quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A lógica da ocupação de mesas na lanchonete



Sarah Blasko - Amazing Things

_A verdade, minha filha, é que homem nenhum presta - disse a mulher, em voz meio exaltada, naquela mesinha da lanchonete.

Eu tinha acabado de entrar, um pouco para comer alguma coisa e mais para passar o tempo. Meu plano era só fazer hora enquanto esperava as crianças saírem da aula de inglês. Fiquei curioso, é claro. Apurei os ouvidos, fingindo prestar atenção no cardápio. Não parecia ser uma conversa entre mãe e filha. Se fossem amigas, a diferença de idade era bem grande. A mais velha agora havia reduzido o tom de voz, falava aos cochichos, como quem dá conselhos. A outra, que não era bonita e nem feia, devorava um sanduíche com ferocidade e balançava a cabeça concordando. Pedi um x-salada.

A lanchonete estava praticamente vazia, além das duas mulheres que maldiziam os homens, havia apenas duas outras mesas ocupadas. Por instinto, peguei uma mesa equidistante das mesas ocupadas. Por isso fiquei pensando em qual seria a lógica da ocupação de espaços vazios numa lanchonete. Uma outra pessoa chegou e se sentou a duas mesas de mim e a duas mesas das mulheres que cochichavam sobre os homens. Talvez eu estivesse certo em alguma coisa.

A pessoa que acabara de chegar era um homem alto, de óculos escuros. Falava ao telefone celular. Quer dizer, algumas pessoas falam ao telefone e outras berram. Este cara berrava muito. Entendi que era vendedor. De carros ou de seguros de carros. Parecia instruir uma outra pessoa, talvez uma mulher, do outro lado da linha. As duas amigas que achavam que homem nenhum presta tinham parado de conversar e examinavam o homem com celular. Eu tamborilava os dedos sobre a mesa, havia esquecido de pegar o caderno de desenhos. Além de uma ótima oportunidade para desenhar, o caderno de desenhos também concentra a minha atenção nos desenhos, paro de prestar atenção nos outros.

Outra pessoa chegou e se sentou quase à minha frente. Talvez eu não estivesse certo sobre nada. Minha teoria não era tão boa assim. Foi bem nessa hora que chegou o x-salada.

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