domingo, 30 de setembro de 2012
Certificado de campeão
Jimi Hendrix - Red House intro - England, Isle of Wight, 31 August 1970
Antes que vocês me perguntem porque estou com um esparadrapo na mão esquerda, vou logo contando. Foi um acidente na sexta-feira, no finalzinho da tarde, quando só faltava um pequeno desbaste num dos furos que eu estava fazendo na oficina. Meu plano é construir um carrinho de apoio para a churrasqueira sem usar parafusos, o que exige encaixes precisos. Guardei todo o equipamento, tirei as luvas e já ia colocar a miniretífica no armário quando o bicho carpinteiro me beliscou e resolvi fazer só mais um ajustezinho num furo. Errei a mão e acertei a esquerda. Quero dizer, em um segundo fiz um buraco da profundidade de um dedo na minha mão esquerda. Corri para lavar, etc, e coloquei um esparadrapo poroso para tapar a ferida. À noite, quando minha mulher chegou do trabalho e viu o machucado, ela me convenceu a ir para o pronto-socorro.
_Tudo bem, você vive reclamando que a gente não sai mais à noite - eu disse.
Havia uma longa fila no hospital privado, mas fui atendido rapidamente. Havia, é claro, uma folha A4 dizendo que não estavam mais aceitando o plano de saúde da GEAP, mas tinha a sorte de estar com outro plano de saúde. Em dez minutos, o machucado foi lavado, esterilizado e costurado. Só faltava a anti-tetânica. A médica disse que o pronto-socorro estava sem a injeção. Pelo que entendi, ela afirmou que a anti-tetânica só estava disponível na rede pública de saúde e me entregou um encaminhamento para uma profilaxia antitétano. Era sexta-feira, nove e quinze da noite. Ela explicou que os postos de saúde não abrem nos finais de semana, mas os hospitais públicos, como o Hospital Regional do Asa norte dispõem do medicamento. Eu deveria tomar a injeção naquela noite ou no sábado, sem falta. Achei que era um exagero prolongar o programa de índio para a minha mulher e voltamos para casa.
No dia seguinte, às nove e meia da manhã, eu e meu pai chegamos ao hospital da asa norte à procura da vacina. O HRAN já foi considerado um ótimo hospital público, tendo sido o Hospital Materno Infantil da capital brasileira durante muitos anos. Agora, sinto a maior vergonha em dizer que o hospital está um lixo. O piso do pronto-socorro parecia ter sido arranhado por um iguanodonte furioso. Um pano de chão encardido estava estendido ao lado do guichê de atendimento. As paredes estavam descascadas. A tinta esmaecida e desbotada. Os encostos de vários bancos não estavam lá. Ferrugem, sujeira, mesas de fórmica lascada. Material velho e de péssima aparência. Luminárias sujas, iluminação precária. Parecia uma rodoviária do interior mais humilde do país. Mas a primeira coisa que notei no hospital foram os dois guardas armados. Seguranças de uma empresa terceirizada. Não eram PMs. Eram seguranças de empresa terceirizada. Duas dezenas de pessoas esperavam no pronto-socorro. Fui até o guichê para mostrar o encaminhamento da outra médica. Respondi as perguntas que o sujeito insistia em me fazer, apesar de estar com a minha identidade nas mãos. Reparei que havia uma grande quantidade de folhas A4 grudadas na parede informando que era crime, de acordo com o artigo tal, insultar servidor público no exercício da função. O cara do guichê ficou muito surpreso quando eu disse o meu endereço e CEP. Expliquei a ele que os postos de saúde estavam fechados e que eu precisava tomar a vacina ainda no sábado.
_Você vai ter que ir até a Cirurgia Geral. É só ir até lá e aguardar.
_Não tem uma guia de atendimento, uma senha, nada?
_A informação está no sistema - ele disse.
Eu e meu pai demos meia volta no hospital e encontramos a Cirurgia Geral. Quatro faxineiras de empresa terceirizada conversavam na entrada, em meio a baldes de água suja, panos e aventais amarelados. O piso da Cirurgia Geral estava em pior estado do que o do pronto-socorro. Os bancos de espera também. Os encostos eram raros. Um guarda da empresa terceirizada estava do lado de dentro do balcão de atendimento. Achei que era um atendente. Disse o meu nome. Ele disse o meu nome errado.
_Acho melhor você voltar lá e refazer a ficha, porque seu nome está escrito errado no computador. Tem médico que empomba e não atende. Vai por mim, volta lá.
_Não se preocupe, meu nome é tão esquisito que não vai ter confusão nenhuma. E é só uma injeçãozinha.
_Volta lá, vai por mim.
_Vou me arriscar. É um enfermeiro que chama?
_Não, é o médico. É só esperar.
