, o que a gente pode fazer?
_Tomar banho, é hora - eu disse.
_Mas pai, é carnaval, estamos de folga, somos foliões - disse meu filho.
_Tudo bem, filho. Mas seja um folião limpo - eu disse.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Meu primeiro carnaval
David Bowie - Let's Dance
Lembro de ter caprichado na letra. E também de ter usado uma cor para cada palavra, então usei todos os lápis da caixa. Eu tinha uns cinco anos e aquela foi a minha primeira redação no Grupo Escolar Frei André Quinn. Valia nota. Até a data escrevi a cores. Fiquei orgulhoso da redação. Era uma obra de arte. Algumas palavras compridas escrevi com várias cores, uma cor para cada letra.
_De quem é esse carnaval? - disse a professora.
Era uma freira. Parecia irritada. Assumi a autoria da redação, eu ainda estava orgulhoso.
_Use o lápis grafite da próxima vez. Não dá para ler direito com tanta cor. Você usou o amarelo e até o branco. É impossível. E aprenda que numa redação o mais importante é o que você quer dizer, é a mensagem, e não a cor da letra - ela disse. E me deu nota baixa.
Demorei a usar o lápis de cor novamente.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Revelamos em casa
Aretha Franklin - Won't Be Long
Aquela impressora de fotos que compramos há quatro ou cinco anos foi mesmo uma excelente aquisição. Amanhã temos que entregar fotos 3X4 das crianças e na correria do dia acabamos sem tempo de ir ao lambe-lambe. A mini-impressora ainda tinha a tinta do cartucho original! As crianças já estavam prontas para dormir e tiramos as fotos rapidinho, usando a parede branca do escritório como fundo. Funcionou tudo às mil maravilhas. Só não consegui encontrar uma tesoura para cortar tudo. Minha mulher lembrou do estilete e com o apoio de uma régua de metal acertei as fotos na medida. Coloquei as fotos de cada um em capinhas plásticas da minha antiga coleção de moedas. Acho que as crianças ficarão felizes com as fotinhas. Mas com isso, necas de post.
Bye.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Lá vem o carnaval
SANTANA - SAMBA PA TI
Choveu o dia inteiro novamente. A oficina na garagem está paralisada. Aproveitei para fazer umas mudanças na disposição dos móveis da casa. Inverti duas estantes estreitas. Eram colunas com rodas, que foram deitadas e viraram racks. A grande estante de TV subiu, foi para a saleta no andar dos quartos. Essas pequenas alterações e a rotina de levar as crianças para as escolas ocuparam praticamente toda a segunda-feira.
O tempo ruim também impede a finalização de trabalhos já começados. Preciso pintar um baú grande e concluir o tampo, com rejunte branco. Na próxima etapa pretendo fazer uma verdadeira bancada de trabalho. A que eu uso é uma adaptação de velhos armários de banheiro. Funciona bem, mas quero fazer uma boa bancada, mais robusta, com diferentes níveis, morsas e cavilhas. Isso ainda vai demorar um pouco, ainda estou indeciso quanto ao melhor projeto.
O carnaval está chegando e pretendo ficar em casa. Não é só uma questão de contenção de despesas. Tenho preguiça de carnaval, não gosto daquelas músicas para pular. Também não curto muito jogar serpentina e confete. Gostava do clima de paquera, mas homens casados que desejam continuar casados não praticam esse esporte. Só sobrou a cerveja, mas estou de lei seca.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Adeus ao meu tio louco
Être un Homme comme vous [Anglais]
Meu tio louco morreu. E não morreu de loucura, num acesso de fúria, como um dia eu temi. Morreu doente, fraco, depois de engasgar com a alimentação novamente. Estava internado na capital, na unidade de terapia intensiva. Há um mês ou menos, aconteceu a mesma coisa. Mas dessa vez não resistiu, apesar de socorrido a tempo. Nós todos fomos às pressas até a cidadezinha velá-lo e enterrá-lo. Esse meu tio foi enterrado ao lado da minha avó materna, que o adotou ainda menino. Desde pequeno tinha fama de doidinho, porque o pai também tinha sido um pouco pirado. Quando surtou pela primeira vez, as pessoas acharam natural. Muitos diziam que era uma sina, que era só uma questão de tempo, era uma coisa que estava no sangue.
