segunda-feira, 30 de abril de 2012
Luzes na piscina
Caetano Veloso- Let It Bleed
Fomos correndo tentar ver "Os Vingadores", na versão dublada. Mas parece que milhares de pessoas tiveram a mesma idéia. Quando vi a quantidade enorme de carros no shopping, dei um jeito de parar antes e enviei a minha mulher na frente, para pegar um lugar melhor na fila. O problema é que umas quinhentas pessoas também pensaram nisso, fora os sujeitos que compraram o ingresso pela internet. Então, não adiantou. Quando cheguei com as crianças, depois de estacionar bem longe, a fila estava acabando um pouco antes de Bagdá. Suspiramos. Em uma votação rápida e unânime, decidimos sair da fila e tomar um sorvete.
Para compensar, deixamos as crianças escolher os sorvetes sem limite nas coberturas. Sim, sorvete é sempre muito bom, mas a criançada costuma abusar do marshmallow, da calda de chocolate, do granulado, dos confeitos, das balas fini e das amêndoas. Desta vez, combinamos de não regular. Escolhi sorvete de pistache, como sempre. Depois perambulamos um pouco pelo shopping e voltamos pra casa à noitinha.
Fiz o teste de iluminação da área da piscina. Ficou legal, um dia desses poderemos nadar à noite. Resta pouco a fazer nas áreas externas. Na parte da frente, talvez coloque mais uma luminária no jardim. Na parte do quintal, falta apenas repintar algumas paredes e recuperar a pérgula. O trabalho com a pérgula deverá começar nesta semana, aproveitando a vinda do jardineiro. O resto é manutenção.
domingo, 29 de abril de 2012
Eyesight To The Blind - Tommy
Coloquei uma prateleira na parede do escritório, para testar as reações. Ninguém fez nenhum comentário, o que significa que não está bom, mas também que não está ruim. Já pintei outras duas prateleiras para colocar, mas as cantoneiras se acabaram. As luminárias da casa estão consertadas e talvez coloque mais duas na parte da frente para incrementar a iluminação da entrada. Também estudei a parte do quintal e creio que consigo colocar mais duas lâmpadas para ampliar a luminosidade. Em geral, colocamos as crianças para dormir às nove da noite, mas logo, logo, teremos de parar com isso, elas estarão muito crescidas. Estamos numa espécie de temporada Harry Potter, porque assistimos aos filmes e lemos os livros da série nos últimos dias. Amanhã, segunda-feira, devo concluir o trabalho com a iluminação.
sábado, 28 de abril de 2012
Branca de Neve à tarde no shopping
Mirror Mirror - Soundtrack
Passamos a tarde no cinema. E nos divertimos muito com a nova versão de Branca de Neve.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Sobre acreditar
Hugh Laurie - You Don't Know My Mind
Conversamos outro dia no almoço, foi quando eu soube que as crianças não acreditavam mais no Papai Noel. Elas estavam dizendo o quanto queriam um Ipod, um Ipad e um telefone celular. Eu então disse que estava na hora de escrever para o Papai Noel, que tinham se comportado bem, estudado muito e coisa e tal, mas os dois fizeram careta e minha filha disse:
_Ah, paiê, eu sei que você é que é o Papai Noel - e apontou o dedo para mim.
Já se passaram algumas semanas, não é nenhuma novidade, mas aquilo me deixou um pouco abalado, não é todo dia que enterramos um mito. Elas estão crescendo muito rápido e às vezes eu me sinto como se estivesse feito o Felipe Massa, lá atrás, lutando muito para marcar uns pontinhos, e os dois lá na frente, feito o Vettel e o Webber, liderando de ponta a ponta. Talvez ele olhem para trás, onde eu estou, e até riam um pouco da minha caretice. Bom, pelo menos eu não tenho que brigar com um espanhol na minha equipe, já basta a minha mulher que é meio japonesa.
Nesse dia em que me contaram que eu é que sou o Papai Noel, eles também me disseram que não iriam mais escrever cartas para o Pólo Norte. Ficaram mesmo um pouco chateados porque eu insistia tanto para que escrevessem para o bom velhinho, sabendo que a carta nunca chegaria para um sujeito gordo, de faces rosadas e grande barba branca.
_Eu estou acima do peso e sempre posso deixar a barba crescer - eu disse, mas eles não se convenceram.
_Pai, você mentiu para nós. Papai Noel não existe - disse o meu filho.
É chato ser pego na mentira, especialmente pelo seu filho de oito anos. Para tentar equilibrar as coisas, eu tentei explicar que não era bem assim, que o Papai Noel era só uma figura inventada para explicar o espírito de Natal. E que talvez, no fundo, no fundo, o Papai Noel e o espírito de Natal fossem a mesma coisa. E se fossem, então eu não estava contando uma mentira, só estava dizendo a verdade de uma maneira fantasiada de vermelho, com um largo cinto de fivela. O Noel é o espírito de Natal dito de uma maneira menos complicada e mais fácil de entender.
_Como? - disse a minha filha.
_Não entendi nada - disse o meu filho.
_Paiê, você pirou? - insistiu a minha filha.
_É pai, o que isso tem a ver com espírito de Natal? - disse o meu filho.
Minha mulher me deu um chute na canela por baixo da mesa, porque era agora a hora da verdade, a hora em que você não pode gaguejar e nem truncar as frases porque as crianças estão atentas e estão prontas para uma impressão mental definitiva das suas palavras. Chamo isso de "Momento Guttenberg Cerebral". Quer dizer, chamo nada, acabei de inventar isso.
_O espírito de Natal é o mesmo que acreditar que é melhor ser bom, e que ser mau é ruim. O espírito de Natal também é sobre fazer as coisas, é acreditar que é melhor fazer o bem para você e para os outros, e que as más ações são ruins para você mesmo e para todo mundo. O espírito de Natal é acreditar que o bem só será respondido com gestos de bondade e coisas boas, e que até mesmo quem já fez muita maldade e coisa ruim pode fazer coisas boas. E, finalmente, só é possível acreditar no espírito de Natal se você acredita no nascimento do filho de Deus entre os homens.
As crianças ficaram em silêncio. Minha mulher não me deu mais nenhum chute na canela. De repente, todo mundo começou a falar ao mesmo tempo.
_Pai, quer dizer que o Papai Noel é filho de Deus? - disse o meu filho.
_E os duendes, paiê? E as renas? E a Mamãe Noel? - disse a minha filha.
Minha mulher olhava para mim com aquela cara de quero-ver-você-sair-dessa-jacaré. E a verdade é que eu não saí. Ou melhor, saí pela tangente. Tratei logo de perguntar como era o tal telefone celular que eles tanto querem.
