sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O quintal suspenso do Cabeça

Foi aniversário do Cabeça e nós, eu e a minha mulher, fomos até lá lhe dar um abraço. Como sempre, foi um megaevento, com a presença das pessoas mais ilustres de Brasília, incluindo aí o Niltão, o PV com a namorada, o Igor, a Dani, o Guina e o Esfarelando com a esposa. Na festa ficamos gozando um pouco o convite que o Cabeça fez para todo mundo, numa mensagem de telefone, que eu reproduzo abaixo:

Pessoal: dia 27 é o meu aniversario. Quem estiver em BSB e não tiver nada melhor p fazer, venha p um happy hour aqui em casa, 20h. Vai ter cervas, whisky e piriris. Quem vier, por favor, responda esta mensagem.

É lógico que eu respondi na hora que iria, para garantir o meu lugar na varanda da Maira, mulher do Cabeça. O apartamento é dos dois, mas é a Maira e somente ela que administra a varanda. Tudo lá é cuidadosamente escolhido e colocado, com todo carinho e capricho, pela Maira. Dentre todas as varandas, de todos os apartamentos com varanda que eu conheço, aquela é a maior. Caramba, aquela varanda é tão grande que cabe uma mesa de ping-pong e dois atletas chineses jogando. Se ela fosse coberta de areia daria para dois aposentados jogarem bocha, com espaço para um freezer e cadeira de balanço. Se fosse gramada, daria para brincar de golzinho, numa boa. Daria. Porque agora não dá mais. Acontece que a Maira começou a colecionar árvores frutíferas em miniatura na varanda e agora o espaço, que era generoso, ficou...er..como direi...disputado.

Tudo culpa minha, é claro. Eu um dia caí na besteira de dizer que as jabuticabeiras plantadas em vaso podem produzir normalmente e logo a Maira comprou um vasinho com uma muda. O Cabeça reclamou um pouco, mas a jabuticabeirazinha estava carregada, e o Cabeça é guloso, de modo que ele comeu todas as jabuticabas e portanto, ele gostou. Na sequência ela comprou outra muda e antes que a gente pudesse falar qualquer coisa, ela comprou um vaso com pitangas. E depois, cajás. Caquis. Acerolas. Fruta-do-conde. Jambo. Um pequizeiro rústico. Limãozinho. Etc. Etc. Etc. Hoje aquela varanda parece um quintal suspenso da Babilônia, um projeto de agronegócio auto-sustentável com várias espécies em plena produção, fora as plantas ornamentais. É bonito. É bonito.

Mas chegamos tarde, eu e a minha mulher, e todos os melhores lugares da varanda já estavam ocupados. Tinha uma cadeira debaixo de um pé de maracujá carregado, próximo à fonte, mas ouvi dizer que existem animais selvagens ali perto, então preferi ir até a outra varanda do apê do Cabeça. Sim, amigos. Lá existem duas varandas. A varanda A, number one, administrada somente pela Maira, e a varanda B, number two, totalmente administrada pela Maira, que ela não é boba de deixar o Cabeça dar palpite em varanda. A varanda B é cinco centímetros menor do que a outra e embora não tenha a mesma quantidade de plantas, tem uma fonte do mesmo tamanho e um aquário, onde o Cabeça pretende criar botos.

Pois, então, foi lá na varanda B que começamos a conversar sobre a mensagem convite do Cabeça.

_Achei o cúmulo da modéstia - disse uma pessoa.

_Achei muito modesto, mas simpático - disse uma outra pessoa.

_Achei gay pacas - disse uma pessoa que preferiu não se identificar.

_E você Careca? - disse outra pessoa que preferiu não se identificar.

_Achei que era uma oportunidade de se fazer justiça com o coitado do Cabeça - eu disse. Todo mundo ganha presentes no aniversário e no Natal, mas o Cabeça, não. A vida inteira ele sempre ganhou um presente único, valendo para o Natal e pelo aniversário, um dois em um que lhe deixou profundas e arraigadas marcas. Sei disso, porque ele já me contou sua frustração aos prantos, no aniversário do ano passado. Pois hoje, eu modestamente comecei a corrigir essa injustiça. Talvez pela primeira vez em sua vida, o Cabeça tenha ganhado dois presentes de um amigo, um pelo aniversário e outro pelo Natal.

_E que presentes foram esses? - disse aquela pessoa de novo.

_Um filme do início da carreira dos Stones e uma coletânea do melhor de Truman Capote.

_Ele gostou?- disse não importa quem.

_Ele quase chorou quando viu os dois pacotes separados. Significou muito para ele. O único problema é que ele já tinha o filme. Então ele acabou com um presente só - eu disse.

_Não tem problema, é só levar na livraria que eles trocam.

_O filme não tem etiqueta de troca. A fila estava muito grande, era a última semana antes do Natal, resolvi levar para embrulhar em casa.




2 comentários:

Anônimo disse...

Ha,ha,ha. Pensei que seria "Guerra e Paz", em dois volumes.

Careca disse...

Boa, eu também tinha pensado em um livro e o filme do livro.

Frase do dia