segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A coruja para fora de casa



Eu estava enrolando para entrar no assunto da máquina do tempo ontem à noite quando fui interrompido por uma coruja. Demorei a descobrir que era uma coruja e que ela estava dentro de casa. Na verdade, eu havia escutado um barulho na parte de baixo da escada da casa, mas dei de ombros. Rafa, o cãozinho shi-tsu da minha filha, vive fazendo barulho, de modo que eu não dei muita bola aos ruídos. Mas quando eu olhei para o lado, ali estava o Rafa e portanto, o barulho não poderia ter sido feito por ele. Fiquei com medo, é claro. Aqui, como em qualquer lugar do país, é bem seguro até que acontece alguma coisa. Além disso, a parte de baixo da casa fica sempre às escuras depois que as crianças vão se deitar e debaixo da escada fica mais escuro ainda. E é frio.

Calcei os tênis e desci devagar a escada, com cuidado, prestando atenção nos sons. Rafa disparou na minha frente e pulou no escuro da escada. Foi um erro. Ele voltou quase que imediatamente em velocidade de Rafa-quando-foge e a coruja piou.

_Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

Se tivesse competição de salto cego de costas e puro medo nas Olimpíadas eu ganharia a medalha de ouro, com certeza. Dei um carpado sem voluta de três metros. Quase bati o nariz no chão. Mas foi a minha sorte porque a coruja passou voando por cima de mim e foi para a sala. Suspirei. A coruja piou. Meu coração batia a ... não sei, batia rápido pacas. Rafa, o cãozinho shi-tsu, aguardava atrás de mim mas decidiu se refugiar no escritório. Aquele traidorzinho! Lá em cima, minha mulher sussurrava para que eu não fizesse barulho, porque as crianças estavam dormindo.

_Benhê, fecha a porta da escada que tem uma coruja dentro de casa!- eu disse.

_Psst! Silêncio. As crianças estão dormindo - sussurrou a minha mulher.

_Mas amor, tem uma coruja dentro de casa!

_Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! - confirmou a coruja.

_Vamos parar com o barulho! - berrou a minha mulher.

Eu e a coruja nos olhamos e obedecemos. Daí em diante trabalhei em silêncio. Precisei acender umas quinze velas. Eu poderia apostar que a coruja havia se confundido com as luzes da casa e errado o caminho. Por isso, tratei de fazer um caminho bem iluminado à luz de velas para ela. Quando terminei a pista do corujaporto, corri até a parte de trás da casa e abri todas as portas e janelas. Com um pouco de sorte e desde que todas as luzes de fora da casa estivessem apagadas, a coruja tinha uma trilha bem delineada e iluminada a seguir. Agora só faltava o mais difícil. Espantar a coruja na direção certa, para fora de casa.

Assustada com a velas ela havia ficado do lado oposto ao escritório, num cantinho da sala, de costas para uma janela e também para a saída de casa. A coruja teria que fazer uma curva em "u" e depois seguir reto para voar para fora. Tive que acender mais quatro velas para fazer uma curva. Só que isso fez com que a coruja recuasse um pouco mais. Eu só possuía uma última vela. Com ela, ajeitei o "u" como pude. Agora eu só precisava seguir o trajeto marcado pelas velas, e dar a volta por fora da casa.

Foi o que eu fiz. Fazendo figa com os dedos, bati nos vidros e berrei para que a coruja saísse para fora de casa. Assustada, ela não fez a curva em "u" e bateu na porta do escritório, onde Rafa estava escondido. Caramba! Meu plano havia dado errado. A coruja se debatia contra a porta e não havia nada que eu pudesse fazer para tirá-la de lá. Nada. Enquanto eu pensava numa outra saída e voltava para dentro de casa, escutei um latido e de novo aquele piado forte.

_Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!


E aí eu lamentei não estar aqui com uma câmera de vídeo, porque eu vi e adoraria mostrar para todos vocês a coruja seguindo em linha quase reta as velas do meu corujoporto. Ela bateu no teto umas duas vezes, mas não perdeu a direção. E voou esplendidamente, com as asas bem abertas, para fora da minha casa. Fechei todas as portas e janelas, tirei Rafa (o cãozinho covarde) do escritório e subi triunfante as escadas até o quarto. Ali, entre os seres humanos, eu seria devidamente reconhecido pelos bons serviços prestados ao bem-estar dos residentes.

_Benhê, consegui, a coruja foi embora.

_Nem vem que eu estou com dor de cabeça! - sussurrou a minha mulher.

_Mas amor...

_Xô, silêncio, estou dormindo - cochichou.

Lá fora, uma coruja piava. Parecia uma risada.

4 comentários:

franka disse...

nossa careca, um corujoporto. nunca pensaria nisso. que post sensacional. pena que isso aqui não é face pra compartilhar. genial. um corujoporto...

lisa disse...

genial!

Careca disse...

Franka e Lisa, outro dia um gambá entrou aqui em casa e espantei ele com uma vuvuzela. Minha mulher chegou do trabalho e perguntou que cheiro ruim era aquele. Eu disse que achava que era um gambá. Ela disse, sim, tudo bem, mas tome um banho, por favor. Eu disse, mas amor, espantei o gambá com a vuvuzela. Ela disse, tome logo um banho ou eu te acerto com essa corneta. Achei melhor fazer o que ela disse.

Gina disse...

Estava procurando informações como espantar uma coruja e entre sites e blogs, encontrei este blog com uma aventura maravilhosamente escrita, a qual me diverti muito. Parabéns pela solução e pela descrição muito bem humorada da situação. Diria que este texto poderia ser nomeado como uma crônica espetacular. Nunca mais esquecerei. Virginia.

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