terça-feira, 24 de abril de 2012
Cole, por favor
Aretha Franklin Live Antibes Festival 1970
Todas as semanas eu encontro pelo menos um bilhete sobre a minha mesa. Nele, com letra cada vez mais bonita, está escrito "Cole, por favor" ou algo parecido. O bilhete é quase sempre da minha filha. Hoje, por exemplo, havia um boneco de plástico descabeçado sobre o bilhete. Era dos difíceis, eu teria que furar e improvisar um pescoço estepe com um pedaço de plástico macio. Uma coisa besta dessas custou vinte minutos. Quinze minutos foram para encontrar um pedaço de plástico que servisse.
_Filha, seu boneco está consertado - eu berrei.
Minha filha veio, olhou para o boneco e o descabeçou novamente com um puxão.
_Não, paiê, a cabeça desse boneco é do tipo que sai - ela me explicou.
_Pôxa, gastei vinte minutos para colar essa cabeça.
_Ficou quase bom, paiê, mas a cabeça desse boneco é de tirar. Tudo é de tirar, olha - ela disse.
E então ela destacou os braços, as mãos, os pés, as pernas e as duas metades do tronco.
_Hum. Tudo bem, deixa aí que depois eu conserto - eu disse.
_Você consegue, paiê.
O menino também deixa os seus recados. Em geral é pedido para ajudar com a pesquisa do dever de casa. Hoje em dia é muito fácil recorrer ao Google, então as professoras recomendam que as pesquisas sejam feitas em livros, enciclopédias e revistas. Também é preciso colar, recortar e ilustrar. Mesmo assim, o tempo gasto com a pesquisa não dura mais do que uns dez minutos.
_Pai, como é o carnaval em Veneza?
_Por quê?
_É pesquisa da escola.
Caramba, eu pensei, aprender é pescar pérolas entre irrelevâncias.
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