Fui preparado para esperar. Levei o meu caderno de desenhos. Meu pai havia levado o manual do automóvel para descobrir como alguns itens do painel se relacionam com smartphones e celulares. Meu pai se amarra em tecnologia. Sentamos ao lado de uma senhora negra e humilde. Logo, logo nos cansamos dos passatempos e começamos a conversar. A mulher estava com furúnculos, com muita dor. Atrás de nós, duas grávidas estavam esperando a realização dos partos. Uma delas estava lá desde às cinco da manhã. Outra tinha passado por vários hospitais em busca de atendimento e parado ali. Um sujeito cabeludo e de jeans ficava mancando de um lado para outro. Outras pessoas pareciam simplesmente exaustas. Cada um tinha seu próprio drama estampado no rosto. Fiquei feliz por não estar com a mão furada e precisando de um médico na manhã de sábado.
As crianças nas barrigas das duas grávidas estavam passando da hora. As mulheres suavam. Era possível ver as formas de pés, braços e mãos apertando suas barrigas, de dentro pra fora. A mãe de uma das grávidas achou que já havia esperado tempo demais e foi conversar com o guarda. Ela estava ali há várias horas. Sua enteada estava passando mal, queria saber se o parto seria realizado ainda naquela manhã. O guarda, com a rispidez dos guardas, disse que não sabia e que ela deveria falar com um médico.
_Mas falar com quem? Aqui não tem médico, nem enfermeiro, nem ninguém. Só tem o senhor, seu guarda.
_Eu só trabalho aqui algumas vezes. Eu sou segurança - e apontou para cima. Ali também, em folhas A4 e letras garrafais, o artigo tal dizia que era crime ofender servidor no exercício da função pública.
_Não tem outro jeito, senhora, é só esperar - ele disse. E a mulher voltou para a enteada.
Eu voltei para o meu desenho. Também já estava um pouco cansado dos dramas alheios. Tudo o que eu esperava era apenas uma pequena injeção. Às dez e meia um médico jovem sai apressado da sala de cirurgia. Ele se aproximou da mulher que havia conversado com o guarda e disse que havia uma outra emergência. Um parto havia se complicado e a paciente estava sob risco de vida. Por causa disso, não haveria atendimento de outras pessoas. O serviço estava suspenso. Então virou as costas e desapareceu.
Todos ficamos atônitos. A mulher grávida que esperava desde as cinco horas soluçava. Perguntei ao guarda se isso significava que todos deveriam procurar outros hospitais, ou que só as mulheres grávidas deveriam procurar outros hospitais.
_O quê? Eu não sei de nada.
_Mas o médico não conversou com o senhor?
_Não, ele não me disse nada. Eu sou só o guarda.
_Meu senhor, estou aqui há mais de uma hora e ninguém foi chamado. O médico disse que o serviço estava suspenso. Eles vão atender mais alguém? Eu só preciso de uma antitetânica, mas tem mulheres grávidas aqui. Elas não serão atendidas?
_Não precisa ficar nervoso.
_Moço, eu não estou nervoso. Estou perguntado devagar e calmamente se alguém aqui será atendido.
_Não sei dizer a você. Todo mundo fica nervoso comigo, mas eu sou o guarda. Só trabalho aqui de vez em quando. E só fico do lado de dentro do balcão porque canso de ficar parado em pé ali, no canto. Parece que não estou fazendo nada. Aqui eu pelo menos vejo os nomes na tela do computador. E nesses plantões, nunca aparece atendente, parece que só tem um médico de plantão, hoje. E é de queimados. Então, eu não sei. Ou você espera ou vai embora.
_Como é o seu nome?
_Ari.
_E Ari, aqui não tem chefe, não tem ninguém responsável?
_Tem o chefe de equipe. O ramal é 4277. Mas o melhor é ir até lá na entrada novamente e falar com ele. Por telefone é quase impossível falar com alguém.
Mesmo assim tentei. Tocou até cair. Duas vezes. O sujeito cabeludo havia se aproximado. Estava com um corte num dos pés e também havia sido encaminhado para um hospital público.
_Fui em três hospitais na asa sul e não consegui. Também quero saber se serei atendido.
Eu, meu pai e o cabeludo voltamos para a entrada do pronto-socorro. Passamos pelas duas mulheres grávidas, o desespero estampado nos rostos delas e dos familiares. Para onde seguiriam? Eu não saberia. No guichê, conversei com o mesmo sujeito que havia se espantado com o meu endereço. Expliquei que havia mulheres grávidas na cirurgia geral e que nem elas sabiam se seriam atendidas. Ele se levantou e disse que iria conversar pessoalmente com o chefe de equipe. Sumiu dentro do hospital.
Ficamos esperando por dez minutos. Conversando com o cabeludo, ele disse que a mulher estava procurando uma clínica de imunização aberta que tivesse a anti-tetânica. Ela estava com um smartphone e dali a pouco teria uma resposta. Desistimos de esperar o sujeito do balcão e voltamos para a Cirurgia Geral. No caminho, vimos a mulher do cabeludo e duas crianças num carro popular.