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Luzes no jardim e no quintal
Bono & Edge - Stay
Esta foi uma semana dedicada à arrumação das luminárias do jardim. Foram três postes de iluminação e mais cinco luminárias de chão. Foi preciso substituir a fiação toda. Sou um péssimo eletricista, covarde e inseguro. Mas os caras estão cobrando cem pratas só para ir até a sua casa, então eu enfrento os meus medos. Na maioria das vezes só faço as coisas se desligar a chave. Como não posso interromper a energia da casa inteira, para não impedir o trabalho da Rose e também para não perder as provisões, tenho que ir para o quadro de energia. Todas as vezes que estou de frente para o quadro de disjuntores eu penso que preciso colar uma etiqueta em cada chave para não perder tempo. O problema é que para fazer isso sozinho gasto muito tempo. E sempre deixo para a próxima. Foi o que aconteceu outra vez. Apesar do tempo perdido consegui concluir na manhã de hoje os consertos da parte de trás da casa. Na parte da frente, eu só precisava colocar em ordem duas luminárias de chão. Por isso, achei que seria moleza. E realmente a troca de fios e as ligações em linha foram feitas rapidamente. Eu pensava que o mesmo interruptor do alpendre também servisse para as luminárias e por isso não me preocupei com o quadro de energia e nem em desligar a chave. No final, quase levei um choque, pois as luminárias estavam ligadas. Procurei o interruptor e não havia nenhum que desligasse as luminárias. No pequeno hall de entrada havia um ponto cego com um bôlôlô de fios pretos, vermelhos, azuis e amarelos. Como já estava escuro, precisei fazer essa parte do serviço com a ajuda de lanternas. Acreditei ter achado os fios certos e liguei um interruptor do meu estoque. A chave do disjuntor caiu e percebi que havia feito alguma coisa errada. Ainda tentei uma nova ligação com um novo interruptor, mas a chave tornou a cair. Amanhã eu resolvo. Ao mesmo tempo em que preparava as luminárias, também cuidei da nova estante do escritório. Pintei de branco três tábuas de 2,2 metros para fazer as prateleiras. Amanhã elas deverão estar secas. A idéia é só apoiá-las com cantoneiras retas na parede. Tenho um monte de cantoneiras brancas aqui em casa. Caso não fique legal, uso as tábuas para outra coisa.
No final da tarde, gosto de ficar de frente para o quintal. A grama está bem aparada, temos pés de framboesa, pitanga, manga, jabuticaba, acerola e limão. O pé de acerola está meio inclinado desde que um galho da árvore do vizinho caiu sobre ele, dias antes da minha mudança. A batata do pé de acerola está assando faz tempo, mas ainda não decidimos o que plantar no lugar. A árvore está mais inclinada que a torre de Pisa, tem bem uns 40 graus de inclinação. Aos poucos, bem poucos, estamos modelando esse lar. Há sempre muito a fazer. Isso é o que me deixa mais feliz.
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Papel velho
The Wallflowers e Bruce Springsteen- One Headlight
Fiz uma boa limpeza no escritório e joguei um monte de papel velho fora. Eu devia ter pelo menos umas duas resmas de contas e recibos velhos. Joguei fora textos impressos que eu jamais leria, notícias de antigamente, artigos e até crônicas que um dia publiquei. Algumas coisas eu guardei, claro, quem sabe da próxima vez eu crio coragem e atiro no lixo. Mesmo assim, um dos armários continua lotado de velharias. Estive pensando sobre os quadrinhos, tenho cerca de mil revistas estocadas neste armário. Elas estão bem protegidas com plástico celofane, mas é impossível evitar que as páginas fiquem amareladas e quebradiças. Felizmente estão livres da umidade. Talvez seja melhor vender.
A arrumação do armário despertou a vontade de finalmente organizar melhor o escritório. Vou precisar de mais prateleiras para colocar os livros e os quilos de CDs e DVDs acumulados durante todos esses anos. Tenho algumas tábuas de pinus e duas grandes tábuas de assoalho que pretendo utilizar. Como já aconteceu em outros períodos, já faz tempo que não compro um livro novo para mim. Fico relendo os livros que gosto.
Nesta semana, reservei para reler o genial "Perturbação" de Thomas Bernhard. Comprei esse meu exemplar da editora Rocco lá pelo ano 2000. O original foi publicado em 1967, na Alemanha. Comprei o livro porque tinha sido atraído pela bela capa: um homem prestes a desembainhar a espada, assombrado por algo que não se vê - a orelha do livro informa que é um detalhe do quadro "O triunfo da Morte" de Brueghel, o velho. "Perturbação" é um livro delirante e trágico.
Depois de tantos anos, aproveito a internet para conferir o quadro de Brueghel. É uma tela impressionante, uma cena de Juízo Final com guerra e destruição, com esqueletos à pé ou montados em cavalos igualmente esqueléticos ceifando vidas e mais vidas. Localizo rapidamente o detalhe da capa - é o homem que está no canto inferior direito da cena, à frente de uma mesa de jogo onde existe uma bandeja com um crânio dentro. Ele observa paralisado de horror as pessoas sendo tocadas por um exército de esqueletos para dentro de uma espécie de contêiner. Os que tentam resistir são mortos por outros esqueletos que parecem usar mortalhas. A tela é de 1567. E continua muito, muito impressionante.
terça-feira, 24 de abril de 2012
Cole, por favor
Aretha Franklin Live Antibes Festival 1970
Todas as semanas eu encontro pelo menos um bilhete sobre a minha mesa. Nele, com letra cada vez mais bonita, está escrito "Cole, por favor" ou algo parecido. O bilhete é quase sempre da minha filha. Hoje, por exemplo, havia um boneco de plástico descabeçado sobre o bilhete. Era dos difíceis, eu teria que furar e improvisar um pescoço estepe com um pedaço de plástico macio. Uma coisa besta dessas custou vinte minutos. Quinze minutos foram para encontrar um pedaço de plástico que servisse.
_Filha, seu boneco está consertado - eu berrei.
Minha filha veio, olhou para o boneco e o descabeçou novamente com um puxão.
_Não, paiê, a cabeça desse boneco é do tipo que sai - ela me explicou.
_Pôxa, gastei vinte minutos para colar essa cabeça.
_Ficou quase bom, paiê, mas a cabeça desse boneco é de tirar. Tudo é de tirar, olha - ela disse.
E então ela destacou os braços, as mãos, os pés, as pernas e as duas metades do tronco.
_Hum. Tudo bem, deixa aí que depois eu conserto - eu disse.
_Você consegue, paiê.
O menino também deixa os seus recados. Em geral é pedido para ajudar com a pesquisa do dever de casa. Hoje em dia é muito fácil recorrer ao Google, então as professoras recomendam que as pesquisas sejam feitas em livros, enciclopédias e revistas. Também é preciso colar, recortar e ilustrar. Mesmo assim, o tempo gasto com a pesquisa não dura mais do que uns dez minutos.
_Pai, como é o carnaval em Veneza?
_Por quê?
_É pesquisa da escola.
Caramba, eu pensei, aprender é pescar pérolas entre irrelevâncias.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
A dieta do peixe Beta
The Black Keys - Gold On The Ceiling
Minha primeira opção para animal de estimação sempre foi um vegetal. De preferência, um cactus, que não precisa de muita água. Mas as crianças nunca acharam essa minha preferência muito divertida. Então fizemos uma votação e meu vegetal de estimação perdeu para um cachorrinho.
_Podemos chamar o cactus de Rex - eu ainda tentei, mas eles não quiseram saber.
Algumas semanas depois, no aniversário da minha filha, minha mulher trouxe um cãozinho bebê shi-tsu para casa e Rafa entrou para a família. Desde então, o assoalho e os pés dos móveis daqui de casa nunca mais foram os mesmos. Mas já nos acostumamos. Rafa é um bom cãozinho, apesar de alguns vacilos. Nessas horas, só pra chatear, eu sempre lembro a todos da minha preferência inicial.
_Se fosse o Rex, não teria feito xixi no sofá - eu digo.
_Pai, um cactus não faz xixi.
_É, mas se fosse o Rex, ele também não teria feito o número dois no tapete - eu digo.
_Pai, vegetais não fazem número dois.
Só pra chatear, eu jogo uma bola para o Rafa ir pegar.
_Pega, Rafa, traz a bola, anda - eu digo.
E o Rafa, nada.
_O Rafa pega a bola tão bem quanto o Rex - eu digo, só pra chatear.