Era meu padrinho. Sempre me tratou muito bem, com uma atenção talvez um pouco exagerada. Caprichava no papel de padrinho, com presentes brilhantes e caros demais para suas posses. Era amistoso e brincalhão. Mas eu, por mais que me esforçasse, nunca consegui vencer o medo irracional que sentia ao ficar perto dele. Meus primos da cidadezinha contavam muitas histórias a seu respeito, exagerando a sua loucura e agressividade. Um dia percebeu que eu o temia e depois disso parou de me tratar com salamaleques. Na verdade, ficou indiferente a mim. Adorava meu irmão mais velho, que sempre o tratou com respeito e amizade genuína. Comigo era apenas educado. Durante parte da minha infância tive medo de ficar louco por causa desse meu tio lelé.
Um dia fiquei sabendo que não era um tio de sangue, que havia sido adotado pela minha avó. O pai havia abandonado a família, depois de um acesso de loucura. A mãe de sangue mal dava conta de cuidar das outras crianças.
Esse meu tio trabalhava de garçom e se casou com uma mulher bonita, teve um casal de filhos. A mulher resolveu sair de casa com as crianças depois de um dos seus ataques de fúria. A mulher refez a vida. Casou-se novamente e criou os filhos em outra cidade. Os filhos foram ao enterro. Eram crianças quando os vi pela última vez, mesmo assim era impossível não reconhecê-los. O filho era a cara do meu tio. E a filha era a cópia da mãe.
Dizem que meu tio teve seu primeiro ataque de loucura depois de comer um sapo. Ele adorava pescar e caçar rãs. Parece que foi desafiado por um companheiro de pescaria e acabou comendo um sapo. Uma vez vi um dos primos provocá-lo com essa história. Ele negou tudo e disse que era invenção de um filho da puta. Lembro de tremer só de ouví-lo xingar o amigo de pescaria. Acho que foi nesse dia que percebeu que eu tinha medo dele. Quando tinha seus surtos, xingava quem estivesse pela frente e quatro homens fortes não eram capazes de segurá-lo.
Era muito pobre, esse meu tio. Andava de bicicleta. Uma vez o vi subindo uma ladeira íngreme da cidadezinha, debaixo de chuva forte. Estava feliz, enlameado, os olhos azuis brilhando.
No seu velório, o rosto parecia encerado. As mãos estavam cruzadas sobre o peito numa aparente tranquilidade, mas a barriga estava seca, com se estivesse prendendo a respiração. O percurso até a cova foi feito rapidamente, é um cemitério pequeno. Foi enterrado no mesmo jazigo dos meus avós. Vi os ossos da minha avó num caixotinho de madeira, sem tampa. Cobriram tudo com um plástico azul. O coveiro fechou o jazigo quebrando lascas dos tijolos, inventando encaixes.
Digo adeus ao meu tio louco, meu padrinho, a quem privei do meu amor e até do meu respeito, por medo de também ficar louco. Medo esse que nunca passou.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Não foi desta vez
Black Mountain - The Hair Song
Não consegui terminar o baú. Choveu muito. Em compensação, terminei de arrumar a oficina, falta apenas organizar melhor as ferramentas. Há espaço para tudo. Perdi um pouco de tempo porque a furadeira começou a dar defeito, foi uma luta para que voltasse a funcionar. Amanhã vou conseguir fazer o que falta, embora sempre acabe faltando alguma coisa para fazer. E eu, na verdade, tenho um estoque grande de serviços acumulados.
Um dos motivos da demora em concluir a oficina é que eu precisava de um lugar alto e seguro para colocar os venenos. Sim, já encontrei ratos, baratas e escorpiões no quintal e periodicamente fazemos uma dedetização. Mesmo assim, de vez em quando é preciso usar um raticida ou um fungicida numa planta. Os venenos estavam num lugar perfeitamente inacessível às crianças e com cadeado, mas pouco ventilado. Precisei montar uma estante no alto da parede da oficina para colocar os venenos. O local é ventilado e não deixa o cheiro de veneno impregnar. Por segurança, coloquei cadeado na escada. Sem ela, não há como uma das crianças se aproximar. Pintei o nicho de vermelho.
