Eu não estou sempre prestando atenção ao que as crianças assistem na TV. Eu digo que me preocupo muito com a educação delas, mas a verdade é que sou meio relapso. Sei que a TV deseduca à beça, mas também me esparramo na frente de uma, de vez quando. Uma das minhas principais preocupações deveria ser manter as crianças a uma distância razoável da TV. Embora em dia de chuva isso seja impossível. E também seja difícil calcular a distância razoável da TV. Uma hora? Duas horas? Varia. Mas eu deveria tentar. Minha mulher se preocupa e tenta mais do que eu.
Mas outro dia eu reparei na TV. Vi um episódio de um programa com um parquinho e um monte de meninos e meninas. O programa, só com as crianças, foi bem por trinta segundos. Até aparecer um imbecil vestido de dinossauro roxo. No início, achei que o tipo tinha um problema nas garras superiores. Aí olhei direito e percebi que o Dino era um TRex. Roxo e com bolinhas, mas um TRex. Com a entrada desse bicho a coisa imediatamente descambou rapidamente para a chatice melancólica. As crianças ficaram robotizadas. A dublagem só aumentava a impressão de que o grupo de crianças, cada uma representando uma etnia da América cosmopolita da TV, eram seres teleguiados com a missão de abduzir a liberdade e a imaginação da criançada.
_Barney! – gritavam as crianças para o monstro com cara de bobo.
É estranho como a TV não mostra adultos interagindo normalmente com crianças. Temos sempre que ver um adulto infantilizado ou parecendo idiota tentando passar conceitos e conselhos com músicas, danças, acrobacias e salamaleques. A TV metida a educativa coloca nariz de palhaço no adulto. O extremo oposto é o Cartoon Network, o canal de desenhos que trata todos os adultos como idiotas e todas as crianças como detentoras de superpoderes pegajosos, desagradáveis e nojentos. No meio do caminho, temos crianças efetivamente super-dotadas que agem naturalmente como adultos. Aí a coisa inverte. Sempre me sinto um idiota vendo essas meninas e meninos-prodígio.
Essas crianças da TV me deixavam com inveja quando eu era criança. Eu só não invejava o Jái, um menino mexicano e improvável amigo de um Tarzan que passava à tarde, na TV. Michael J. Fox me deixava espumando de inveja quando eu era adolescente. Felizmente arrumei um emprego à noite, o que me livrou do vício de ver TV à noite e de traumas maiores.
Mas durante muitos anos tive inveja de Will Robinson. Ele tinha um robô legal, morava numa nave espacial e se encontrava com alienígenas a cada episódio. Além disso, não parecia se preocupar com dever de casa ou coisa alguma. Ele era um náufrago espacial. Enquanto o resto da família se preocupava com a sobrevivência, Will tratava de explorar os mundos esquisitos onde a nave sempre caía. Will era um aventureiro e parecia um menino de verdade. Mas era um menino solitário num espaço de adultos. Will raramente interagia com outros meninos, que teriam que ser meninos-aliens. Todo mundo era mais velho que o Will. A única pedra no sapato do Will era o Sr. Smith...
Às vezes sou como os índios que tinham medo de perder a alma tirando uma fotografia. Tenho medo de rever os episódios de Perdidos no Espaço com os olhos de adulto e de perder assim, parte da minha juventude.
Bah! Existe também uma lógica educativa nos programas de TV que eu detesto. A primeira dessas lógicas é a que prega a extrema não-violência Mané-Gandhi-Luther-King. Consiste em não revidar agressões. Sou a favor da não-violência e sempre digo para os meninos não puxarem briga. Porém digo para descerem o braço, com força e onde dói, em quem agredi-los. E também digo para gritar e reclamar quando doer. Sofrer em silêncio é ruim pra danar. Por isso digo para gritar alto sempre que estiver sofrendo. E digo que correr de um agressor maior e mais forte é uma sábia decisão. É covarde um burro que preserva os dentes?
Procuro dizer o óbvio. É ruim ser mau, desonesto e mentiroso. Ninguém gosta de gente má. Ninguém confia no desonesto e nem acredita em quem mente. É melhor ser bom, honesto e dizer a verdade. Ou então ficar calado. Ser dedo-duro é uma das piores coisas do mundo. Existem e acontecem coisas injustas e justas, o tempo todo. Ninguém é só do bem. Por outro lado, quem é do mal não se lembra que tem um pedaço bom. Amizade e respeito são muito importantes. Faça bons amigos e amigas. Quem não é bom com os bichos em geral é cruel com as pessoas. Não seja cruel. Não deixe ninguém bater em você. Grite. Corra. Revide, mas não haja com covardia. Cuidado onde pisa. Não se apóie em vidro. Não beba água da torneira ou do chuveiro. E, acima de tudo, o melhor e mais importante ensinamento de todos, que me foi passado pela minha avó e que eu, generosamente, divido com todos vocês, ó minha kombi de leitores: ninguém faz cocô quadrado.
3 comentários:
acho que é o Discovery Kids.
tem uns programas bacanas, carecone.
abraço
Bono, sim, tem uns programas bem legais. Eh o mau-humor da reforma.
Careca, tudo bem? Não, né, reforma é um saco. Mas vai passar, como você diria pra sua princesa se ela caísse e o joelho ficasse dolorido. rsrs Realmente, a programação da TV é muito politicamente correta ou nada politicamente correta. Meu sobrinho até gosta do Barney, mas prefere o Pica-Pau. Oh bebê que gosta de coisa mal feita, viu? rsrs Mas ele gosta de ver Bacyardigans, Pocoyo, a chatice do Hi-Fi, Rory, o macaco George e o Mr Maker, que eu acho legal pacas. Queria saber fazer quadro com macarrão, mas não rola... rsrs Abraços!
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