Meu filho adora jogar video-game. Como somos uma família super-ajustada e reguladora, nós limitamos o número de horas que ele pode jogar. São duas horas por dia, no máximo. De preferência, uma hora por período. Como ele está de férias e a Patroa também, fica fácil controlar. De vez em quando eu chego em casa depois do trabalho e lá está ele à minha espera.
_Pai, economizei as minhas duas horas para jogar Play com você. Vamos? – e me olha com a cara de pidão mais bem elaborada que eu já vi. Sabe aquela cena de Shreck dois, quando o Gato de Botas faz aquela cara de “por favor” ? Pois é melhor. Mal comparando, ele faz a mesma cara de bichos de estimação nas gaiolas de lojas de animais. É um pedido de adoção, aquela cara. Então eu também não resisto. Jogo o paletó em cima da cadeira e corro para o quarto, onde jogamos duas horas de video-game marcadas no relógio da Patroa. Mesmo se quiséssemos não poderíamos jogar mais. A Patroa é implacável.
Foi com o meu filho que aprendi a importância da seqüência de comandos no controle do video-game. Em diversos jogos, a seqüência tem um significado especial, que torna o herói ou heroína do game capaz de realizar golpes e movimentos espetaculares. Depois que aprendi essa verdade essencial dos controles de games, minha vida sofreu um salto qualitativo. Eu sei que posso passar para fases mais adiantadas e espetaculares. Eu sinto que posso saltar, atirar, rolar e fazer mais em menos tempo, gastando menos vida. Mas será que é possível economizar vida? E o que é que vou fazer com essa vida extra no fim do jogo?
Deixa pra lá. Filosofia e videogame não combinam direito. Quando se juntam, o estômago embrulha. Talvez seja uma questão de configuração. E nos games, a configuração faz toda a diferença.
No controle do videogame do meu filho, existem os seguintes símbolos: quadrado, bola, xis e triângulo. Em geral, o Xis é o controle dos golpes ou dos saltos. O quadrado é um movimento especial, abaixar ou curvar. Bola, em geral, significa acelerar para frente. Mas nada disso é regra. Às vezes a configuração é totalmente diferente, pois você sempre pode personalizar os comandos de acordo com a sua própria vontade. É por isso que as seqüências são tão importantes. A ordem dos fatores, nesse caso, faz toda a diferença.
Num dos jogos favoritos do meu filho, um dos mais extraordinários é o comando “bola-quadrado”. Parece simples, mas apertar o polegar direito no botão da esquerda e depois no botão da direita, rapidamente, nem sempre é uma tarefa fácil. Esse comando produz efeitos espetaculares nos games. Os heróis aplicam golpes secretos, descobrem segredos, desfrutam de vantagens incomensuráveis quando você, com esse breve comando, altera o destino do seu personagem.
Desde que aprendi essas coisas básicas, eu me sinto capaz de realizar grandes feitos fora dos games. Só preciso me lembrar da seqüência correta. Ultimamente, tenho insistido muito com o quadrado, triângulo, quadrado e quadrado. Graças a esse comando, sou capaz de correr de um lado para outro, sem parecer ofegante e sem chegar atrasado. Tem me mantido vivo, o que já é grande coisa.
Um comentário:
careca, desisti de jogar há anos, depois de muito morrer em abismos horríveis.
Postar um comentário