Daqui para a frente, a minha idéia é a de montar os suportes e apetrechos para trabalhar a madeira de forma segura e limpa. Com um dos antigos armários dos banheiros da casa, montei uma bancada onde fiz a maior parte dos móveis que construí. Funciona bem, mas a aparência é sofrível. Pretendo construir uma nova bancada de trabalho e pelo menos mais duas mesas auxiliares.
Depois de muito pensar, decidi não fechar a área da garagem onde funciona essa oficina. A idéia é preservar a área livre, até mesmo porque será necessário fazer uma readequação do sistema de abastecimento de água na casa. Os registros da companhia de águas e esgotos do DF deverão ser colocados do lado de fora das residências dentro de pouco tempo. Se eu fechasse a oficina com paredes, teria que derrubar tudo dentro de poucas semanas.
Estou um pouco cansado, mas contente. Hoje tenho que dormir mais cedo, estou com o sono mais atrasado do que o coelho da Alice.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Errei a massa
Horace Silver - Down And Out
Não deu certo. Acho que errei a mão na massa e não consegui terminar um baú com cerâmica na tarde de hoje. Eu estava empolgado porque ontem consegui azulejar a frente desse baú rapidamente. Hoje, repeti tudo o que fiz ontem, mas a massa não secou direito e um azulejo estufou logo de cara. Logo depois, três azulejos trincaram. Passei o final da tarde e o início da noite limpando tudo. Como resultado, o trabalho de limpeza e organização da oficina atrasou um pouco. Estou devendo uma foto do local para vocês, não me esqueci.
Sempre gostei de trabalhos manuais. Na minha infância privilegiada em Brasília, as escolas públicas eram ligadas a uma escola parque. Ali os alunos optavam por "artes industriais"(couro, madeira, cerâmica, mecânica e metalurgia), música, teatro, esporte(futebol em destaque) e artes plásticas. Mecânica e madeira eram as mais disputadas. Nunca consegui estudar essas duas na escola parque. Mas tive aula na oficina de couro e também na oficina de cerâmica. Produzi bolsas, carteiras e uma mochila. Depois fiz cinzeiros, um pote, pratos e uma caneca, onde pintei um submarino amarelo igual ao dos Beatles. Os alunos apresentavam os produtos em duas feiras anuais, ao final de cada semestre. Lembro que os pais tinham que bancar essas artesanias. A escola funcionava e havia um grande envolvimento com as famílias.
Depois fui estudar em escola particular. A escola ficou mais chata. A ênfase não estava em aprender e descobrir, em estimular o conhecimento e a curiosidade. O foco estava em aprender a ser avaliado, em aprender para fazer provas com competência. Aprendi, passei em vários vestibulares, blá,blá,blá. Isso se repetiu nos anos seguintes e também na universidade. Não sou muito saudosista, tive bons momentos, mas em geral o clima na sala de aula era de desolação. Raras eram as aulas com professores empolgados e contagiantes. Depois fui para o exterior, fazer um curso de extensão. Bicho, aquilo é que era empolgação e alegria de fazer as coisas.
Mas não deu certo o meu baú. Talvez tenha sido o colante. Talvez estivesse vencido, ou exagerei na água. Pouco importa. Terei que fazer de novo. E tenho certeza de que dará certo.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
O melhor verso para se dizer no ouvido da namorada
YES- Long Distance Runaround ☺
Andei um bom pedaço até aqui. Tenho feito esse caminho quase todas as noites há vários anos. Às vezes acho que é perda de tempo. Então procuro me lembrar do que me trouxe para a blogosfera, das circunstâncias que me trouxeram para cá. Este blog é o meu percurso diário em torno do que me acontece ou do que me chama a atenção. Não sigo regra nenhuma, a não ser dizer a verdade, mesmo que seja preciso mentir. Quase sempre escrevo uma fantasia sobre o meu cotidiano. Procuro poupar os familiares e amigos, mas às vezes isso é impossível. Já pensei em deixar o anonimato, mas sou um tipo acomodado. Também sempre encontro uma boa desculpa para deixar o blog com a mesma aparência.
