quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Pizza na Dom Bosco




The Wallflowers - Reboot the Mission



_Nesse país, todo mundo sabe, depois das eleições sempre se descobre que não é bem assim, é de outro jeito. Todas aquelas coisas que seriam feitas, não são feitas, é claro. Aquele serviço de saúde, aquela escola, a energia, o combustível, o transporte, a cadeia, a polícia, a rua, o porto, o poço, o rio, a ponte, o aeroporto, a calçada e a urbanização terão que ficar para depois, não sei quando. Os eleitos têm memória curta e não ligam para as mentiras que dizem durante as campanhas. Alguns são tão descarados que registram a mentirada em cartório. Depois não se fala mais da creche, do emprego, da fome, da água, do pão e nem daquele programa legal para tirar gente das ruas e transformá-las em cidadãos dignos, com teto, comida, crédito e um carro zerinho na garagem – diz o sujeito ao meu lado.

_É – eu disse, desinteressado.

Estamos na Pizzaria Dom Bosco, no Sudoeste. Nunca vi antes esse sujeito ao meu lado. Eu pedi uma Simples. É assim que se chama uma fatia da pizza de muzzarela com muito molho de tomate e orégano sobre massa de pão. Cada pizza demora 4 minutos para ser assada no forno a lenha. Eu adoro. Como essa pizza há mais de 30 anos. Sempre acompanhada de um guaraná caçulinha.

O sujeito que deseja conversar sobre política pediu uma Dupla. São duas fatias colocadas uma sobre a outra, como se fosse um sanduíche. Ele pediu um Mate Grande para acompanhar. Evito olhar na direção desse cara, que usa uma camisa branca social com gravata vermelha. Olho para a parede. Tem oferta de pilhas. Tem palhinha de Piracanjuba para cigarro de palha. Tem um aviso de que não se aceita. Com o canto do olho, observo esse mala. Blaser no braço, pasta 007 no chão, encostada no balcão. Tem barriga grande, um jeito mandão e fala com perdigotos. Quer parecer com advogado de bandido, mas tem a aparência de um estelionatário que precisa de advogado.

_O Russomano vai ganhar em São Paulo. Lá o povo já cansou da sua turma – diz o sujeito.

_Minha turma? Não tenho turma nenhuma– eu digo.

_Com essa barbinha, camisa vermelha, calça jeans e tênis velho?

_ O senhor está enganado.

_ Vai querer dizer que vota no Russomano, o apalpador?

_Não, eu voto aqui e aqui não tem eleição este ano.

_Ah, sei, está com vergonha de dizer que vota no cara que coligou com o Maluf. Esqueço o nome dele. Radádi. É isso, Radádi.

_Não, longe de mim.

_Então é eleitor do Serra? Está bem velhinho o Serra, hein?

_Ele também é feio. Mas é eleição pra prefeito ou concurso de miss?

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