Na Cirurgia Geral, o guarda Ari continuava posando de atendente, já que não havia mais ninguém e ele não gostava de parecer que não estava fazendo nada. Tentei novamente falar com o chefe de equipe por telefone. De repente, uma porta se abre e uma médica aparece, por alguns segundos.
_Tem alguém queimado aí? - ela disse.
Ninguém se mexeu.
_Tem alguém queimado aí? - ela disse.
Cri. Cri. Ela bateu a porta e não reapareceu.
_Ari, será que essa médica não poderia nos atender? - eu disse.
_Não, de jeito nenhum. Ela só atende queimados.
_Você tem um isqueiro? - eu disse. Mas o Ari não entendeu.
Nesse meio tempo, a mulher de Ciro, o cabeludo, veio dizer que havia descoberto uma clínica no final da Asa Norte que tinha a vacina.
_Chama Imunocenter. Fica em frente ao Boulevard Shopping. E a vacina só custa trinta pratas - disse o cabeludo.
Mancando um pouco, ele correu para lá. Eu e meu pai resolvemos ir lá também.
_Ari, cansei de esperar. Bom plantão pra você - eu disse.
Encontramos a clínica depois de alguns minutos rodando no final da Asa Norte. Era uma clínica pequena. Mas o piso de mármore travertino brilhava de limpeza. Os móveis estavam perfeitos e todos os panos visíveis estavam muito limpos. O ambiente era ventilado e agradável. As funcionárias estavam impecáveis e bem-humoradas. Ciro, o cabeludo, tinha acabado de tomar a sua vacina e me desejou boa sorte. Tive que esperar uma menina de um ano chamada Lídia tomar sua vacina. Ela chorou um pouquinho, mas depois abriu um sorriso bonito e corajoso. A antitetânica foi totalmente indolor.
A moça da clínica, só de brincadeira, me ofereceu um certificado de campeão por ter tomado a vacina sem chorar. Eu, só de brincadeira, aceitei. No elevador, enquanto descíamos, mostrei o meu Certificado de Campeão para a menina Lídia, que não entendeu nada do que eu estava falando. Mas percebi que os pais ficaram pensando se não deveriam ter pedido um certificado para a filha. Vai ficar legal na minha oficina.
P.S.: O HRAN está uma tristeza. A calçada de fora do hospital está feia. A urbanização em volta do hospital é descuidada. As cercas não recebe pintura há anos. Tudo parece velho e mal conservado. O cenário é decadente. Tenho a impressão de que tudo, absolutamente tudo, piorou.
A hora da saideira - João Ubaldo Ribeiro
Artigo: "A hora da saideira". Por João Ubaldo Ribeiro
Publicado em O Globo
Na semana passada, li um artigo do professor Marco Antonio Villa, que não conheço pessoalmente, mostrando, em última análise, como a era Lula está passando, ou até já passou quase inteiramente, o que talvez venha a ser sublinhado pelos resultados das eleições. Achei-o muito oportuno e necessário, porque mostra algo que muita gente, inclusive os políticos não comprometidos diretamente com o ex-presidente, já está observando há algum tempo, mas ainda não juntou todos os indícios, nem traçou o panorama completo.
O PT que nós conhecíamos, de princípios bem definidos e inabaláveis e de uma postura ética quase santimonial, constituindo uma identidade clara, acabou de desaparecer depois da primeira posse do ex-presidente. Hoje sua identidade é a mesma de qualquer dos outros partidos brasileiros, todos peças da mesma máquina pervertida, sem perfil ideológico ou programático, declamando objetivos vagos e fáceis, tais como “vamos cuidar da população carente”, “investiremos em saneamento básico e saúde”, “levaremos educação a todos os brasileiros” e outras banalidades genéricas, com as quais todo mundo concorda sem nem pensar. No terreno prático, a luta não é pelo bem público, nem para efetivamente mudar coisa alguma, mas para chegar ao poder pelo poder, não importando se com isso se incorre em traição a ideais antes apregoados com fervor e se celebram acordos interesseiros e indecentes.
A famosa governabilidade levou o PT, capitaneado por seu líder, a alianças, acordos e práticas veementemente condenadas e denunciadas por ele, antes de chegar ao poder. O “todo mundo faz” passou a ser explicação e justificativa para atos ilegítimos, ilegais ou indecorosos. O presidente, à testa de uma votação consagradora, não trouxe consigo a vontade de verdadeiramente realizar as reformas de que todos sabemos que o Brasil precisa — e o PT ostentava saber mais do que ninguém.
No entanto, cadê reforma tributária, reforma política, reforma administrativa, cadê as antigas reformas de base, enfim? O ex-presidente não foi levado ao poder por uma revolução, mas num contexto democrático e teria de vencer sérios obstáculos para a consecução dessas reformas.