Ultimamente, tenho escrito muito sobre móveis e tranqueiras que estou construindo em casa. Também disserto sobre pintura de parede, conserto de torneiras, ou até mesmo sobre a varrição de varandas. Essas coisas tomam tempo, exigem habilidade e muita atenção. São coisas simples e que afetam diretamente o meu cotidiano. Infelizmente, são também muito desinteressantes e particulares. São excessivamente sem importância em si mesmas, a não ser que eu consiga enxergar ali um pensamento, uma atitude, uma metáfora qualquer e escrever sobre essa sensação. Então continuo da escrever e a percorrer esse caminho.
Ás vezes tenho a ilusão de que estou vivendo o meu próprio capítulo de "Zen e a arte de consertar motocicletas", mas a verdade é que não tenho notado nenhuma mudança no meu jeito de ser e viver. Minto. Talvez eu esteja mais gordo.
Outras vezes, escrever um desses pequenos textos salva o meu dia. De alguma maneira, eu sinto que consegui produzir algumas linhas que podem ser interessantes para duas pessoas ou até mesmo uma kombi cheia de leitores. No passo a passo desse caminho deixei de lado a mania de pensar grande, de querer ser lido aos berros nos estádios, para as multidões. Não, senhor. Não, senhora. Fiquei mais humilde depois de tanto caminhar. Aprendi a pensar pequeno. E com velocidade reduzida, em câmara lenta. Às vezes nem parece que estou pensando. Mas é só aparência, gente, sei fazer cara de paisagem impressionista. Sou um pontilhado.
Hoje, minha maior ambição é ter um verso sussurrado no ouvido de quem se declara apaixonado. Já pensou?
_Sabe quem escreveu esse verso? - dirá o apaixonado, depois de repetir o meu verso especial Mach 5 no ouvido da namorada.
_Lennon? Neruda? Drummond? Vinícius? Pessoa? - dirá a namorada, entre beijos e carícias ansiosas.
_Naninananão, foi o Careca - dirá o namorado, se gabando das suas habilidades linguísticas com o Google.
Depois virão as músicas, a versão para o inglês, o desenho animado, o longa metragem e a mini-série especial de cinco capítulos. Agora só preciso escolher com cuidado as palavras.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Falando de cavalos
Baby Huey - Hard Times
Os finais de semana estão cheios de atividades. No domingo, fomos para uma aula experimental de equitação com as crianças. Existem três ótimos lugares para andar a cavalo em Brasília e este, na minha opinião, é o melhor de todos. Fica perto da minha casa e é um lugar enorme, com muito verde, várias pistas de hipismo, muitas crianças e muitos animais. As crianças adoraram, é claro.
Minha filha, de sete anos, falou de cavalos o ano passado inteiro e não temos como escapar com mais doze meses de enrolação. Meu filho também curtiu a aula, então foi fácil decidir. Vamos apertar o cinto e estudar uma estratégia logística para que ambos façam a aula.
Tenho um pouco de medo de andar a cavalo. Uma vez, na época em que meus pais tinham uma chácara, levei um tombo feio depois que um pangaré empinou comigo no cerrado. Era um bicho preguiçoso, esse cavalo. Vivia correndo para debaixo das árvores, para tentar derrubar o cavaleiro e fugir. Tinha um nome engraçado, não consigo me lembrar. Uma outra vez, me levou correndo a galope para onde havia um monte de abacaxis nativos. Era um lugar perigoso porque as folhas do abacaxi do cerrado são verdadeiras navalhas. O cavalo parou bruscamente e fui parar no seu pescoço. Com o peso, caímos os dois. Acho que foi a última vez que andei a cavalo.
Meus filhos não têm medo. Ao contrário, os dois são muito arrojados e talvez a equitação seja boa para aumentar o autocontrole. Os cavalos sentem tudo e reagem a qualquer movimento do cavaleiro com muita rapidez.