Por muito tempo, vivemos felizes só com um bicho de estimação. Até que outro dia, minha filha voltou do aniversário de uma amiguinha com um peixinho de aquário que ganhou de lembrancinha.
_Paiê, essa é a Beta, a minha peixinha - ela disse.
_Como você sabe que é uma menina? - eu disse.
_Paiê, ô, ela é cor-de-rosa, é claro que é uma menina - disse a minha filha.
Isso aconteceu tem umas duas ou três semanas. Tivemos que improvisar um vaso de vidro como aquário e morri numa grana preta numa loja especializada em peixes. Desde então, além da higiene e alimentação do Rafa, naturalmente assumi os cuidados com a Beta. Pelo menos até hoje de manhã.
_Foi você que colocou comida para a Beta? - disse a minha mulher.
_Foi, ué, por quê? Aconteceu alguma coisa? - eu disse.
_Você colocou comida demais, aquela peixa parece doente - ela disse.
_Comida demais? Como assim? Coloquei seis daqueles grãozinhos vermelhos, de acordo com as orientações do homem da loja de aquários - eu disse.
_Não, senhor, você colocou muito mais - ela disse.
_Bom, pode ter sido um ou dois grãos a mais - eu disse.
_Acho que você passou da conta, a Beta parece que vai estourar - disse a minha mulher.
_Vai ver são gases - eu disse.
_Não, senhor, foi excesso de comida, você extrapolou. E se aquele bicho aparecer boiando, você é quem vai explicar tudo para a sua filha - disse a minha mulher.
_Tudo bem, tudo bem - eu disse, encerrando a conversa porque as crianças estavam se aproximando.
E no resto do dia fiquei monitorando o peixe no aquário. Teve uma hora que fiquei bem preocupado porque ele/ela parecia estar de cabeça para baixo. Será que vou ter que fazer respiração boca-a-boca num peixe? - eu delirava. Mas depois o bicho ficou normal. Sim, mas daí a pouco ele ficou parado um tempão lá no fundo e fiquei bem preocupado de novo. Seria fácil encontrar um beta cor-de-rosa substituto? Estou em contenção de despesas nível 5 alerta vermelho, mas emergência é emergência. E se não encontrasse, eu compraria de qualquer cor e diria que a Beta tinha passado por uma metamorfose, será que colava? Não, claro que não. Ou talvez sim, se eu dissesse que ela havia comido uma lagarta, hein, hein?
_Se fosse com o Rex, isso jamais aconteceria - eu pensava.
Foram quase doze horas de tensão e suspense, até que por volta das dezenove horas, uma grande bolha surgiu por baixo da Beta. Desde então, Beta parece sorrir, cor-de-rosa e faceira, nadando em círculos no seu aquário. Seja como for, a partir de hoje, a dieta da Beta será mais rigorosa do que a de uma super-model.
domingo, 22 de abril de 2012
Adotivo
Minha filha tem sete anos e se aproxima com cautela. Eu estou no computador, organizando alguns arquivos sobre marcenaria. Ela está de rabo de cavalo, fica ainda mais linda desse jeito.
_Paiê, posso fazer uma pergunta?
_Mas é claro, princesa. Não precisa dessa cerimônia - eu disse.
_É que ... você pode falar a verdade, viu, paiê, eu estou preparada - ela disse.
_Sim, sim, vou falar. Qual é a pergunta?
_Você é adotivo, paiê?
_Ado... Não, não, eu sou filho do vovô e da vovó. Quero dizer, sou filho gerado pelos seus avós, que também me criaram.
_Fala sério, paiê. Pode falar, eu aguento.
_Mas minha filha, eu não fui adotado. De verdade.
_Ah, paiê, pode falar, eu sou forte, eu não ligo se você for adotado.
_Bom, se é assim, então eu vou dizer a verdade - eu disse. E nessa hora, seus olhos brilharam em lágrimas.
_Eu sabia - ela disse.
_A verdade é o que eu já havia dito antes, eu não fui adotado - eu disse.
_Ah, paiê, você acha que eu não sei. Você é tão diferente do vovô e do Timárcio - ela disse.
_Ok, você venceu. É difícil falar sobre essas coisas, já faz tanto tempo. Mas você descobriu tudo sozinha. Já viu que somos todos bem diferentes. Seu vovô usa bigodes. Seu tio tem os olhos azuis. Meninas inteligentes como você não deixam passar nada. Eu vou te contar a verdade, mas não conta nada para ele: seu tio foi adotado - eu disse.
_Meu tio! - ela disse.
_Ssshhht! Não conta nada pra ele, é segredo - eu disse.
E é mentira, é claro, e logo eu percebo que não devia ter falado aquilo, porque minha filha está chorando baixinho, fortes soluços sacodem seus ombros.
_É brincadeira, filha, seu tio não foi adotado, ele é meu irmão de verdade - eu disse.
_Não, paiê, eu sei que você está com medo de dizer que eu sou adotada - ela disse.
_Impossível, filha. Eu tenho fotos do seu nascimento. E eu e sua mãe te vigiamos desde aquele dia, não tem o menor perigo de você ter sido trocada no berço.
Mas ela está inconsolável. Eu digo que ela tem o meu nariz, as minhas orelhas, o meu queixo e nada a convence. Eu digo que ela tem o meu jeitão, que é mandona como eu, mas ela não se anima. Então eu encontro os arquivos de fotos no computador e vamos olhando as centenas de fotos que acompanham as nossas vidas. Só depois de muito tempo ela se acalma.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
MMA no Supremo
Sempre usei um navegador para publicar as postagens. Hoje fui avisado de que não posso mais usar o antigo navegador para atualizar o blog. Não tem problema, uso esse outro navegador, mesmo que ele trunque algumas palavras.
A audiência da TV Justiça aumentou quase zero ponto um por cento desde que aquele ministro Barbasa disse uns desaforos sobre o outro ministro, o Peliso. Tem gente que não vê a hora de chamarem o Pedro Bilal para ser o apresentador/animador de mais essa baixaria dos nossos supremos. Meu amigo Velho Tom, que não suporta BBB, acredita que alguns dos juizíssimos têm o perfil mais adequado para um espetacular MMA dos Togados. Eu imagino como seria uma luta entre algumas das estrelas supremas da nossa justiça, que tarda, tarda, tarda e acaba prescrevendo. Neste canto do ringue, Barbasa, de pé, encara com ferocidade o ex-presidente Peliso, que finge que o outro está ausente. Barbasa toma a iniciativa e atira uma constituição em Peliso, que se abaixa no último instante e tenta dar uma cotovelada em Barbasa. O juiz interrompe a luta porque outros dois juízes supremos sobem no ringue para lutar: Levanduísque e Melllo. A luta promete.
A audiência da TV Justiça aumentou quase zero ponto um por cento desde que aquele ministro Barbasa disse uns desaforos sobre o outro ministro, o Peliso. Tem gente que não vê a hora de chamarem o Pedro Bilal para ser o apresentador/animador de mais essa baixaria dos nossos supremos. Meu amigo Velho Tom, que não suporta BBB, acredita que alguns dos juizíssimos têm o perfil mais adequado para um espetacular MMA dos Togados. Eu imagino como seria uma luta entre algumas das estrelas supremas da nossa justiça, que tarda, tarda, tarda e acaba prescrevendo. Neste canto do ringue, Barbasa, de pé, encara com ferocidade o ex-presidente Peliso, que finge que o outro está ausente. Barbasa toma a iniciativa e atira uma constituição em Peliso, que se abaixa no último instante e tenta dar uma cotovelada em Barbasa. O juiz interrompe a luta porque outros dois juízes supremos sobem no ringue para lutar: Levanduísque e Melllo. A luta promete.
