domingo, 1 de março de 2009

Herbinha, o fusquinha do meu amigo



Eu recebi o aviso por e-mail há mais ou menos duas semanas. Foi o Paulim que me avisou.
_Careca, olha só o ser humano!
E na mensagem, esse meu amigo, que voltou outro dia da Austrália, dizia que havia comprado o carro dos sonhos. Um fusca branco dos anos setenta, com faixas vermelha e azul e o número 53.
_É caso de internação à força, Paulim! – eu respondi para o Paulim.
E no sábado, depois de almoçarmos um glorioso bife à parmegiana no saudoso Beirute, esse meu amigo que voltou da Austrália me pegou para ver o carro.
_O que você acha, Careca?
_É lindo! – eu disse.
_Quer dirigir?
_Nãããããoooo, eu já tomei umas cervejas e tenho medo de blitz – me esquivei.
_Tudo bem. Quer ver por dentro?
_Dá pra ver daqui. Isso no teto é uma goteira?
_Um furinho de nada. E o para-choque é original!
_Que beleza!
_E o motor é superbom. Tem arrancada firme. Tem certeza de que não quer dirigir?
_Tenho.
_Esse carro é muito bom e educativo.
_É mesmo?
_Minhas filhas nunca tinham visto um quebra-vento. Agora já sabem como é um. Quer andar?
_ Não, obrigado. Quebra-vento é mesmo uma vantagem competitiva.
_São essas coisas que fazem diferença.
_Pra menos.
_Hã?
_Parabéns – eu disse, para evitar maiores digressões.
_Dirigir esse carro é como dirigir um clone de um superstar. Quer tentar?
_Entendo, mas vou passar – falei, às vezes, concordar é preciso.
_É como limpar o jornal do clone da Lassie.
_Isso mesmo – observei.
_Careca, não dá vontade de comprar um carro desse?
_ É verdade. (Não dá mesmo. Mas se der, vou esperar passar a vontade).
_Quer ver o carburador?
_Não, acabei de almoçar.
_Agora eu tenho que ir, senão eu deixava você dar uma volta.
_Obrigado, é muita gentileza.
E eu e a minha mulher nos despedimos do meu amigo e da família que voltou da Austrália. Pai, mãe e três filhas, muito felizes, entram no Herbinha. O barulho do motor é algo entre a batedeira de bolo e uma geladeira a gás que havia na casa da minha avó. A diferença é que o cano de escape do Herbinha estourava foguetes a cada acelerada.
_Isso é que é ronco de motor! – disse o meu amigo.
E nós acenamos, em despedida.
_Careca, seu amigo não deixou você dar uma volta?
_Não, ele é muito ciumento dos carros dele. Ele oferece só pra dizer não, depois que você disser sim.
_Não era ele que tinha um Dodginho Bege?
_Um Polara. Ele chamava de Larica.

4 comentários:

Mwho disse...

Careca,
Deu até saudade...
Do Dodge Polara!

Anônimo disse...

nossa, a gente ficava muito afundado pra dirigir fusca. e tenho saudade de quebra vento até hoje. alguém me explica porque entrou em extinção?

Careca disse...

Mwho, o Larica não tinha nem fechadura. Podia deixar aberto que nem cachorro entrava...

Careca disse...

Franka, e tem fã-clube com altas declarações de amor ao fusca. El pueblo guesta eh de sofreire...

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