A equitação e o almoço com os avós impediram que eu terminasse a oficina no domingo, como havia planejado. Só fui terminar a pintura na manhã de hoje. Também fiz uma série de reparos nas coisas do jardim. Uma mesinha de centro foi iniciada, só falta lixar. Estou me sentindo produtivo. Mesmo com o calor infernal que vem fazendo.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Preferencial
Mavis Staples - Don't Change Me Now
As crianças agora estão de aparelho. É uma engenhoca móvel, moldada e cheia de armações complicadas. As crianças ficam parecendo astronautas sem capacete no mundo da farofa de perdigotos quando estão de aparelho. A coisa incomoda. Os dentistas sabem disso. Tanto que entregam o aparelho com mil e uma recomendações para os pais e para as crianças. As recomendações vêm por escrito junto com o aparelho e o estojo. O troço é maior do que a política de conteúdo do gooogle antes da alteração. Também é cheio de polissílabos complicados e outras coisas que dificultam a leitura e o entendimento. É tão chato de ler que só hoje eu consegui terminar e ver que faltava comprar corega tabs. Para quem não sabe, esse é um produto famoso para a limpeza e eliminação de germes e bactérias de aparelhos e dentaduras. Portanto, lá fui eu comprar o corega tabs para os aparelhos das crianças.
Foi só então que reparei no grande movimento das farmácias no domingo à noite. Não sei se isso acontece aí, perto da sua casa. Mas no meu bairro, é batata. Parece que domingo à noite é o melhor dia da semana para ir à drogaria, se você gostar de fila, é claro. Tinha fila no caixa. Tinha fila no balcão. Tinha fila até para a balança eletrônica. Esperei, fazer o quê? Primeiro eu entrei na fila da balança, é claro, porque aí as outras filas ficariam menores. Estava com 71 quilos na semana passada e nesta semana estou com 71 quilos e 680 gramas. Quando entrei na fila do balcão ela parecia ter dobrado de tamanho. Tudo bem, fazer o quê? Esperei, esperei, esperei e justo na minha vez aparece um idoso.
_É uma emergência - ele me disse.
_Tudo bem, o meu não é emergência - eu disse.
E quando era a minha vez, apareceu uma gestante, do nada.
_É uma emergência - ela me disse.
_Claro, claro, pois não - eu disse.
E quando ela terminou, apareceu uma idosa, de bengalas.
_Já sei, é uma emergência - eu disse.
_Não, eu tenho atendimento preferencial, meu filho. Estou com mais de oitenta anos - disse a idosa.
_Claro, claro - eu disse e fiquei vigiando para ver se não aparecia outro preferencial do além.
Só então percebi que eu era o último da fila do balcão. Em compensação, a fila do caixa era interminável. Quando a idosa terminou, olhei de um lado para outro e só depois dei um passo até o balcão. Temia ser atropelado por algum preferencial vindo do nada.
_Pois não, o que o senhor deseja? - disse a moça do balcão.
_Um corega tabs, por favor - eu disse, numa boa.
_É para que tipo de dentadura, senhor?- disse a mulher.
_Não é para dentadura, é para aparelho móvel - eu disse.
_Entendo. Posso ver o aparelho, senhor? - ela disse.
_Não, os aparelhos estão com as crianças. Escute, tem certeza de que isso é mesmo necessário? - eu disse.
_O quê? - ela disse.
_Ver o aparelho. Não pode me vender o corega tabs sem ver o aparelho? - eu disse.
_Claro, mas se for corega para dentadura, esse não vai servir - ela disse.
_Vou correr esse risco, pode me dar o corega, por favor! - eu disse.
Peguei o pacote com envelopes e fui para a fila do caixa, que era imensa. Lá na frente aquela idosa estava sendo atendida, prioritariamente. Foram vinte e cinco minutos de fila. Quando tudo terminou, lá estava eu a um passo do caixa. Então aquela idosa de antes apareceu do nada e entrou na minha frente.
_Esqueci a aspirina - ela disse.
E ficou olhando para o corega tabs na minha mão.
_Nossa, nem dá para perceber que o senhor usa dentadura - disse a idosa.
Preferi ficar calado. Quando ela terminou, ainda apareceu uma gestante e um cadeirante. Do nada.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
O melhor presente para o filho do Natal
Gloria Gaynor - Can't take my eyes off you
Nós ficamos sabendo outro dia que o Natal vai ser pai. E aí recebemos um convite para ir ao aniversário do Natal. Então tínhamos que levar uma lembrança para celebrar as duas ocasiões, é claro.