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Dia do bom selvagem
Children Collide - Sword to a Gunfight
No Dia do ìndio, meus filhos não viram os índios na escola. Estavam na maior expectativa, mas só quem apareceu foi um sujeito que trabalha na FUNAI.
_Ele disse que estava ali representando os índios - falou o meu filho.
_Caramba, os intermediários chegaram até as efemérides! - eu pensei.
_Nossa, se essa moda pega, no dia das mães enviaremos o obstetra - eu disse.
_O quê? - ele disse.
_No dia das mães, eu vou representar a sua mãe - eu disse.
_Não, pai, se você for eu não vou cantar pra você - ele disse.
_Estou só brincando. Sua mãe adora o dia das mães na escola - eu disse.
No almoço, meu filho me disse que os índios aproveitam a natureza racionalmente, utilizam ao máximo os recursos naturais, blá, blá, blá.
_Filho, os índios são nômades. Isso significa que eles esgotam a comida de um território e se mudam para outro. E índio é gente. Tem índio inteligente, tem índio bocó, tem índio que faz besteira, tem índio que sabe usar bem os recursos naturais. Tem índio rico e tem índio que passa fome e vive doente.
_Mas pai, os índios preservam a natureza.
_E nós também. É só cada um fazer a sua parte - eu disse.
À tarde, nós pesquisamos sobre Hans Staden e Cunhambebe, o grande guerreiro tupinambá.
_Ele era antropófago! Comia partes dos corpos dos inimigos para absorver as suas qualidades - leu o meu filho.
Fez uma careta.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Impressões de abril
Orgone "Give it Up"
Termino amanhã mais um banco de três lugares para a área externa da casa. Será o segundo banco para o local. Fiz com a raspa do tacho das madeiras. Pintei de vermelho e amarelo. Depois coloco uma foto aqui. Também reformei o nosso velho carrinho-bar, que possui uma bonita estrutura de metal cromado com três pés e rodinhas. Mantive a cor original, só encerei com cera transparente. Ah, também troquei as rodas do carrinho. Acho que ficou sem-graça, talvez eu pinte de uma cor mais alegre.
Saí de casa apenas para levar as crianças para as escolas. Em todas as vezes, o plano era retornar com um pacote de comida para o Rafa, que é o cãozinho shi-tsu da minha filha. Mas acabei me esquecendo. Por fim, tive que ir agora mesmo. Rafa parece ter gostado dessa marca. Uma vez, sem querer, comprei comida de gato para o Rafa. Ele detestou.
Coisas a fazer que ainda estou enrolando: arrumar a iluminação do jardim e repintar as paredes da sala e da área do forno de pizza. Os dois locais estão com a pintura descascada e com uma aparência bem ruim.
Abri o principal jornal de hoje e não havia nem uma mísera linha sobre a CPI da Arapongagem na Câmara. Às vezes, a capital do país parece aquela cidadezinha controlada pelo coroné.
Ah, e clique aqui para saber porque no Brasil a justiça tarda, tarda, mas mostarda.
terça-feira, 17 de abril de 2012
O trema caiu
Já faz um bom tempo que navego pouco. Cansei. Perambulo um pouco pelos blogs aqui do lado, algumas notícias e pronto. Nada muda. Enchentes, seca, corrupção, ladroagem pura e simples, violência, burrice e incompetência a dar com pau. Já não consigo achar graça no mau-caratismo predominante. O cinismo impera. Estamos saturados. Nada desperta a nossa indignação. Só agora entendo porque as frases do Millor eram sempre tão curtas. Procuro manter o bom-humor, mas não sei bem o motivo. Conheço alguns sujeitos mal-humorados bem simpáticos. Já não sei mais quando se usa o hífen. A gente leva quase uma vida aprendendo a escrever e de repente alguns malucos resolvem que as regras mudaram. Ô Mané, o trema caiu.
No almoço, as crianças disputam quem diz mais gracinhas do que o outro. Os almoços são sempre divertidos, mas há sempre alguma coisa para se fazer, um outro programa, uma outra atividade, uma saída apressada. Hoje foi assim. Saí correndo depois do almoço, minha filha se esqueceu de alguma coisa na última hora. Sempre voltamos para buscar alguma coisa. As regras mudaram, o trema caiu.
Na volta do clube onde as crianças fazem judô, natação e circo, eu vejo aquele out-door em que o governo local diz que investiu um bilhão em obras. Onde estarão? Li no jornal que a licitação para a renovação da frota de ônibus foi adiada. Serão adquiridos mais de três mil ônibus até 2013. Por quê não fazem pequenas licitações, em lotes, por pregão? Talvez porque querem apenas um vencedor. O mesmo jornal informa que a greve dos professores já completou um mês. Lembro que em outro governo a categoria ficou mais de 180 dias em greve e não levou um centavo de aumento. A propaganda do sindicato diz que a proposta de reajuste não cobre a inflação. Gozado, os governantes, quando candidatos, sempre dizem que dão prioridade à educação. O mesmo acontece com a saúde. E a segurança. E o transporte público. Cansa.
No almoço, as crianças disputam quem diz mais gracinhas do que o outro. Os almoços são sempre divertidos, mas há sempre alguma coisa para se fazer, um outro programa, uma outra atividade, uma saída apressada. Hoje foi assim. Saí correndo depois do almoço, minha filha se esqueceu de alguma coisa na última hora. Sempre voltamos para buscar alguma coisa. As regras mudaram, o trema caiu.
Na volta do clube onde as crianças fazem judô, natação e circo, eu vejo aquele out-door em que o governo local diz que investiu um bilhão em obras. Onde estarão? Li no jornal que a licitação para a renovação da frota de ônibus foi adiada. Serão adquiridos mais de três mil ônibus até 2013. Por quê não fazem pequenas licitações, em lotes, por pregão? Talvez porque querem apenas um vencedor. O mesmo jornal informa que a greve dos professores já completou um mês. Lembro que em outro governo a categoria ficou mais de 180 dias em greve e não levou um centavo de aumento. A propaganda do sindicato diz que a proposta de reajuste não cobre a inflação. Gozado, os governantes, quando candidatos, sempre dizem que dão prioridade à educação. O mesmo acontece com a saúde. E a segurança. E o transporte público. Cansa.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Minha pequena máquina do tempo
Aqui estou eu, nessa exposição de fotografia, numa embaixada très chic. Faz muito tempo. Eu me acho pra xuxu. Estou com uns trinta anos, tenho um carro do ano, bons investimentos no overnight, todos os dentes(menos os sisos que tirei na adolescência para colocar o aparelho), muito cabelo e muita, muita empáfia. Meninos, eu realmente me achava. Dava para se notar com uma olhadela. Meus sapatos brilham, estão muito bem encerados.
Estou examinando essa foto com um copo de vinho branco na mão. A outra tem um cigarro. Faz um calor dos diabos, meus óculos estão começando a embaçar. Eu sei como segurar um copo de vinho branco e ninguém liga a mínima para o cigarro. Hoje já esqueci como se faz as duas coisas, mas naquela época eu conseguia fumar, beber vinho e conversar, tudo ao mesmo tempo. Meus sapatos brilham. Estou olhando para essa foto, que tinha sido tirada por alguém muito famosa e inteligente.
Eu realmente consigo dizer muita coisa sobre aquela foto para a pessoa que está ao meu lado. Ela está impressionada, eu acho. Agora está tocando aquela música dos Beatles, "When I´m 64".
