quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Uma espada laser
Um dia, foi idéia do meu irmão, eu terei que escrever um texto sobre meu pai. É uma coisa que eu fico adiando. Tenho medo de magoá-lo. Sei lá. É difícil. Eu tento passar a pelota para meu filho. Quem sabe ele, na inocência dos quatro anos, não me ajuda nessa tarefa?
_O que você acha do vovô? - eu pergunto para meu pequeno super-herói.
_Ele é legal.
_Se você fosse dizer uma coisa para ele, o que você diria?
_Agora?
_Agora.
_Vô, me dá uma espada laser?
_Não. Isso não vale. Tem que dizer uma coisa sobre ele. Tipo assim: Vô, seu cabelo é bonito.
_O cabelo dele é branco.
_É só um exemplo. Pode falar qualquer coisa.
_Qualquer coisa.
_Engraçadinho.Com quatro anos e já tem um programa de auditório. Anda, diz alguma coisa sobre o vovô.
_Puxa, pai. Larga do meu pé.
_Só preciso ouvir uma coisa sobre o vovô. Ou então eu desligo o vídeo-game.
_Vô, quando eu crescer eu quero ser um samurai igual a você.
_Samurai? Mas esse é o seu outro avô...
_Ah, pai, me deixa brincar.
Meu filho também sempre dá um jeito de escapar pela tangente.
Peço ajuda para a Patroa.
_ Quero escrever uma coisa sobre o meu pai, mas não consigo pensar em nada. Estou sem idéias. Se você fosse dizer uma coisa para ele, o que você diria?
_Pai, me dá uma espada laser?
_Não vale – eu digo. Você estava escutando.
_Ih, Careca, você sempre diz que só consegue escrever sobre o que você sabe. Talvez seja a hora de mudar. Use a imaginação. Escreva sobre o que não sabe. Invente um pai. Ou invente um outro você. Ou escreva sobre o que você gostaria que tivesse acontecido. O que você gostaria de dizer para o seu pai, que nunca disse antes?
_Pai, me dá uma espada laser?
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