quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Minha gravata de Natal



Hoje eu acordei e resolvi usar a minha gravata de Natal. Ela é vermelha “Flash DC Comics”, ou, para usar uma terminologia mais clássica, vermelho “Blood Mary”, com listas finas creme-douradas. É uma bela gravata. A Patroa acha que eu estava de porre quando eu comprei. Ela pode ter razão. Eu não me lembro quando comprei essa gravata, mas foi num final de ano.

Lembro que um dia eu estava olhando o cabide de gravatas quando me deparei com aquele esplêndido e colorido exemplar. Achei maravilhosa. Desde então eu uso essa gravata quando quero transmitir uma mensagem de alegria para o mundo. Bacana, né? Mas a Patroa cisma com essa gravata. Toda vez que eu quero usar, ela implica.

Algumas características dessa gravata: é tão cheguei que pode ser vista a olho nu por um míope sem óculos a duzentos metros de distância; é tão esplendorosamente chamativa que um satélite pode localizá-la facilmente, mesmo que eu esteja em um elevador, túnel ou metrô; e, junto com a Grande Muralha da China, eu diria que é uma das poucas coisas feitas pelo ser humano que podem ser visualizadas do espaço.

Mas eu adoro essa gravata. Não é só porque ela me deixa ridículo. Não é porque ela praticamente elimina o risco de não ser visto ao atravessar uma rua. Ela é quase um item de segurança, uma espécie de colar da visibilidade. Com ela no pescoço, só não te vê quem é desprovido de retinas. Gosto dessa gravata. Não é porque ela me retira da obscuridade discreta dos meus dias pusilânimes. Não é só porque ela é uma afronta ao bom gosto e às cores sóbrias. Não é porque ela parece algo que um fugitivo de sanatório usaria para não chamar a atenção.

Também não é porque ela me garante pelo menos dez minutos de papo furado sobre qualquer assunto com pessoas que nunca vi antes. Esse, aliás, é um fenômeno interessante. As pessoas se sentem um pouco culpadas quando colocam pessoas e gravatas na categoria “ridículas”. E pra eliminar essa ridícula sensação de culpa elas acabam puxando conversa. E puxam um papo sobre o clima, sobre o governo, o time de futebol e a crise.

Eu uso essa gravata como uma declaração de princípios. Ser ridículo é quase uma demonstração de sociabilidade. As pessoas ficam querendo te dar dicas de como ser menos ridículo. É uma coisa estranha. E essa gravata é hipnotizante.Você não consegue tirar os olhos dela. E ela me desperta pensamentos felizes. Ou seja, gosto de pensar que também estou transmitindo pensamentos felizes para os outros seres humanos. Não que eu tenha vocação para comediante. Sou um tipo sério. E na maior parte do tempo, me acho de uma sem-graceza enorme.

Mesmo assim, sou obrigado a admitir que eu uso essa gravata porque para mim ela não tem apenas as cores convencionais do Natal. Eu uso porque essa gravata faz as pessoas rirem. Ela, para mim, é o próprio espírito natalino atado ao meu pescoço. É por isso que eu gosto muito de usar essa gravata nessa época do ano.

Depois que eu pensei nisso tudo, a Patroa olhou para mim e disse:

_Você vai mesmo sair com essa gravata? É feia demais – ela perguntou.
_Isso não é uma gravata, é o espírito natalino – argumentei, já na defensiva.
_Está mais para espírito do halloween – ela arrematou.
Naquele momento, se eu olhasse lá para cima, poderia ver sangrar o pobre nariz de Rudolph, a primeira e melhor rena do Papai Noel. Por isso, com um sorriso triunfante no rosto, acertei o nó da gravata e saí para levar as crianças para a escola. Elas adoram essa gravata. Riem à beça.

4 comentários:

Anônimo disse...

O careca!
Acho que tu tá precisando mandar cortar as unhas do teu pastor alemão...
Mico Jegue.

Thales Rafael disse...

Vim parar aqui por acidente. Fiz um blog a pouco tempo e percebi que, se eu quero ser lido, tenho que ler. Acho que foi sua gravata que chamou a minha atenção. Ela cumpre tão bem seu papel que afeta internautas por meio da telepatia.

Ótimo texto. De uma grande originalidade e que suscita debates muito pertinentes nas entrelinhas (como as formas de socialização através de figurinos estranhos).

Voltarei outras vezes.

Careca disse...

Mico, tudo bem, mas o jegue é teu!

Careca disse...

Thales, essa gravata sempre funcionou. Volte quando quiser.:)

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