_Como você se vê daqui a 30 anos? Quero dizer, você consegue se ver daqui a trinta anos? - ela disse.
_Claro que consigo - eu disse.
_Então, como vai ser?
_Com óculos, daqui a trinta anos só vou conseguir me ver com óculos - eu disse.
Ela ri, é claro. Eu achava que sabia dizer coisas engraçadas. Eu me achava.
_Não, sério, como você se vê com 64 anos? - ela disse. .
_Eu me vejo velho - eu digo - com um óculos bifocal, diversas próteses na boca, dores nos joelhos, dores nas costas e nos braços, cãibras, careca e com problemas de audição. Também vejo que já terei parado com o cigarro e com a birita, que estarei preocupado com o colesterol, com o excesso de peso, com a educação dos filhos, com a rotina e com a falta de perspectivas - eu disse. Ela não achou graça nenhuma.
Eu olho para os meus sapatos e eles brilham um bocado, agora. Ainda faltam alguns anos para 64 mas o futuro está bem claro, exatamente como eu disse que seria.
Estou examinando essa foto com um copo de vinho branco na mão. A outra tem um cigarro. Faz um calor dos diabos, meus óculos estão começando a embaçar. Eu sei como segurar um copo de vinho branco e ninguém liga a mínima para o cigarro. Hoje já esqueci como se faz as duas coisas, mas naquela época eu conseguia fumar, beber vinho e conversar, tudo ao mesmo tempo. Meus sapatos brilham. Estou olhando para essa foto, que tinha sido tirada por alguém muito famosa e inteligente.
Eu realmente consigo dizer muita coisa sobre aquela foto para a pessoa que está ao meu lado. Ela está impressionada, eu acho. Agora está tocando aquela música dos Beatles, "When I´m 64".
_Como você se vê daqui a 30 anos? Quero dizer, você consegue se ver daqui a trinta anos? - ela disse.
_Claro que consigo - eu disse.
_Então, como vai ser?
_Com óculos, daqui a trinta anos só vou conseguir me ver com óculos - eu disse.
Ela ri, é claro. Eu achava que sabia dizer coisas engraçadas. Eu me achava.
_Não, sério, como você se vê com 64 anos? - ela disse. .
_Eu me vejo velho - eu digo - com um óculos bifocal, diversas próteses na boca, dores nos joelhos, dores nas costas e nos braços, cãibras, careca e com problemas de audição. Também vejo que já terei parado com o cigarro e com a birita, que estarei preocupado com o colesterol, com o excesso de peso, com a educação dos filhos, com a rotina e com a falta de perspectivas - eu disse. Ela não achou graça nenhuma.
Eu olho para os meus sapatos e eles brilham um bocado, agora. Ainda faltam alguns anos para 64 mas o futuro está bem claro, exatamente como eu disse que seria.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Febre - uma tentativa de repostagem
Ontem fiz um post enorme sobre febre que simplesmente sumiu. Achei que tinha publicado e o danado do post desapareceu. O que segue abaixo é uma tentativa de repostagem.
Meu filho teve febre na escola e passou mal. Foi por causa disso que eu me lembrei de uma vez que também passei mal na escola.
Eu estava na terceira série, numa escola pública da minha superquadra. Na época, as pessoas confiavam no ensino que oferecido nas escolas públicas. Os professores eram muito respeitados. Lembro que eu estava na aula de ciências. Eu não gostava muito da aula de ciências. A professora se chamava D.Cecília ou D. Conceição, não sei mais. Usava muletas de metal, as primeiras que vi na vida, tinha uma perna mais fina do que a outra, acho que era vítima da poliomielite. D. Cecília era uma das professoras mais envelhecidas da escola. Também era muito rigorosa e irritada, eu não gostava muito de olhar para ela. Ela gostava de fazer perguntas para os alunos. E eu me embasbacava todo quando ela fazia perguntas para mim. Então eu não olhava para ela.
Lembro que estava fazendo outra coisa enquanto a professora falava, com voz monótona, sobre os estados físicos da matéria. Eu estava em estado físico sonolento. De repente, o menino que estava do meu lado perguntou se eu estava me sentindo bem.
_Eu acho que não - eu disse. E fechei a mão esquerda bem forte.
Então eu apaguei. Num instante, D. Cecília já estava do meu lado me ajudando a ser levado até a secretaria da escola. Fui colocado sobre um grande banco de madeira que havia na antesala da diretoria. Disseram que fiquei branco, branco, branco e desmaiei. Fui socorrido com copos de água gelada e chá. Colocaram uma toalha molhada sobre a minha testa. Alguém mediu a minha temperatura, não tinha febre nem nada, mas suava frio. As mulheres debateram os motivos para o desmaio. Eu continuava com a mão fechada, bem apertada. D. Cecília me perguntava sobre alergias, asma, bronquite, dor-de-cabeça, diarréia, vômito, diabetes e se alguém havia batido na minha barriga. Eu não disse nada. Só apertava a mão fechada. Elas decidiram depois de alguns minutos que só poderia ter sido alguma coisa que eu tinha comido porque de repente eu comecei a passar mal e a ficar enjoado. Acho que me deram chá de camomila. Até hoje não gosto de chá de camomila.
_O que foi que você comeu? Melancia? Goiaba? Manga? Bebeu café? Comeu ovo? - me perguntaram. E eu disse que tinha comido ovo. Eu adorava ovos no café-da-manhã, uma novidade deliciosa que minha mãe tinha introduzido não fazia muito tempo, porque eu estava muito magro e fraco para a idade. Ovos cozidos eram a minha regalia.
_Foi o ovo! - elas disseram quando a minha mãe chegou, esbaforida, para ver o que tinha acontecido comigo. Tentei protestar, mas quem era eu para saber mais do que todas aquelas pessoas solícitas e preocupadas. Apertei a minha mão esquerda e fui embora com a minha mãe.
Em casa, quando tive certeza de que não seria surpreendido, abri a minha mão e lá estava o pequeno ponto vermelho, a marca que até hoje está estampada logo abaixo do indicador. Foi ali que eu enfiei, sem querer, toda a ponta do meu compasso, e era uma ponta bem grande. Eu estava escarafunchando o meu nome na lateral da carteira com a ponta de aço do compasso. Usava a mão esquerda aberta sobre a carteira para maior apoio e pressão com a mão direita. Numa das investidas, a ponta do compasso resvalou e cravou na minha outra mão. Comecei a passar mal logo depois que tirei a ponta do compasso e um pequeno fio de sangue começou a escorrer do furo na minha mão.
Nesse ponto do post que desapareceu eu fazia um arrazoado longo, não me lembro mais como foi. Eu chegava à conclusão de que os acontecimentos da minha vida não carregam significados ocultos e nem lições preciosas. Talvez, com um pouco de boa vontade, carreguem lições mínimas que eu mesmo esqueci e por vezes até desdenho um pouco. Eu lembrava que venho fazendo isso há mais de cinco anos neste blog, contando minhas historinhas chinfrins, minhas elocubrações bestas, minhas conclusões absurdas, meu dia-a-dia simplório e sem-graça. Também lembrava que fazia isso sem um propósito definido, mas com a intenção clara de dizer coisas que estão travadas na minha garganta. Às vezes consigo isso, e no post de ontem, eu realmente havia conseguido, embora agora já não tenha tanta certeza.
Seja como for, hoje meu filho está bem.
Meu filho teve febre na escola e passou mal. Foi por causa disso que eu me lembrei de uma vez que também passei mal na escola.
