terça-feira, 2 de agosto de 2011

Uma sofrida manhã no dentista



Minha dentista é uma senhora com seus mais de cinquenta. Ela emana uma simpatia profissional, mas sem que isso faça dela uma pessoa desagradável. E de vez em quando ela gosta de conversar. Quero dizer, não é bem uma conversa, já que estou o tempo todo com algodão, sugador e dedos enluvados dentro da boca. Está mais para um monólogo acompanhado de olhares e ruídos de concordância e aprovação. Sim, eu hesito muito a discordar de uma pessoa armada com um motorzinho e ferros de espetar os dentes.

_Como está de casa nova? - ela disse.

_Uauoljahdalhalçlleza - eu falei.

_Pois eu e o meu marido estamos voltando para o antigo apartamento. Minha filha se casou e agora o apartamento em que estamos está muito grande para nós dois. Está sentindo dor?

_Uin. Uin.

_Ainda bem que não. Onde eu estava? Ah, sim, na mudança. Neste final de semana nós fomos visitar meu cunhado, que até hoje mora no prédio onde nós também morávamos. Nós mudamos desse antigo apartamento há uns quinze anos, porque a minha filha estava crescendo e precisava de mais espaço. Mas agora o apartamento está muito grande. Dói aqui?

_Humhumauin.

_Eu sabia que não. É um molar muito forte, esse seu, vai dar um trabalho danado. Mas você tem uma grande tolerância à dor e sei que não faz questão de anestesia.

_Asso, asso.

_Sim, não vou usar nada. E então? Agora o meu marido está procurando um apartamento no antigo prédio, para a nossa volta. No apartamentão atual eu fico semanas sem passar por alguns cômodos. A gente não precisa de muito espaço. Eu acho que hoje em dia eu moraria até numa kitinete. Dói?

_Iim, iim.

_Você realmente tem grande tolerância à dor. Outros pacientes já teriam gritado ou tentado se levantar. Mas você nem pisca. E então? Pois...

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