Quem era o autor mais lido da sua turma quando você tinha seus vinte anos? Sartre e Simone de Beauvoir fizeram a cabeça de algumas gerações, com "O Muro" e "O Segundo Sexo" há mais de cinquenta anos. Depois vieram, sei lá, todos aqueles livros malucos de Carlos Castaneda, a bizarrice auto-irônica de "O complexo de Portnoy", de Philip Roth. O Fernando Sabino(O encontro marcado), Ignácio de Loyola Brandão (Zero), Rubem Fonseca e o herói de toda uma geração, Marcelo Rubens Paiva. Em 1981, Ziraldo publicou "O menino maluquinho".
Um dos autores mais vendidos quando eu tinha os meus vinte anos era Sidney Sheldon, que também escreveu as mini-séries "Jennie é um gênio" e "A Feiticeira". Lembro de ler uma entrevista nas páginas amarelas de Marion Zimmer Bradley, outra campeã das livrarias com uma coisa chamada "Operação Cavalo de Tróia". Coisas como "Duna" vendiam como água. Toda a fantasia onanista dos criacionistas explodiu ali, naquela década. Coisa impossível de acompanhar. Clive Barker surgiu nesse período. E depois, graças aos céus, desapareceu. A editora Brasiliense estava ressuscitando uma grande leva de clássicos da ficção científica. Stephen King(é um craque) e Tom Wolfe estavam nas minhas estantes.
Mas na época em que entramos na universidade, nós líamos mesmo era Charles Bukowisky. Sim, havia "On the road" e os Beatnicks, Salinger, Saul Below e todos os geniais e refinados escritores da New Yorker. "A Mulher Mais Linda da Cidade" e "Crônica de um amor louco" não saíam da minha cabeça. Charles era o modelo perfeito. Feio, escroto, tímido e intratável, Bukowisky escrevia na primeira pessoa e mandava bem. Era o herói de si mesmo até quando se dava mal. E quase sempre se dava mal. Apesar de ser escatológico até o último fio de cabelo do rabo, Charles de vez em quando ficava com a mocinha. De alguma maneira, com algum poema longo ou nas entrelinhas de uma historieta suja, aquele safado conseguia o que queria: escrevia, bebia o máximo que conseguia e ainda arranjava mulheres. Uau. Charles Bukowisky era desculpa perfeita para encher a cara, ser grosseirão e posar de rebelde, poeta e incompreendido. Era o poeta que nós queríamos imitar.
Ou pelo menos, que eu queria imitar. Para ser honesto, eu não queria imitá-lo em tudo. Só nas partes em que ele parecia se dar bem. E é lógico que não funcionava comigo. A grossura de Bukowisky que eu macaqueava era respondida na mesma moeda. Ao contrário do que acontecia nas histórias de "Cartas na rua", eu não me dava nada bem. Quando o insucesso atirava Bukowisky na sarjeta, de algum modo ele parecia ser vitorioso e digno. Comigo, era somente a ressaca. Com o passar delas, resolvi deixar o Charles de lado.
Hoje, olhando rapidamente a estante, encontrei um cantinho cheio de livros do Bukowisky. Um volume de contos destaca "A garota mais linda da cidade". Não reli. Ainda lembro da cena com Ornella Mutti e Ben Gazara no cinema.
Uma vez um amigo me disse que Bukowisky destroçava os personagens bons e decentes. "Ele está do lado dos feios e sujos", disse esse meu amigo. E para provar o que dizia, ele mostrava a foto da capa de um livro, com Bukowisky abraçado a um dragão horroroso, com um charuto na boca barbada, uma garrafa de birita. Mesmo assim, eu pensava, ele ficou com a garota mais linda da cidade.
5 comentários:
Careca,
assisti recentemente um documentário muito bom sobre Bukowski: "born into this". Baixei na internet. Vale a pena.
Bjão
Valeu a dica, bjos.
mas mas mas. ele vivia de porre. ergo quase todas as mulheres eram lindas.
Ha, ha, ha, é isso mesmo.
Pra mim, o velho Buk é o maior.
Um monte de gente por aí ainda tenta imitá-lo até hoje, inclusive eu. Mas ele é maior.
abraço
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