Eu estava na terceira série, numa escola pública da minha superquadra. Na época, as pessoas confiavam no ensino que oferecido nas escolas públicas. Os professores eram muito respeitados. Lembro que eu estava na aula de ciências. Eu não gostava muito da aula de ciências. A professora se chamava D.Cecília ou D. Conceição, não sei mais. Usava muletas de metal, as primeiras que vi na vida, tinha uma perna mais fina do que a outra, acho que era vítima da poliomielite. D. Cecília era uma das professoras mais envelhecidas da escola. Também era muito rigorosa e irritada, eu não gostava muito de olhar para ela. Ela gostava de fazer perguntas para os alunos. E eu me embasbacava todo quando ela fazia perguntas para mim. Então eu não olhava para ela.
Lembro que estava fazendo outra coisa enquanto a professora falava, com voz monótona, sobre os estados físicos da matéria. Eu estava em estado físico sonolento. De repente, o menino que estava do meu lado perguntou se eu estava me sentindo bem.
_Eu acho que não - eu disse. E fechei a mão esquerda bem forte.
Então eu apaguei. Num instante, D. Cecília já estava do meu lado me ajudando a ser levado até a secretaria da escola. Fui colocado sobre um grande banco de madeira que havia na antesala da diretoria. Disseram que fiquei branco, branco, branco e desmaiei. Fui socorrido com copos de água gelada e chá. Colocaram uma toalha molhada sobre a minha testa. Alguém mediu a minha temperatura, não tinha febre nem nada, mas suava frio. As mulheres debateram os motivos para o desmaio. Eu continuava com a mão fechada, bem apertada. D. Cecília me perguntava sobre alergias, asma, bronquite, dor-de-cabeça, diarréia, vômito, diabetes e se alguém havia batido na minha barriga. Eu não disse nada. Só apertava a mão fechada. Elas decidiram depois de alguns minutos que só poderia ter sido alguma coisa que eu tinha comido porque de repente eu comecei a passar mal e a ficar enjoado. Acho que me deram chá de camomila. Até hoje não gosto de chá de camomila.
_O que foi que você comeu? Melancia? Goiaba? Manga? Bebeu café? Comeu ovo? - me perguntaram. E eu disse que tinha comido ovo. Eu adorava ovos no café-da-manhã, uma novidade deliciosa que minha mãe tinha introduzido não fazia muito tempo, porque eu estava muito magro e fraco para a idade. Ovos cozidos eram a minha regalia.
_Foi o ovo! - elas disseram quando a minha mãe chegou, esbaforida, para ver o que tinha acontecido comigo. Tentei protestar, mas quem era eu para saber mais do que todas aquelas pessoas solícitas e preocupadas. Apertei a minha mão esquerda e fui embora com a minha mãe.
Em casa, quando tive certeza de que não seria surpreendido, abri a minha mão e lá estava o pequeno ponto vermelho, a marca que até hoje está estampada logo abaixo do indicador. Foi ali que eu enfiei, sem querer, toda a ponta do meu compasso, e era uma ponta bem grande. Eu estava escarafunchando o meu nome na lateral da carteira com a ponta de aço do compasso. Usava a mão esquerda aberta sobre a carteira para maior apoio e pressão com a mão direita. Numa das investidas, a ponta do compasso resvalou e cravou na minha outra mão. Comecei a passar mal logo depois que tirei a ponta do compasso e um pequeno fio de sangue começou a escorrer do furo na minha mão.
Nesse ponto do post que desapareceu eu fazia um arrazoado longo, não me lembro mais como foi. Eu chegava à conclusão de que os acontecimentos da minha vida não carregam significados ocultos e nem lições preciosas. Talvez, com um pouco de boa vontade, carreguem lições mínimas que eu mesmo esqueci e por vezes até desdenho um pouco. Eu lembrava que venho fazendo isso há mais de cinco anos neste blog, contando minhas historinhas chinfrins, minhas elocubrações bestas, minhas conclusões absurdas, meu dia-a-dia simplório e sem-graça. Também lembrava que fazia isso sem um propósito definido, mas com a intenção clara de dizer coisas que estão travadas na minha garganta. Às vezes consigo isso, e no post de ontem, eu realmente havia conseguido, embora agora já não tenha tanta certeza.
Seja como for, hoje meu filho está bem.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Eles podem pintar o seu meio-fio
São apenas oito e trinta da manhã, mas eles começaram bem antes disso. Os dois caras de boné e camiseta resolveram iniciar o dia na minha rua, eu os vi quando levei as crianças para a escola. Com a operação tartaruga da PM, a greve dos professores, a escrotidão na segurança pública, o esbulho da saúde, as picaretagenss licitações , um bilhão torrado na porra de um estádio de futebol e o cinismo de sempre dos governantes, a cidade está indo para o buraco rapidinho. Então esses sujeitinhos de boné chegaram na minha porta. Tocaram a campainha sem piedade.
_O que você quer? - eu disse. Eu sou uma simpatia no interfone.
_É o meio-fio, doutor. Estamos aqui para pintar o seu meio-fio - ele disse.
_Não, obrigado, ele está com uma cor legal - eu disse.
_Nós vamos pintar de branco, doutor. Já pintamos a rua quase toda - ele disse.
_Pode pular a minha casa - eu disse.
_Mas vai ficar feio, doutor. A rua toda pintada e só a sua casa sem o meio-feio branco - ele disse.
Um sinal? Eu, na minha louca paranóia, pensei logo num sinal. A marginália se organizando, pintando o meio-fio dos que devem ser deixados de lado, deixando de pintar as casas que devem ser atacadas. Ou o contrário. O importante é se confundir com a manada, gritou o meu instinto de sobrevivência.
_E aí, doutor? Vai querer que pinte ou não vai? - disse um dos caras de boné pelo interfone.
_Espera um instante - eu disse. E corri para olhar pela janela. A rua inteira com os meio-fios pintados de branco. Faltava só a minha casa e a do meu vizinho. Manada, eu pensei.
_Pode pintar - eu falei.
_Tem de cinco, de oito e de dez - ele disse.
_Como é?
_Tem de cinco...
_Faz a de cinco - eu disse.
Dois minutos depois os caras tocaram novamente no interfone.
_Está prontinho, doutor.
Saí e estendi os cinco mangos para os caras de boné. Sei que eles avaliaram todos os meus movimentos. Que contaram as voltas que dei na chave, que me observaram cuidadosamente. Eu também observei os dois com cuidado, tirei fotos de quando conversaram comigo no videofone. Prestei atenção quando foram até o vizinho e tocaram a campainha. Ficaram por lá uns quinze minutos, depois subiram a rua lentamente. Um deles carregava uma lata de tinta, o outro levava os pincéis enrolados em jornais. No final da tarde caiu uma chuva bem leve. Mesmo assim ela foi suficiente para lavar todo o meio-fio da minha rua.
_O que você quer? - eu disse. Eu sou uma simpatia no interfone.
_É o meio-fio, doutor. Estamos aqui para pintar o seu meio-fio - ele disse.
_Não, obrigado, ele está com uma cor legal - eu disse.
_Nós vamos pintar de branco, doutor. Já pintamos a rua quase toda - ele disse.
_Pode pular a minha casa - eu disse.
_Mas vai ficar feio, doutor. A rua toda pintada e só a sua casa sem o meio-feio branco - ele disse.
Um sinal? Eu, na minha louca paranóia, pensei logo num sinal. A marginália se organizando, pintando o meio-fio dos que devem ser deixados de lado, deixando de pintar as casas que devem ser atacadas. Ou o contrário. O importante é se confundir com a manada, gritou o meu instinto de sobrevivência.
