Estou aqui, na entrada de um palácio. Quem já viu um, já viu todos. E eu vejo a fila de políticos. São uns tipos interessantes. Vejo um tão engraçado que dá vontade de jogar pipoca nele. Aí eu devaneio.
Um político não se define pelo que faz, mas pelo que gosta. Para mim, os políticos são os seres humanos que mais gostam de conversa fiada, reunião e palestra. E fila de beija-mão. Quando um monte de políticos se junta é porque querem falar com algum político mais esperto, que ainda vai chegar.
O político muito esperto, em geral, vive convocando reuniões com outros políticos. Veja bem. Ele não convida. Convoca. Ele chega atrasado em todas as reuniões convocadas, especialmente se a reunião for no seu próprio gabinete.
Chegar atrasado é uma arte complexa e altamente refinada pelos políticos. Embora as diferentes técnicas de chegar atrasado variem na forma, em todas prevalece o mesmo princípio. Se a reunião começou sem que você tenha chegado, você não está com nada. Se alguém começou a reunião em seu nome, livre-se do traíra. Se não começou, mas você precisa tirar o sapato e bater na mesa para chamar a atenção do povaréu, troque de turma enquanto ainda dá tempo. Você só estará com tudo se, na hora que você chegar, os voluntários se apressarem em organizar a confusão, a pedir silêncio. Caras importantes têm sempre alguém grosso para fazer o chega prá lá. E se você for mesmo um figurão, quando você abrir a boca, alguém deverá ficar com cara de tapete humano. Aí, você é o tal.
Parece existir um traje típico de político. Terno, gravata berrante. Relógio grandão, vistoso, igual ao do bicheiro. Sorriso ladino. Cabelo ridículo. Olhar ferino. Já faz muito tempo que não vejo um político com olhar bondoso. O olhar da moda agora é aquele de águia, do sujeito combativo. Um saco. De vez em quando vejo na TV um cara que parece ter o olhar bondoso e sonso. Mas é fingimento. Muito embora o meu estereótipo de político seja uma versão dos cafajestes desenhados pelo Angeli. Na minha inversão, ao invés de vestidos em ternos mal-ajambrados, os políticos usam ternos bem-cortados e sapatos feitos à mão por virgens italianas que sonham em trabalhar para a Ferrari.
O político, em sua maioria, não carrega pastas. Para isso existe, sempre ao seu lado, o fiel assessor. Esse cara nunca chama a atenção. O fiel assessor é um tipo discreto, que não abre a boca. Ele se comunica com os olhos com o político, aquele que o puxa pelo colarinho. Troca sinais telepáticos quando a conversa se aproxima de temas perigosos. Faz sinais secretos com as mãos. Coça o nariz. Faz Rãm-Rãm, limpando a garganta. E, por fim, enfia uma canelada no político quando a conversa resvala para a falação do que não deve ser falado e nem escrito. É discreta, mas é canelada doída.
Fiéis assessores, ao contrário do que pode parecer, existem às pencas. Eu mesmo tentei trabalhar como fiel assessor de político várias e várias vezes. Mas a minha careca chama muito a atenção. Além disso, não sei fazer cara de tapete. Preciso treinar mais.
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