Mas tais obstáculos sempre existem para quem pretende mudanças e, afinal, foi para isso que muitos de seus eleitores votaram nele.
O resultado logo se fez ver. Extinguiu-se a chama inovadora do PT, sobrou o lulismo. Mas que é o lulismo? A que corpo de ideias aderem aqueles que abraçam o lulismo? Que valores prezam, que pretendem para o país, que programa ou filosofia de governo abraçam, que bandeiras desfraldam além do Bolsa Família (de cujo crescimento em número de beneficiados os governantes petistas se gabam, quando o lógico seria que se envergonhassem, pois esse número devia diminuir e não aumentar, se bolsa família realmente resolvesse alguma coisa) e de outras ações pontuais e quase de improviso? É forçoso concluir que o lulismo não tem conteúdo, não é nada além do permanente empenho em manter o ex-presidente numa posição de poder e influência. O lulismo é Lula, o que ele fizer, o que quiser, o que preferir.
Isso não se sustenta, a não ser num regime totalitário ou de culto à personalidade semirreligioso. No momento em que o ex-presidente não for mais percebido como detentor de uma boa chave para posições de prestígio, seu abandono será crescente, pois nem mesmo implica renegar princípios ou ideais. Ele agora é político de um partido como qualquer outro e, se deixou alguma marca na vida política brasileira, esta terá sido, essencialmente, a tal “visão pragmática”, que na verdade consiste em fazer praticamente qualquer negócio para se sustentar no poder e que ele levou a extremos, principalmente considerando as longínquas raízes éticas do PT. Para não falar nas consequências do mensalão, cujo desenrolar ainda pode revelar muitas surpresas.
O lulismo, não o hoje desfigurado petismo, tem reagido, é natural. Os muitos que ainda se beneficiam dele obviamente não querem abdicar do que conquistaram. Mas encontram dificuldades em admitir que sua motivação é essa, fica meio chato. E não vêm obtendo muito êxito em seus esforços, porque apoiar o lulismo significa não apoiar nada, a não ser o próprio Lula e seu projeto pessoal de continuar mandando e, juntamente com seu círculo de acólitos, fazendo o que estiver de acordo com esse projeto. Chegam mesmo à esquisita alegação de que há um golpe em andamento, como se alguém estivesse sugerindo a deposição da presidente Dilma. Que golpe? Um processo legítimo, conduzido dentro dos limites institucionais? Então foi golpe o impeachment de Collor e haverá golpe sempre que um governante for legitimamente cassado? Os alarmes de golpe, parecendo tirados de um jornal de trinta ou quarenta anos atrás, são um pseudoargumento patético e até suspeito, mesmo porque o ex-presidente não está ocupando nenhum cargo público.
É triste sair do poder, como se infere da resistência renhida, obstinada e muitas vezes melancólica que seus ocupantes opõem a deixar de exercê-lo. O poder político não é conferido por resultados de pesquisas de popularidade; deve-se, em nosso caso presente, aos resultados de eleições. O lulismo talvez acredite possuir alguma substância, mas os acontecimentos terminarão por evidenciar o oposto dessa presunção voluntarista. Trata-se apenas de um homem — e de um homem cujas prioridades parecem encerrar-se nele mesmo. Mas sua saída de cena não deverá ser levada a cabo com resignação.
Ele insistirá e talvez ainda o vejamos perder outra eleição em São Paulo. Não a do Haddad, que aparentemente já perdeu. Mas a dele mesmo, depois que o mundo der mais algumas voltas e ele quiser iniciar uma jornada de volta ao topo, com esse fito candidatando-se à prefeitura de São Paulo.
João Ubaldo Riberto é escritor.
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
O filho do pato
Monophonics - Say You Love Me
Uma vez minha filha chegou da escola com um ovo de pato. O recado da professora pediu para ajudarmos no experimento: chocar o ovo com uma lâmpada. Ainda morávamos no velho apê. Lembro de ter pesquisado na internet como isso deveria ser feito. Era óbvio. Era preciso usar uma lâmpada que não fosse forte o bastante para queimar a palha onde estava o ovo e nem fraca a ponto de gorar a coisa toda. Fiz uma acochambração total, usando uma luminária com uma lâmpada fraca. Lembro de ficar com medo de provocar um incêndio e de usar uma complexa regra matemática para calcular a distância ideal entre o ovo e a lâmpada. Também lembro de ler alguma coisa sobre virar o ovo de tanto em tanto tempo e de cuidar para que ele não ficasse em pé. Ou seja, desde o primeiro instante em que peguei a porcaria do ovo eu já sabia que jamais, em tempo algum, sairia um ser vivo dali de dentro. Mas dever de escola é sagrado, então tratei de não demonstrar nada e de virar o ovo de vez em quando, conferir se a lâmpada estava mesmo acesa, se não havia nada queimando, essas coisas.
