domingo, 18 de agosto de 2013
Sibipiruna
Empire Of The Sun - Alive
Caminhamos. Eu e meu pai caminhamos juntos no final da tarde de domingo. Rafa também foi com a gente. Subimos a rua sem pressa, comentando as coisas que víamos pelo caminho. Apreciamos a beleza das casas. O esforço honesto que todos nós fazemos para dar uma boa aparência para as casas onde moramos.
Meu pai observa que uma das paredes da minha casa está com a pintura bem ruim.
_Fizeram um buraco numa das paredes, durante a reforma. Alguém simplesmente espatifou uma das paredes, de dentro pra fora, no banheiro do quarto do meu filho. Não entendi como aconteceu até hoje. E, naturalmente, eu só descobri depois que já havia mandado todo mundo da reforma embora. Nem se preocuparam em disfarçar muito. Taparam o buraco pela parte de dentro e deixaram no cimento puro, pelo lado de fora. Ninguém se deu ao trabalho de pintar por cima. Mas neste ano eu vou dar um jeito de pintar - eu disse.
Com o passar do tempo, começo a perceber que agora fico encompridando as conversas, quaisquer que sejam elas. Antigamente eu era mais calado, com certeza. Talvez eu prefira ser mais calado. Quem fala muito dá bom dia a cavalo, diz o ditado. Em seguida, vimos a faixa de aluga-se numa das casas bonitas da rua.
_Parece que não conseguem alugar essa casa. E essa outra, desde que eu me mudei está com a construção parada. Será que nunca vão terminar? - eu disse.
_Logo que eu me mudei eu passeava muito com o Rafa. No velho apê eu fazia isso todos os dias, bem cedo, antes de levar as crianças para a escola. Aqui eu continuei com o passeio tradicional, mas acabei desistindo por causa dos outros cachorros. Subir a rua era o mesmo que acordar a rua inteira. A cachorrada se acabava de latir. Acabei enjoando da barulhada e parei de andar com o Rafa. Ele é provocador. Sabe que está protegido pela cerca e enfrenta qualquer cachorro, late sem parar - eu disse.
No caminho para a farmácia, Rafa latiu para todos os cachorros que vimos. Na rua de cima, um dos moradores mandou cortar a cerca de ficus. Os troncos e galhos foram cuidadosamente organizados no gramado. A madeira foi cortada com cuidado, dava para ver que não vai virar lenha. Quando chegamos à farmácia, fiquei do lado de fora, com o Rafa. O cartaz com a foto do rapaz de 22 anos que desapareceu há uma semana estava afixado em vários lugares. Debaixo da foto os familiares avisam que o moço toma remédios controlados. Não há nada na foto que indique que o rapaz usa remédios controlados, eu penso. Por que será que buscamos explicação para as coisas que nos afligem examinando cuidadosamente os nossos rostos? Ainda estou olhando para o cartaz quando meu pai saiu da farmácia.
No caminho de volta, para fugir um pouco do barulho dos cachorros, fomos pela calçada do outro lado da rua, mais perto de onde estão os troncos de ficus.
_Certamente será aproveitada para alguma coisa. Para quê serve a madeira de ficus? É madeira boa? - disse meu pai.
Eu não sei dizer. Digo que acredito que sim. Parece bem resistente. De repente, percebo que não sei nada sobre madeira nenhuma, que sei muito pouco sobre qualquer coisa. Vejo a lua enorme, ainda nem escureceu mas ela já está bem cintilante. Logo à frente, majestosa, está a grande sibipiruna, a maior árvore da redondeza. Ficamos observando a árvore um pouco, antes de seguirmos caminho.
_Essa árvore tem as raízes muito superficiais. Não resistem a ventos fortes - disse meu pai.
E é verdade. No ano em que eu me mudei uma outra grande sibipiruna que havia ali mesmo, próxima daquela, havia tombado depois de uma tempestade. Foi uma caminhada tranquila, sem incidentes, um dos melhores passeios dos últimos domingos.
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