O espírito natalino já baixou lá em casa. A árvore está montada e Rafael, o cãozinho shi-tsu da minha filha, marcou presença na área. Como a árvore foi montada sobre uma mesinha inacessível, Rafa fez um protesto líquido bem eloqüente na perna da cadeira, de frente para a árvore. Também comprei um monte de presentes com o cartão de crédito, dividindo tudo em parcelas a perder de vista. E escrevi um monte de vale-presentes, o que não é novidade.
Neste Natal, a minha nova invenção, que transmito para todos vocês da minha kombi de leitores no melhor espírito natalino, é o "vale-caixinha". Todo mundo sabe que nessa época do ano, existe uma grande quantidade de caixinhas de Natal oferecidas para todos nós. É o padeiro, o lixeiro, o porteiro, o motorista, o moto-boy, a faxineira, o lavador de carros, o entregador de pizza, o bombeiro, o vigia, o flanelinha que vigia a tua vaga, a moça do caixa da farmácia, a moça do caixa da padaria, o jornaleiro, um monte de gente no sinaleiro, enfim, a galera toda quer garantir um Natal mais farto e não hesita em pegar a primeira caixa de sapato que encontra pela frente para fazer um embrulho bem chinfrim e começar a extorquir trocados dos outros pobres. Para enfrentar essas hostes da caridade alheia, que é minha e sua, inventei o "vale-caixinha".
É muito fácil fazer um "vale-caixinha", basta seguir as instruções. Pegue uma folha de papel qualquer e escreva em português sindical: "Te devo uma merreca". Se preferir, o vale também pode ser feito com letras de forma cursiva, com a mensagem "Fica para outra vez" ou "Agora não, por favor", como achar melhor. Mantenha o papel dobrado e ao alcance da mão. Assim que a caixinha estiver próxima, enfie rapidamente o vale na abertura. Saia rapidinho dizendo "de nada, de nada, coisa à tôa, não por isso".
Hoje usei dois vales-caixinhas com a frase "Se manca, amigão", porque os caras estavam com sapatos melhores do que os meus. Isso aprendi com Balzac. Em "Ilusões perdidas", Honorè ensina ao personagem principal que para se avaliar um homem, é preciso primeiro olhar para os pés do sujeito e avaliar o calçado. E os caras estavam usando uns sapatos de couro bem bacanas, com fivelas prateadas, que dizem ser a última moda em Milão. Se bem que se eles estivessem descalços eu também teria usado os mesmos vales, porque estou sem um centavo no bolso.
Amanhã pretendo estrear uma nova mensagem no "vale-caixinha": "a felicidade não tem preço". Fiz dez vales. Não vai dar nem para o período da manhã. No período da tarde talvez eu só desenhe uma carinha sorrindo no papel.:)
P.S:"Vale-caixinha" é um produto registrado do Careca.
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