Para minha filha, a ciência ainda era uma certeza de milagres e acontecimentos mágicos. Todos os dias ela conferia o ovo, a iluminação, a palha, e encostava o dedo na casca, para ver se estava mesmo quentinho e quem sabe, sentir uma picada vindo do lado de dentro. Ela esperava que a qualquer momento, especialmente quando tocava o ovo, um filhote surgisse piando loucamente. Ela já havia escolhido uma dúzia de nomes para o futuro filhote e se preocupava em garantir que houvesse água e comida ao alcance do recém-nascido. Também providenciou um cobertor e uma almofada pequena, para a hora de dormir.
Depois de uma semana sob a lâmpada, eu e a minha mulher resolvemos que era hora de parar com aquilo e abrimos o jogo com a menina. Explicamos que nem sempre um experimento dá certo e que daquele ovo, não sairia pinto, nem pato, nem ganso, nem nada que piasse. Aquele era um ovo choco. Provavelmente, era um ovo que já havia sido botado há muito tempo e depois de alguns dias, não adianta colocar o ovo sob a lâmpada, não dá mais certo.
_Mas paiê, eu vi que tem um pintinho lá dentro, eu vi!
Bom, quem há de agir contra a fé e a esperança? Então deixamos a experiência rolar por mais uns quatro ou cinco dias. Depois disso, voltamos a conversar sobre a falibilidade dos experimentos científicos, da fragilidade da vida e de como é tão melhor que os ovos sejam chocados pelos bípedes que os botaram. Dessa vez, ela aceitou numa boa.
_Tudo bem, paiê, ninguém da sala conseguiu. Só o do Lucas é que funcionou.
_Como é?
_Só o Lucas que fez certo, paiê. Ele foi o único da sala a levar um patinho.
_Que menino esperto!
Depois disso, os experimentos científicos da sala custaram a despertar entusiasmo. A coisa só mudou um pouco com a germinação de feijão em algodão. As plantinhas de todas as crianças cresceram fortes e rapidamente, devolvendo a todas a fé inquebrantável nos preceitos científicos da professora e também dos pais.
Hoje, passados três anos, minha mulher contou para minha filha que a mãe do Lucas trapaceou.
_A mãe do Lucas ficou com dó e comprou um patinho para ele levar para a escola. Todas as mães ficaram sabendo. Ela mentiu e isso não é bom.
_Ela mentiu?! Pô, eu achava aquele menino um gênio! - eu disse.
_
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Sono interrompe post diário
CASTLES MADE OF SAND - Jimmy Hendrix
Desmontei a arara que eu havia feito para colocar vasos, no quintal. Lixei a madeira e cortei tudo novamente. A idéia é fazer um carro de apoio só com encaixes e cola, sem parafusos. Preparei doze pedaços de madeira, cada um com dois furos de cantos arredondados e pontas adaptadas. Consegui fazer furos mais precisos, mas ainda precisei usar formão e uma lima para acertar pequenas diferenças. Passei quase duas usando a lima para acabamento das pontas de madeira para conseguir um dry fit razoável. Ainda falta muito a fazer. Estou longe de dominar técnicas e ferramentas, mas as coisas estão saindo.
Choveu no início da noite e tive que interromper os trabalhos com madeira. Estou cansado. Trabalhar com madeira está contribuindo para melhorar a minha forma física. Já não tenho a aparência de uma pera. Estou mais para um kiwi com dois braços pendentes.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Procurando Wally
Vintage Trouble - 'Gracefully'
As crianças não quiseram saber de leitura. Ao invés de mais um capítulo de aventuras de Harry Potter, fomos procurar Wally. Encontramos o turista no fundo do mar, num jogo de bola estranho, na terra de gigantes, entre sereias e monstros marinhos, numa mina cheia de dragões, em batalhas, lutas e na terra dos Wallys. Em todos, demoramos um pouco, mas acabamos achando o carinha de óculos, gorro e camisa listada de branco e vermelho. Nessa última página, atolamos. Demos de cara com dezenas de Wallys iguaizinhos. O verdadeiro e único estava procurando por um dos sapatos. Nós também procuramos um bocado, até dar sono. As crianças dormiram e lá estava eu, obcecado, procurando o Wally verdadeiro. Acabei desistindo. Troço besta, procurar Wally.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Minha crise de dono-de-casa
There is an End - The Greenhornes
Todos os dias pendurávamos as bolsas, chaves, sacolas e guarda-chuvas em alguns ganchos improvisados que o antigo proprietário havia colocado nas paredes da sala de entrada. Não sei vocês, mas acho hall uma palavra muito exagerada para aquela salinha. Prefiro saleta. Ou salazinha. Bom, a daqui de casa não tem nada de uau. É até bem mequetrefe, humilde mesmo. Por isso, eu não me importava de usar os ganchos improvisados para pendurar a coiserada que a gente traz pra casa. Mas cansei. Hoje resolvi dar um basta no improviso alheio. O antigo dono da casa havia transformado modestos rodapés com pregos em cabides de tranqueiras parafusados na parede de tijolinhos. Eu decidi fazer cabides com materiais mais nobres. Usei dois pedaços de madeira compensada pintada de branco que um dia foram parte de uma cama de criança. Fiz tudo rapidamente, mas foi preciso esperar a tinta secar para colocar no lugar. Quando terminei, faltava pouco para as crianças voltarem da escola com a minha mulher.
