sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Motorista alerta



Count Skylarkin & Harvey K-Tel: Dub of a Preacherman

Passei algumas horas dos últimos dois dias na estrada, indo e voltando da minha cidade natal. Tirando a parte que tem muitos buracos, a estrada está muito boa, foi uma viagem sem problemas. A paisagem da estrada está bem bonita, nesta época do ano a vegetação está com um verde intenso, chove em diversos trechos, é uma época agradável para se viajar.

Viajei com os meus pais e o meu irmão. A idéia era revezar no volante, mas eu sou muito fominha de volante, dirigi a maior parte do tempo. Na verdade, acho que não sou um bom passageiro de automóvel, fico muito inquieto, não canso de olhar pela janela de lado, demoro a relaxar e sou ruim para puxar conversa com o motorista. Eu fico calado demais, demoro a pensar em alguma coisa interessante e acabo ficando calado, ou só concordando. Ou seja, estou mais para motorista mesmo, que pode ouvir o que os outros falam, mas deve se concentrar na estrada.

A verdadeira conversa descontraída numa viagem passa, necessariamente, pelo assunto besteirol ou borracha pura. Eu costumo ser muito bom para dizer besteiras, mas em viagem de carro, sentado no banco de trás, fico muito distraído com a paisagem e deixo passar as oportunidades.

Em família, nós acreditamos que deixar o motorista levemente irritado com gozações contribui para a qualidade da direção. É uma crença besta, mas nós levamos esse tipo de coisa muito a sério, todo mundo de casa quer colaborar, é uma coisa bonita.

Desta vez, catei apenas um buraco na pista, uma proeza considerável se levarmos em conta o número de buracos entre algumas cidadezinhas de Goiás. Mesmo assim, recebi vaias e apupos dos passageiros. Minha mãe aproveitou para intensificar a campanha pela redução da velocidade.

_Vá mais devagar. Você não vê os buracos porque está indo muito depressa - disse a minha mãe.

_Mas mãe, até os fuscas estão nos ultrapassando - eu disse.

_Os fuscas e os vemaghetis - disse o meu irmão.

_Olha, você errou dois buracos - disse o meu pai.

_Pai, aquele buraco era grande demais para desviar - eu disse.

_Mas não precisava acertar as quatro rodas nele - disse o meu pai.

_É porque ele vai rápido demais. Se ele diminuísse um pouco, não pegaria tantos buracos - disse a minha mãe.

_Olha aí, as kombis estão passando por nós - disse o meu irmão.

_Putz, mãe, eu já estou lento demais, até as kombis estão ultrapassando - eu disse.

_Buraco à frente, atenção - disse o meu pai.

_Vá mais devagar, senão você não vê os buracos - disse a minha mãe.

_Carroça pede passagem à esquerda - disse o meu irmão.

Isso se repetiu várias vezes na ida.
Na volta, minha mãe queria comprar pequis.

_Tinha pequi ali atrás, por quê você não parou? - disse o meu pai.

_Se ele fosse mais devagar, teria visto - disse a minha mãe.

_Pensei que era seriguela - eu disse.

_As bicicletas estão nos ultrapassando - disse o meu irmão.

Isso também se repetiu com algumas variações na volta. Foi uma ótima viagem.

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