_O Natal qual? Aquele Natal?
_Isso.
_Mas o Natal não é ...?
_Ex-ex-solteiro. Sim, mas ele vai casar. Quero dizer, já está casado, morando junto ou quase.
_Nossa. E quem é a sortuda?
_Aquela moça de Portugal, lembra?
_Lembrei.Super-gente-fina.
_Parece que os portugueses vieram para o Brasil. E o Natal se posicionou.
_Rá-rá. E o sexo?
_De quem? Do Natal?
_Não, infeliz, do bebê.
_Não perguntei.
_Como não perguntou?
_Não perguntei, ué, esqueci, falei de outras coisas.
_Nosso amigo vai ser pai e você esquece de perguntar se o bebê é menino ou menina?
_Essas coisas hoje em dia são muito relativas, amor. Tem gente que nem quer saber mais. As pessoas querem sentir toda a emoção na hora do parto. Tem gente que organiza apostas, faz bolão, cobra entrada, filma, o mundo mudou muito, amor. Agora o gostoso é a surpresa.
_Surpresa, surpresa. E a cor do quarto do bebê? E o enxoval?
_Tem o neutro, oras. Toda loja de produtos de bebê vende o neutro. E também tem o branco, ué.
_Branco, branco é muito chué.
_Eu gosto de branco.
_Mas é muito chato dar presente branco. Parece coisa de gente sem imaginação.
_Então daremos um vale, pronto.
_Putz, mais sem-graça e sem imaginação ainda.
_Pintamos um cartão com bolinhas azuis, vermelhas e também colocamos um arco-íris, que tal?
_Cadê aquele saco que trouxemos do avião?
_Bom, precisamos decidir logo, senão iremos de mãos abanando.
Mas está quase na hora de sair e ainda não decidimos.
_E que tal uma bola?
_Mas que idéia de jerico. Ninguém dá bola de presente para futuros recém-nascidos.
_Um cubo?
_Às vezes eu acho que deveria ter dito não, nunca, jamais.
_E se eu fizer uma crônica? Outro dia a Franka fez uma de presente para uma amiga dela e pegou super-bem.
_Você quer dar uma crônica de presente para um bebê?
_É, talvez seja um pouco cedo.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Sherlock Holmes e o passar do tempo
Sweeter Tomorrow - Margie Joseph
Nós estamos passeando no shopping. Eu resolvo comprar um sorvete. Ela prefere um iogurte incrementado. E nós vamos assistir ao novo filme do Robert "Sherlock Holmes" Downey Jr. Enquanto esperamos a hora de entrar, nós ficamos bestando, de olho nas pessoas que passam no shopping. É uma das melhores coisas pra se fazer nos shoppings. Então eu puxo a conversa borracha:
_Você já reparou que alguns casais, com o passar do tempo, começam a ficar parecidos? - eu disse.
_Como assim? - disse a minha mulher.
_Repara naquele casal ali, ó. Parecem irmãos. Os dois ficaram gordinhos, usam roupas nos mesmos tons e estão quase da mesma altura. Até o corte de cabelo é parecido - eu disse.
_Talvez sejam mesmo irmãos - ela disse.
_Irmãos não se olham daquele jeito. E eles trocaram um bitoquinha agora mesmo - eu disse.
_É, bitoquinha é coisa de casal velho no shopping - ela disse.
_Ei, eu também vivo te dando bitoquinha e não sou velho - eu disse.
_Nãããooo, você é só um pouco, como direi, rodado - ela disse.
_Entre rodado e velho, eu prefiro velho - eu disse.
_Talvez você tenha razão, olha lá aquele casal - disse a minha mulher.
_Noossa, parecem gêmeos de camisa florida e com o mesmo tipo de óculos escuros - eu disse.
_E os dois estão de chinelos - ela disse.
_Vai ver, são gringos de férias nos trópicos - eu disse.
_E desde quando gringo vem passar férias em Brasília? - disse a minha mulher.
_Vai ver têm parentes em alguma embaixada. E tiraram os óculos, olha lá. Têm o maior jeitão de gringo observando os nativos - eu disse.
_Que jeito é esse? - ela disse.