Nenhum comentário na chegada. Nenhum comentário durante o almoço. Nenhum comentário após o almoço. Nenhum comentário depois da sobremesa. Resolvi apelar.
_Ninguém notou nada de novo na casa?
_As plantas! Você mudou os vasos de lugar! - disse a minha mulher.
_Você passou aspirador! - disse a minha filha.
_Eu não notei nada, pai - disse o meu filho.
Nessas horas eu me lembro de todos os seriados da tv dedicados a massagear o ego da dona-de-casa que se esmera em transformar o lar em um ninho agradável, confortável e repleto de amor para os seus entes queridos. Na tv, o provedor do lar se esforça em entender, agradar e antecipar proativamente as vontades da pessoa que fica em casa, angustiada, frívola e cheia de devaneios e preocupações idiotas. Obviamente faz isso de olho nos cinquenta tons de cinza das próximas noves semanas e meia de amor. Mas na vida real não é assim. Ou no meu caso, não é nada disso.
_Não era pra mudar os vasos de lugar - disse a minha mulher.
_Tem poeira aqui - disse a minha filha.
_Pai, eu realmente não percebi diferença nenhuma - disse o meu filho.
_Eu troquei aqueles cabides da salinha de entrada por uns cabides que eu mesmo fiz.
_Aahnn, que bom - disse a minha mulher.
_Nossa! - disse a minha filha.
_Pai, eu nem olhei, mas deve ter ficado legal - disse o meu filho.
É tarde demais. Para mim, não existe consolo possível. Estou à beira das lágrimas porque só me preocupo com irrelevâncias, cabides, tranqueiras de madeira e coisas que ninguém liga a mínima. Vou para a varanda, varrer umas folhas, aguar umas plantas e esfriar a cabeça. O que há de errado comigo? Se eu tivesse cabelos, correria para fazer um novo penteado? Se eu tivesse crédito, estouraria com ele no shopping? Chocolate? Sorvete? Creme-de-leite? Definitivamente, creme-de-leite. O resto do dia desapareceu numa bruma açucarada.
Então, agora estou aqui, pensando em como faço para reduzir o consumo de açúcar e começar um novo ciclo de exercícios físicos. Talvez comece amanhã mesmo, desde que não seja no horário da novela.
Míriam Leitão aponta o perigo
O perigo silencioso
Panorama Econômico - Míriam Leitão
O Globo - 25/09/2012
A gestão do ministro Guido Mantega no Ministério da Fazenda está destruindo o patrimônio fiscal que levou uma década e meia para ser construído. Dentro dessa categoria, de demolição da ordem fiscal duramente edificada, encaixa-se a decisão de o Tesouro se endividar em R$ 21 bilhões para a Caixa Econômica e o Banco do Brasil aumentarem a oferta de empréstimos.(...)
(...)O Tesouro se comporta como se tivesse descoberto a fórmula mágica da multiplicação dos recursos sem ônus. Lança títulos ao mercado e transfere o dinheiro para os bancos públicos, e eles, por sua vez, pagarão com juros baixos e no prazo que quiserem. Se é que pagarão. Há gasto público embutido aí, mas não há registro como despesa em lugar algum, e por isso o impacto fiscal é escondido. Já foram emprestados assim mais de R$ 300 bilhões ao BNDES. Agora, o mesmo acontecerá com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica.
Equívocos na política econômica pesam muito tempo sobre o país. Durante anos pagamos o preço dos erros da bagunça fiscal do governo militar, em forma de inflação. São esses mecanismos, aparentemente engenhosos, que estão silenciosamente voltando a ser criados. Parece que os economistas do governo não aprenderam a lição número um: a de que não existe almoço grátis.
Panorama Econômico - Míriam Leitão
O Globo - 25/09/2012
A gestão do ministro Guido Mantega no Ministério da Fazenda está destruindo o patrimônio fiscal que levou uma década e meia para ser construído. Dentro dessa categoria, de demolição da ordem fiscal duramente edificada, encaixa-se a decisão de o Tesouro se endividar em R$ 21 bilhões para a Caixa Econômica e o Banco do Brasil aumentarem a oferta de empréstimos.(...)
