Mal chegamos da Bahia e minha filha já se preparava para ser levada ao aniversário de oito anos de uma amiga da escola. A bateria do carro estava descarregada, uma das chaves dos fundos da casa tinha sido quebrada e dois outros pequenos pepinos precisavam ser resolvidos sem demora. Tratei de levar a menina rapidamente. A julgar pelo estacionamento vazio, fomos os primeiros a chegar. Quando isso acontece não dá para negociar com algum outro pai ou mãe, dizer que você vai ali e já volta. Optei por uma entrega simples e direta.
_A que horas a senhora quer que eu pegue? - eu disse para a avó da aniversariante.
_Aaannhh...ãnh? - disse a vovó.
_Desculpe, mas eu tenho que resolver umas coisas, será que tem algum problema em deixar a menina aqui? - eu disse.
_Não, claro que não - disse a vovó.
Pelo olhar da vovó eu notei que ela havia me catalogado e rotulado com a etiqueta de "pai-relapso-que-larga-filha-na-festinha-e-vai-pra-gandaia-na-maior-cara-dura".
_Muito obrigado, eu volto mais tarde - eu disse.
Então saí de lá pensando com os meus botões que estava mesmo me comportando como um pai relapso que deixa a criança na festinha e sai para a gandaia. Mas a verdade é que eu precisava consertar o carro e resolver as outras pendências. Para minha sorte lembrei que havia visto um par de grampos para bateria na casa do meu pai. Então corri para lá no carro da minha mulher. Cheguei conversamos um pouco, colocamos as novidades em dia e depois eu disse:
_Mãe, será que os grampos de bateria estão por aqui?
_Procura na garagem - disse a minha mãe.
Encontrei os grampos e me despedi rapidamente da minha mãe. Fui até a minha garagem e consegui fazer uma chupeta de bateria usando os grampos e o carro da minha mulher. Deixei o carro funcionando uns dez minutos para carregar um pouco. Aí decidi sair para procurar um chaveiro. Perdi duas horas em busca de um chaveiro. Fui a quatro daqueles quiosques que existem em muitos lugares da cidade e nada. Parece que eles não trabalham aos sábados, na véspera do domingo de Páscoa. Tive que deixar para encontrar uma solução na segunda-feira.
Os outros dois pepinos foram mais fáceis de resolver. Mas um terceiro surgiu sem que eu me lembrasse, a impressora não funciona mais. Tentei baixar um software que prometia solucionar tudo, mas não deu certo. Acabei me enrolando.
Às sete e meia da noite corri para ir pegar a minha princesa na festinha da amiga. A avó da aniversariante nem olhava para mim. Mas a menina estava super à vontade e havia se divertido muito. Ah, e de lembrança, ela ganhou um peixe beta. Os outros pais brincaram na saída da festa.
_Na festa da minha filha, daremos cachorrinhos!
_E na minha serão gatos!
_E lá em casa serão minhocas, vai servir até para o trabalho da escola - eu disse, mas acho que ninguém achou graça.
_Paiê, você faz um aquário pra mim? - ela disse.
Eu disse que ia tentar. Mas a verdade é que acabei me esquecendo do peixe na mesma noite. Felizmente minha mulher havia providenciado um vaso de vidro bem grande para o peixe passar a noite. Só me lembrei disso hoje de manhã, quando olhei para o saco plástico que boiava dentro do vaso grande.
_Você não tirou o peixe do plástico? - disse a minha mulher.
_Fiquei com medo dele morrer nessa água clorada - eu disse.
Mas o peixe sobreviveu. Eles são durões, os peixes beta.
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