sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Adeus velha e boa escola alternativa

Minha filha acordou cantando hoje. E todos imediatamente ficaram felizes. Às vezes eu bem que tento, mas é difícil manter o mau-humor perto da minha filha sorridente e cantante. Acabo me deixando contagiar. Com os dois no carro, prontos para a escola, proponho uma escolha, como faço todos os dias:

_Notícias ou rock´n´roll? – eu pergunto, mas já sei a resposta. É sempre a mesma.
_ Rock´n´roll!! – eles gritam e sacodem as cabeças. Meu filho é bom de “air guitar”. Ele dedilha uma guitarra invisível no espaço, sem desprender do cinto de segurança. E minha filha, linda, ergue o polegar em sinal de positivo.

_Toca aqui, pai! – ela diz.

Mas quando tento tocar ela desvia e diz:
_Deixa que eu toco sozinha! Ting lim, ting lim! – ela também finge espanar uma guitarra.

E eles pedem novamente o rei e a rainha do rock´n´roll, mas já estou cansando de escutar “Burning Love” com o Elvis e “At Last”, com a Joss Stone. Coloco “Valerie” com a Amy Winehouse e em seguida “This Picture”, do Placebo.Estão aí, na Rádio Careca. Não é rock´n´roll, mas os meus críticos musicais ainda não sabem disso. Eles curtem e ficam sacudindo os braços nas cadeiras. Eu olho para o retrovisor e vejo as caretas que fazem. Quando escutam música nacional não se remexem tanto. A não ser quando coloco “Umbabaraumba”, do Jorge Ben Jorge. Essa não está na Rádio Careca, não consegui encontrar. O rock é a coisa tribal da aldeia global e Ben Jorge é um cacique nessa taba. Ráu!Ugh!

Ano que vem ele estarão em outra escola. O mais velho tem cinco anos e a minha garotinha está numa turma em que só existe mais uma menininha e doze garotos. Na outra escola a turma será mais equilibrada e eles possuem um boa metodologia de alfabetização, com bons professores, muitos deles saídos da própria escola alternativa.

Todos os dias me despeço um pouco da escola velha, que nasceu de um sonho antigo de educadores do tempo do onça. Queriam propor novas formas de ensinar e aprender. Queriam inventar a roda, é óbvio. E o ululante é que a escola não é feita só de método, não é só o espaço. A escola é feita de gente. Para dar certo, as gentes dessa escola devem ter pelo menos alguma afinidade, alguma simpatia mútua, uma boa vontade recíproca. E de muita gente ali, eu descobri que estava muito distante ou até de que não simpatizava nem um pouco. Dois ou três, preferia não ter conhecido.

Mas também foi ali que descobri algumas pessoas bem legais, com filhos desencanados, espontâneos e livres. O espaço da escola também foi importante. Me lembrou muito das escolas da minha infância, no interior do país. Aquelas escolas de cerca fina, com pátio grande e chão batido. Com fruteira. Foi numa escola assim que eu e o meu filho aprendemos a não ter medo de subir em árvore. E foi naquele pátio que ele aboliu o uso de sapatos e criou uma crosta grossa de pele nas solas dos pés. Diferente de mim, que não podia tirar as minhas botinas ortopédicas.

Confesso que sentirei saudades da boa e velha escola alternativa. Ele também. Ela também. Mas saudade passa. Especialmente nas férias.

2 comentários:

Paulo Bono disse...

êh leitura leve e bacana.
gosto como coloca seu cotidiano em texto, Carecone.
abraço

Careca disse...

Bono, gentileza sua. Não estou tendo tempo para quase nada, só para as coisas ligeiras. Um abraço,

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