_E aí, doutor? Vai querer que pinte ou não vai? - disse um dos caras de boné pelo interfone.
_Espera um instante - eu disse. E corri para olhar pela janela. A rua inteira com os meio-fios pintados de branco. Faltava só a minha casa e a do meu vizinho. Manada, eu pensei.
_Pode pintar - eu falei.
_Tem de cinco, de oito e de dez - ele disse.
_Como é?
_Tem de cinco...
_Faz a de cinco - eu disse.
Dois minutos depois os caras tocaram novamente no interfone.
_Está prontinho, doutor.
Saí e estendi os cinco mangos para os caras de boné. Sei que eles avaliaram todos os meus movimentos. Que contaram as voltas que dei na chave, que me observaram cuidadosamente. Eu também observei os dois com cuidado, tirei fotos de quando conversaram comigo no videofone. Prestei atenção quando foram até o vizinho e tocaram a campainha. Ficaram por lá uns quinze minutos, depois subiram a rua lentamente. Um deles carregava uma lata de tinta, o outro levava os pincéis enrolados em jornais. No final da tarde caiu uma chuva bem leve. Mesmo assim ela foi suficiente para lavar todo o meio-fio da minha rua.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Eu lhe darei uma garrafa cravejada de brilhantes
Sou um cara paranóico, vivo imaginando teoria da conspiração para tudo. Agora mesmo imaginei ter ouvido que a presidente da nossa republiqueta havia presenteado o Obama com uma garrafa de cachaça cravejada de brilhantes. Em primeiro lugar, eu pensei, quem tivesse uma idéia dessa só poderia estar de porre.
Depois eu fiquei pensando em como os caras convenceriam a presidente a ir em frente com essa idéia brega. E óbvio que para escolher uma idéia cheyenne como essa, tudo teria que ser discutido numa mesa redonda de aloprados:
_É Páscoa, minha gente. A presidente vai vestida de coelhinha, esconde a garrafa de cachaça no quintal da Casa Branca e coloca umas pegadas de papel no gramado para o Obama achar.
_É Páscoa, né cumpanheirada. A presidente vai de tailler flamengo(blusa vermelha e saia preta) com um ovo recheado de garrafinhas de chocolate com cachaça. Dentro de cada garrafinha vai um brilhante.
_Feliz Páscoa, companheiros. A presidentea desenha bigodes de coelho no Obama e deixa que ele desenhe bigodes nela. Em seguida os dois dividem um ovo de chocolate. Depois disputam no palitinho a garrafa de cachaça e os diamantes.
_Companheiros, a presidenta entra chutando a porta e depois quebra a garrafa no primeiro imperialista que aparecer no caminho...
_Gente, o que é isso? A presidenta chega com a maior classe e faz que nem o Nikita e desce a sapatada no primeiro ovo que encontrar, nem precisa ser o de páscoa...
_Nada disso, a presidente entra pela porta dos fundos da Casa Branca com uma saia preta até o joelho e entrega a garrafa de cachaça e diamantes para o Obama. Depois os dois ficam se olhando com cara de porre.
_Nunca. A presidente almoça com o Obama e depois os dois brindam com uma dose de cachaça a garrafa que ela vai levar de presente.
_Desculpe, companheiro, mas a presidente tem 77%, tem mais do que "o cara", então ela vai jantar com o Obama e brindar com a cachaça...
Mas é lógico que tudo não passa de conjectura.
Depois eu fiquei pensando em como os caras convenceriam a presidente a ir em frente com essa idéia brega. E óbvio que para escolher uma idéia cheyenne como essa, tudo teria que ser discutido numa mesa redonda de aloprados:
_É Páscoa, minha gente. A presidente vai vestida de coelhinha, esconde a garrafa de cachaça no quintal da Casa Branca e coloca umas pegadas de papel no gramado para o Obama achar.
_É Páscoa, né cumpanheirada. A presidente vai de tailler flamengo(blusa vermelha e saia preta) com um ovo recheado de garrafinhas de chocolate com cachaça. Dentro de cada garrafinha vai um brilhante.
_Feliz Páscoa, companheiros. A presidentea desenha bigodes de coelho no Obama e deixa que ele desenhe bigodes nela. Em seguida os dois dividem um ovo de chocolate. Depois disputam no palitinho a garrafa de cachaça e os diamantes.
_Companheiros, a presidenta entra chutando a porta e depois quebra a garrafa no primeiro imperialista que aparecer no caminho...
_Gente, o que é isso? A presidenta chega com a maior classe e faz que nem o Nikita e desce a sapatada no primeiro ovo que encontrar, nem precisa ser o de páscoa...
_Nada disso, a presidente entra pela porta dos fundos da Casa Branca com uma saia preta até o joelho e entrega a garrafa de cachaça e diamantes para o Obama. Depois os dois ficam se olhando com cara de porre.
_Nunca. A presidente almoça com o Obama e depois os dois brindam com uma dose de cachaça a garrafa que ela vai levar de presente.
_Desculpe, companheiro, mas a presidente tem 77%, tem mais do que "o cara", então ela vai jantar com o Obama e brindar com a cachaça...
Mas é lógico que tudo não passa de conjectura.
domingo, 8 de abril de 2012
A lembrança é um peixe beta
Mal chegamos da Bahia e minha filha já se preparava para ser levada ao aniversário de oito anos de uma amiga da escola. A bateria do carro estava descarregada, uma das chaves dos fundos da casa tinha sido quebrada e dois outros pequenos pepinos precisavam ser resolvidos sem demora. Tratei de levar a menina rapidamente. A julgar pelo estacionamento vazio, fomos os primeiros a chegar. Quando isso acontece não dá para negociar com algum outro pai ou mãe, dizer que você vai ali e já volta. Optei por uma entrega simples e direta.
_A que horas a senhora quer que eu pegue? - eu disse para a avó da aniversariante.
_Aaannhh...ãnh? - disse a vovó.
_Desculpe, mas eu tenho que resolver umas coisas, será que tem algum problema em deixar a menina aqui? - eu disse.
_Não, claro que não - disse a vovó.
Pelo olhar da vovó eu notei que ela havia me catalogado e rotulado com a etiqueta de "pai-relapso-que-larga-filha-na-festinha-e-vai-pra-gandaia-na-maior-cara-dura".
_Muito obrigado, eu volto mais tarde - eu disse.
Então saí de lá pensando com os meus botões que estava mesmo me comportando como um pai relapso que deixa a criança na festinha e sai para a gandaia. Mas a verdade é que eu precisava consertar o carro e resolver as outras pendências. Para minha sorte lembrei que havia visto um par de grampos para bateria na casa do meu pai. Então corri para lá no carro da minha mulher. Cheguei conversamos um pouco, colocamos as novidades em dia e depois eu disse:
_Mãe, será que os grampos de bateria estão por aqui?
_Procura na garagem - disse a minha mãe.
Encontrei os grampos e me despedi rapidamente da minha mãe. Fui até a minha garagem e consegui fazer uma chupeta de bateria usando os grampos e o carro da minha mulher. Deixei o carro funcionando uns dez minutos para carregar um pouco. Aí decidi sair para procurar um chaveiro. Perdi duas horas em busca de um chaveiro. Fui a quatro daqueles quiosques que existem em muitos lugares da cidade e nada. Parece que eles não trabalham aos sábados, na véspera do domingo de Páscoa. Tive que deixar para encontrar uma solução na segunda-feira.
Os outros dois pepinos foram mais fáceis de resolver. Mas um terceiro surgiu sem que eu me lembrasse, a impressora não funciona mais. Tentei baixar um software que prometia solucionar tudo, mas não deu certo. Acabei me enrolando.