(...)O Tesouro se comporta como se tivesse descoberto a fórmula mágica da multiplicação dos recursos sem ônus. Lança títulos ao mercado e transfere o dinheiro para os bancos públicos, e eles, por sua vez, pagarão com juros baixos e no prazo que quiserem. Se é que pagarão. Há gasto público embutido aí, mas não há registro como despesa em lugar algum, e por isso o impacto fiscal é escondido. Já foram emprestados assim mais de R$ 300 bilhões ao BNDES. Agora, o mesmo acontecerá com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica.
Equívocos na política econômica pesam muito tempo sobre o país. Durante anos pagamos o preço dos erros da bagunça fiscal do governo militar, em forma de inflação. São esses mecanismos, aparentemente engenhosos, que estão silenciosamente voltando a ser criados. Parece que os economistas do governo não aprenderam a lição número um: a de que não existe almoço grátis.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
domingo, 23 de setembro de 2012
Futebol de sabão
Ocote Soul Sounds - Contigo Jamas
Não é todo dia que se comemoram cinco aniversários de uma só vez. Pois aconteceu hoje. Na casa da minha mãe, comemoramos os nascimentos de três sobrinhos e da minha irmã. Na casa da minha cunhada, foi a festa de aniversário de uma outra sobrinha. Todo mundo fica super-feliz de estar junto. Mas para as crianças, o bom de estar junto é que fica mais divertido jogar futebol de sabão, uma tradição de aniversários em setembro.
O pessoal que aluga o enorme campo inflável foi pontual, chegaram ao meio-dia. Mas alguém se esqueceu de verificar se o campo estava ok. Havia um rombo enorme e a equipe avisou que voltaria rapidinho com um novo campo. Às duas e meia, o sol estava torrando e as crianças estavam loucas para brincar de futebol de sabão. Nada de campo novo. Quando já se pensava em cancelar o futebol, o rapaz tocou a campainha avisando que estava lá fora com um novo equipamento. Dez minutos depois, nada de campo de futebol.
Resolvemos verificar. A equipe havia deixado um rapaz sozinho com um campo inflável, cordas, o ventilador gigante e duas extensões de 25 metros. Não tinha jeito. Só haveria futebol se ajudássemos o rapaz a carregar e montar aquela tralha. Foi o que fizemos. Em cinco minutos o campo foi montado e inflado. As crianças brincaram a tarde inteira. Eu quase entrei também, mas na última vez que fiz isso fiquei com um hematoma sério numa das pernas. Não estou podendo.
Na hora de ir embora, deixaram o rapaz sozinho novamente. Mas eu me distraí e acabei não ajudando na desmontagem e no bota-fora do equipamento.
sábado, 22 de setembro de 2012
Billy Joe, do Green Day, chuta o balde
Green Day Billie Joe freaks out
É por isso que eu gosto de rock´n´roll.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Deixa chover
AC/DC - Soul Stripper
Quando falo de música com o meu filho sempre lembro de nós quatro: eu, Cabeça, Rodrigo e Ruble. O Velho Tom só fui conhecer no tempo da universidade, quando ensaiei uma migrada para o jazz e a música clássica. Para mim, música sempre foi rock´n´roll e algumas outras coisas. Mas em primeiro lugar, rock. Nós quatro levávamos isso muito a sério. Na época, parecia que a música era realmente o elo de ligação entre aqueles quatro meninos encabulados e desajustados. Não era, é claro. O que nos unia era a nossa timidez, o despreparo físico, a facilidade de aprender sem estudar e a impressão de que o futuro, para nós, acabaria cedo e de forma trágica. Isso quase se confirmou para dois de nós, eu e o Cabeça, num acidente de carro, mas sempre tivemos uma sorte danada, escapamos quase sem ferimentos. Isso ainda não falo para o meu filho, mas um dia, é claro, terei que contar.
Naquela época, eu digo para o meu filho, o mundo se dividia entre roqueiros e discotequeiros. Os roqueiros eram do bem, mas muito incompreendidos porque faziam um barulho infernal, usavam jeans e camiseta, cabelo comprido e não ligavam muito para banho. Do outro lado havia os disco boys e as disco girls, também chamados de travoltinhas. Eram criaturas bizarras que gostavam de musiquinhas melosas e dançavam sob a luz de globinhos cobertos de pedaços de espelhos. Eram muito graciosos, mas a mim não enganavam, era uma tribo cheia de regrinhas, sem a energia e a alegria libertadora do verdadeiro rock.
