terça-feira, 30 de dezembro de 2008

As sete curvas

Tive que viajar rapidamente com os meus pais e irmãs. Fiz o antigo papel de motorista do carro da família. E foi estranho perceber que, adultos, nós cinco ainda cabíamos num único carro. É bem verdade que meu irmão não estava. E ele ocupa um bom de espaço.

Fiquei reparando nas mudanças da estrada. A pista está duplicada no trajeto Brasília-Goiânia. As famosas Sete Curvas não existem mais. Agora são apenas seis. E são curvas suaves.

Era um dos pontos mais perigosos da viagem, especialmente se você estivesse dirigindo à noite. Sete curvas fechadas corcoveando um morro e desembocando numa cabeceira de ponte. Dezenas de pessoas morriam ali, todos os anos, em acidentes provocados pela imprudência de uns e pela engenharia perversa de outros. Agora os acidentes no local são raros.

A paisagem mudou radicalmente. Quase não existem mais trechos sem plantações. O campo perdeu o ar de abandono. As coisas parecem mais bem cuidadas. O interior do país parece melhor. Mas as pessoas me pareceram mais tristes, menos espontâneas.

Outro dia, conversando num boteco, um amigo comentou que nós queremos ser um país desenvolvido, com empregada em casa. Nós queremos eliminar desigualdades, desde que elas não interfiram com a nossa comodidade. Queremos ter juízo e manter a inocência.

Eu disse a ele que talvez fosse isso mesmo. Não tenho muita certeza de nada, hoje em dia. Na verdade, cuido da minha vida e dos meus da melhor maneira que posso. Sobre o resto, não tenho muito o que dizer.

Um outro amigo disse, em seguida, que não se importava de perder uma curva, se isso poupasse vidas.

Nesse instante, eu decidi que era hora de voltar para casa.

2 comentários:

Anônimo disse...

eu também fico melancólica nessa época do ano. beijo.

Careca disse...

Franka, você entende o que eu não digo. Um beijão.

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