_Lembra quando a gente foi para o zoo de Gramado? É igual. Achamos lindo ver os bichos de perto, sem jaula, mas detestamos o cheiro - eu disse.
_Eles viram que nós estamos olhando para eles, amor - ela disse.
_Podem rir, bocós, mas eu não estou gastando minhas férias num país de terceiro mundo, de camisa florida, de chinelos e de óculos escuros num shopping - eu disse.
_Mas nós dois estamos de jeans, amor - ela disse.
_E de camiseta branca, sim, qual é o problema? Foi pura coincidência - eu disse.
_É. E nós não somos parecidos, eu tenho cabelo e estou de bolsa - disse a minha mulher.
_E o seu pai é japa, amor. Nem com uma plástica eu conseguiria ficar parecido com você - eu disse.
_Ou seja, você nunca vai ficar bonitão - disse a minha mulher.
_Isso é verdade. Sou só um velho que nunca mais vai dar bitocas no shopping - eu disse.
Depois falamos outras bobagens e entramos no cinema. E quando ainda estava nos traillers, eu disse para minha mulher:
_Você já reparou que algumas pessoas, com o passar do tempo, acabam ficando parecidas com o seu bicho de estimação? - eu disse.
_Lá vem você sacanear o Cabeça - ela disse.
E eu estava pensando em outro amigo, que tem um peixinho dourado. Seja como for, o filme foi ótimo.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Uma boa oficina
Merry Clayton - Southern Man - Merry é a criadora de Gimme Shelter, gravada pelos Stones.
Toda a área da oficina ficou limpa. Com a ajuda do jardineiro, remodelei a disposição dos armários e eliminei a tranqueira. Foram horas de trabalho duro. Às três da tarde começou a cair um toró. Tivemos que parar tudo. Choveu uma eternidade.
Amanhã, se fizer sol, consigo pintar o piso. A oficina vai ficar legal, depois coloco uma foto aqui.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Preparativos na batcaverna
Norah Jones - What Am I To You?
Aquela pilha de madeira acabou, agora estou tratando de melhorar a área da oficina. No ano passado, uma parte do piso de tacos de pedra foi coberta com cimento. Hoje passei a manhã limpando a área para depois nivelar o piso para a pintura. Escolhi um cinza claro. Mas ameaçou chover forte, chegou a chuviscar, e não pude terminar de pintar metade do piso. Amanhã, nesta quinta-feira, devo concluir o trabalho com a ajuda do jardineiro.
Ao lado da oficina tem uma espécie de canaleta junto à cerca do vizinho. Por ali passam os canos de água que chegam da rua. Na última vez que mexi no local para plantar uma muda de lírios eu quebrei um cano e só pude resolver a encrenca no dia seguinte. Minha conta de água ficou salgada naquele mês.
A área da oficina fica numa garagem, onde os antigos moradores costumavam guardar bicicletas ou coisas que não usavam mais. Nesse ano que estou na casa, tornou-se um dos locais mais frequentado por mim. Com partes de armários e estantes de outras áreas reformadas, fui improvisando uma área para brincar de marceneiro. Como os móveis que tínhamos no velho apê "sumiram" no espaço da casa, acabei aprendendo a fazer algumas coisas. Aqui em casa construí dois criados-mudos, três carros de apoio, dois aparadores, dois bancos grandes, três armários médios, quatro metros de deck, uma arara para orquídeas e uma mesa rústica. Todos estão em uso.
Também fiz duas bancadas de trabalho com restos de ármários e madeira da obra. Montei ainda dois grandes ármários para guardar ferramentas. Esses armários ficavam na garagem do velho apê e estavam com o piso estragado. Acabei tendo que substituir os pisos dos dois armários. Aproveitei para colocar rodas em ambos. Desse modo, sozinho posso mexer e tirar tudo do lugar com facilidade.
Já que não podia terminar a pintura, comecei a montar uma base para deixar a madeira da lareira sem contato com o chão. A verdade é que estou com dó de usar um dos carros de apoio, apesar de ter construído um deles só para isso.
Foi um dia produtivo. No final da tarde, eu, minha mulher e minha filha esticamos alguns pedaços de arame para que o maracujá, o cará e o xuxu tenham onde se segurar, lá no fim do quintal.
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