segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Alô, Snoopy!



Pixar's Presto

Eu gosto de cachorros. Já tive pastores, boxers, vira-latas, filas e agora temos um shi-tzu. Uma das irmãs da minha mulher tem uma cadela beagle, chamada Princesa, que está um bocado acima do peso e bem velhinha. O beagle, dizem, tem um dos relógios caninos mais acelerados, não costuma passar de 10 anos. De acordo com os donos, se fosse humana, Princesa teria uma idade aproximada de 80 anos. Não sei se isso é verdade, mas ela parece mesmo envelhecida e tem aquele ar tristonho ressaltado pelas orelhas de abano murchas, tocando o chão de leve, de vez em quando. Princesa manca um pouco e desperta em quem a vê um misto de piedade e solidariedade. E ainda tem o porte altivo, de princesa nobre que fugiu da revolução. Se ela for atravessar a rua você para o carro e vai ajudar, com certeza.

Mesmo sabendo a profusão de bons sentimentos que um beagle é capaz de despertar no ser humano, não consegui entender a invasão ao Instituto Royal ocorrida na semana passada. Para mim, a invasão, os estragos e os furtos de animais(a pretexto de resgate) foram crimes brutais praticados contra o Instituto, os pesquisadores e o bom senso. Também acredito que os criminosos causaram terríveis danos e sofrimentos aos animais surrupiados, por desconhecimento do histórico de cada bicho, por ignorância dos testes e experimentos realizados e em realização em cada um dos beagles roubados. Um dos animais furtados, li em algum lugar, foi oferecido à venda na internet.

Cientistas e pessoas do mundo acadêmico brasileiro têm obrigação de se manifestar para dizer o óbvio: os animais são imprescindíveis para a realização de testes, experimentos e pesquisas. Pessoas comuns como eu também têm obrigação de dizer que não querem que pretensos defensores de bichos pratiquem crimes e permaneçam impunes. Os ladrões e vândalos que invadiram o Instituto, quebraram as coisas e surrupiaram os cachorrinhos devem ser responder por seus crimes.

O episódio me lembrou duas coisas. A primeira foi o Snoopy, aquele cachorro pianista e filósofo inventado por Charles Schulz para a Turma do Charlie Brown, o menino amendoim existencialista adorado até por Benito de Paula. Charlie é o eterno perdedor, o menino esperançoso, determinado e simpático que não ganha nenhuma, especialmente de Lucy, a menina dominadora e manipuladora que nunca deixará Charlie acertar o chute na bola de futebol americano. Ela sempre irá tirar a bola no último milésimo de segundo. Snoopy dormia sobre a casinha porque gostava de olhar para as nuvens e sonhava em ser um grande e combativo aviador, uma espécie de barão vermelho das casinhas de cachorro com asas. Críticos perspicazes diziam que Schulz só colocava Snoopy sobre a casa porque não sabia desenhar direito. Anos depois Schulz confirmou essa teoria. E também admitiu que a sua mulher era um bocado dominadora e uma vívida inspiração para Lucy. Eu adorava o Snoopy e uma vez, quando o boneco foi dado como brinde no McDonald´s, em várias partes, eu me empanturrei de mclanches só para completar a coisa.

O roubo dos beagles também me lembrou uma história ocorrida nos EUA sobre a garota que se recusou a dissecar um sapo na escola. A história pode ser lida aqui.

O calor que vem fazendo, o horário de verão que detesto, as coisas que eu lembrei e a própria invasão para roubar beagles me trouxeram à cabeça, além daquela música do Benito de Paula, uma forma de raciocínio similar à do Gilberto Gil, refazendo tudo, guariroba. Assim que estivermos prontos para chutar de trivela mais este factóide, outra Lucy surgirá para nos fazer chutar o vazio, como estamos fazendo semana após semana, sem que nada pareça ao menos nos dar a leve impressão de que vamos melhorar, de que existe bom senso e que nada se resolve com porrada e quebra-quebra. Está faltando tolerância, boa vontade e cooperação, sem isto não há mágica que resolva.








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