Às sete e meia da noite corri para ir pegar a minha princesa na festinha da amiga. A avó da aniversariante nem olhava para mim. Mas a menina estava super à vontade e havia se divertido muito. Ah, e de lembrança, ela ganhou um peixe beta. Os outros pais brincaram na saída da festa.
_Na festa da minha filha, daremos cachorrinhos!
_E na minha serão gatos!
_E lá em casa serão minhocas, vai servir até para o trabalho da escola - eu disse, mas acho que ninguém achou graça.
_Paiê, você faz um aquário pra mim? - ela disse.
Eu disse que ia tentar. Mas a verdade é que acabei me esquecendo do peixe na mesma noite. Felizmente minha mulher havia providenciado um vaso de vidro bem grande para o peixe passar a noite. Só me lembrei disso hoje de manhã, quando olhei para o saco plástico que boiava dentro do vaso grande.
_Você não tirou o peixe do plástico? - disse a minha mulher.
_Fiquei com medo dele morrer nessa água clorada - eu disse.
Mas o peixe sobreviveu. Eles são durões, os peixes beta.
_A que horas a senhora quer que eu pegue? - eu disse para a avó da aniversariante.
_Aaannhh...ãnh? - disse a vovó.
_Desculpe, mas eu tenho que resolver umas coisas, será que tem algum problema em deixar a menina aqui? - eu disse.
_Não, claro que não - disse a vovó.
Pelo olhar da vovó eu notei que ela havia me catalogado e rotulado com a etiqueta de "pai-relapso-que-larga-filha-na-festinha-e-vai-pra-gandaia-na-maior-cara-dura".
_Muito obrigado, eu volto mais tarde - eu disse.
Então saí de lá pensando com os meus botões que estava mesmo me comportando como um pai relapso que deixa a criança na festinha e sai para a gandaia. Mas a verdade é que eu precisava consertar o carro e resolver as outras pendências. Para minha sorte lembrei que havia visto um par de grampos para bateria na casa do meu pai. Então corri para lá no carro da minha mulher. Cheguei conversamos um pouco, colocamos as novidades em dia e depois eu disse:
_Mãe, será que os grampos de bateria estão por aqui?
_Procura na garagem - disse a minha mãe.
Encontrei os grampos e me despedi rapidamente da minha mãe. Fui até a minha garagem e consegui fazer uma chupeta de bateria usando os grampos e o carro da minha mulher. Deixei o carro funcionando uns dez minutos para carregar um pouco. Aí decidi sair para procurar um chaveiro. Perdi duas horas em busca de um chaveiro. Fui a quatro daqueles quiosques que existem em muitos lugares da cidade e nada. Parece que eles não trabalham aos sábados, na véspera do domingo de Páscoa. Tive que deixar para encontrar uma solução na segunda-feira.
Os outros dois pepinos foram mais fáceis de resolver. Mas um terceiro surgiu sem que eu me lembrasse, a impressora não funciona mais. Tentei baixar um software que prometia solucionar tudo, mas não deu certo. Acabei me enrolando.
Às sete e meia da noite corri para ir pegar a minha princesa na festinha da amiga. A avó da aniversariante nem olhava para mim. Mas a menina estava super à vontade e havia se divertido muito. Ah, e de lembrança, ela ganhou um peixe beta. Os outros pais brincaram na saída da festa.
_Na festa da minha filha, daremos cachorrinhos!
_E na minha serão gatos!
_E lá em casa serão minhocas, vai servir até para o trabalho da escola - eu disse, mas acho que ninguém achou graça.
_Paiê, você faz um aquário pra mim? - ela disse.
Eu disse que ia tentar. Mas a verdade é que acabei me esquecendo do peixe na mesma noite. Felizmente minha mulher havia providenciado um vaso de vidro bem grande para o peixe passar a noite. Só me lembrei disso hoje de manhã, quando olhei para o saco plástico que boiava dentro do vaso grande.
_Você não tirou o peixe do plástico? - disse a minha mulher.
_Fiquei com medo dele morrer nessa água clorada - eu disse.
Mas o peixe sobreviveu. Eles são durões, os peixes beta.
sábado, 7 de abril de 2012
Use protetor solar na Bahia
Voltamos hoje de uma ótima semana passada na Bahia. Fomos recebidos com muita gentileza e pão-de-ló por uma família de amigos. Passamos sete dias na beira da praia, na maior mordomia e ócio. Voltamos com um bronzeado puxado para a pele dos índios norte-americanos. Minha cunhada, quando foi nos buscar no aeroporto, reparou logo.
_Noossa, vocês estão parecendo dois tomates! - ela disse.
_É o meu novo método de bronzeamento super-mega-rápido - eu disse.
_Parece que você torrou, depois descascou e aí queimou por cima de novo - ela disse.
_É, mas essa é uma visão simplificada do warp-tanning - eu disse.
_Caramba, isso deve ter doído horrores - ela disse.
_Só dói quando se respira, a gente se acostuma - eu disse.
_Você eu até entendo, sempre torra, mas e você, minha irmã? - ela disse.
_Ai, eu me distraí passando o protetor nas crianças e acabei esquecendo de passar em mim - disse a minha mulher.
_Mas nas costas ela usou protetor. Eu mesmo passei. Mas aí precisamos passar protetor nas crianças, foi uma zona. Depois eu pensei que ela havia aderido ao warp-tanning, senão eu teria avisado - eu disse.
_Que mané warp! Você sumiu com o protetor e as crianças e eu acabei me esquecendo de me proteger do sol - disse a minha mulher.
_Eu não sumi com o protetor, ele ficou desaparecido na bolsa de ir à praia, depois eu o encontrei e te ofereci - eu disse.
_Quando não adiantava mais nada, eu já estava queimada de sol - disse ela.
_Quer dizer que agora eu sou culpado pelo sol da Bahia - eu disse.
Aí apareceu um guarda e mandou que a gente saísse dali rapidinho, senão haveria multa.
_Isso, eu pensei, vá multar o sol da Bahia!
As férias acabaram e estamos todos bem.
_Noossa, vocês estão parecendo dois tomates! - ela disse.
_É o meu novo método de bronzeamento super-mega-rápido - eu disse.
_Parece que você torrou, depois descascou e aí queimou por cima de novo - ela disse.
_É, mas essa é uma visão simplificada do warp-tanning - eu disse.
_Caramba, isso deve ter doído horrores - ela disse.
_Só dói quando se respira, a gente se acostuma - eu disse.
_Você eu até entendo, sempre torra, mas e você, minha irmã? - ela disse.
_Ai, eu me distraí passando o protetor nas crianças e acabei esquecendo de passar em mim - disse a minha mulher.
_Mas nas costas ela usou protetor. Eu mesmo passei. Mas aí precisamos passar protetor nas crianças, foi uma zona. Depois eu pensei que ela havia aderido ao warp-tanning, senão eu teria avisado - eu disse.
_Que mané warp! Você sumiu com o protetor e as crianças e eu acabei me esquecendo de me proteger do sol - disse a minha mulher.
_Eu não sumi com o protetor, ele ficou desaparecido na bolsa de ir à praia, depois eu o encontrei e te ofereci - eu disse.
_Quando não adiantava mais nada, eu já estava queimada de sol - disse ela.
_Quer dizer que agora eu sou culpado pelo sol da Bahia - eu disse.
Aí apareceu um guarda e mandou que a gente saísse dali rapidinho, senão haveria multa.
_Isso, eu pensei, vá multar o sol da Bahia!
As férias acabaram e estamos todos bem.
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