Durante um bom tempo os disco boys e as disco girls prevaleceram nas pistas de dança, nas festinhas na sala de visitas, nos aniversários e nas músicas de entrada das noivas nas igrejas. Mas na penumbra, nos horários mais inóspitos das rádios, na franja da programação da tv, nas bandinhas de garagem, o rock resistia com os Stones, The Who, Led Zeppelin, B. Springsteen, Prince e AC/DC. Um dia, quando todo mundo pensava que o rock tinha morrido, os travoltinhas foram varridos para fora de cena e os estádios de futebol voltaram a vibrar com farra dos guerreiros do rock. Isqueiros e velas foram acesas em comemoração. Foguetes e rojões foram estourados, e o bom e velho rock voltou a sacudir os esqueletos das pessoas em todo o mundo.
_Mas pai, eu não gosto muito de rock.
_Shhh. Deixa ver a temperatura. Hum. Você está gelado. Vou colocar um AC/DC agora mesmo para esquentar.
E enquanto coloco o CD, falo para o meu filho que o Ruble me mostrou o primeiro disco do The Police que ouvi na minha vida. E também foi gentil por me emprestar, várias vezes, os discos importados do Queen para que eu gravasse no toca-discos do meu irmão. Disso eu falo, como também entrego o Cabeça, que achava muito suspeito o Ruble gostar de Duran Duran e de Scorpions. Também comento sobre a fase excessivamente progressiva do Rodrigo, quando ele ultrapassou os limites do Yes e acabou por querer que a gente escutasse coisas como Devo e Marylion, que eu nem sei como se escreve.
E no final, passamos bem umas duas horas vendo vídeos novos e antigos sensacionais no You Tube, até ele se cansar.
P.S: Finalmente choveu.
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Ficando manso
Novos Baianos - A Menina Dança
Minha mãe me disse que estou ficando manso. Acho que não. Acho que não. Estou só ficando velho.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Coisas que gostaria de ver no cinema
Kinny - Lost Baggage
O vilão de "O Nome da Rosa", de Umberto Eco, não tem um pingo de humor. É contra o riso, contra a idéia de rir de si mesmo. Já me esqueci de parte da trama do livro, mas ainda guardo na cabeça algumas cenas da versão para o cinema com o eterno 007. Queria muito que fizessem uma nova versão, aquela ficou meio estrambelhada, escura e apertada demais.
Queria ver uma versão cinematográfica do Incal, do Jodorowsky. Tenho uma edição encadernada em francês que pedi para um amigo comprar quando fosse à Europa, há anos. Custou cem dólares. Esse meu amigo achou uma loucura eu gastar 100 pratas numa revista em quadrinhos. Ele tinha razão, hoje não faria mais isso.
Uma nova versão de A Ilha do Tesouro também seria legal. Adoro filmes de piratas. Queria que tivesse uma cena de luta de espadas de narval. Um dos filmes que sempre voltam à minha lembrança é a A Família Robinson. Não cheguei a ver a fita no cine Karim da 110/111, que depois virou igreja e hoje não sei mais o que é. Vi o treiler, que nunca deixou de incendiar a minha imaginação. Nesse trecho que sempre recordo, a família Robinson resiste aos ataques de piratas sanguinários com bombas caseiras feitas de cocos recheados de pólvora. Lembro também de uma corrida de pessoas montadas em avestruzes e de uma luta de um dos Robinson com uma anaconda.
Queria ver um filme da novela fantástica de Alfred Bester, "Tiger, Tiger". O livro conta a história de um náufrago espacial que consegue retornar para se vingar de todos os que o abandonaram. Lembro de ler na orelha do volume, publicado pela editora brasiliense, que Bester teve a idéia depois de ler sobre um náufrago chinês que passou mais de cem dias à deriva no oceano sem que ninguém o socorresse. Todos pensavam que era mais uma armadilha da segunda guerra mundial. O escritor jogou o náufrago no futuro e o transformou numa espécie de Conde de Monte Cristo numa sociedade estratificada em categorias de telepatas. O policial de Babylon 5 se chama Alfred Bester por causa desse livro.
Queria ver alguns dos filmes da década de trinta do século passado. Às vezes vejo Chaplin e Buster Keaton no You Tube. Queria ver " A Rua das Ilusões Perdidas (Cannery Row), Tarass Bulba, Guerra e Paz. Queria ver uma série longa, bem feita, literal, contando todas as peripécias de Don Quixote.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Cachorro pendurado
Parov Stelar - Jimmy´s Gang
Encontrei o doberman numa posição esquisita. Ele estava com as pernas traseiras encavaladas na cerca de arame de 70 cm de altura, com a cabeça no chão e as patas dianteiras trançadas em outras linhas de arame mais baixas. Latir e ganir exigiam esforços gigantescos mas o instinto falava mais alto. O cachorro jamais conseguiria se levantar sem ajuda. Era uma posição muito incômoda, pois as pernas traseiras estavam apoiadas na área da virilha. Se ficasse muito tempo pendurado, certamente o arame acabaria por fazer um corte profundo na região e o cão morreria por sangramento.
Fui atraído pelo barulho, o cachorro estava certo. Se não tivesse feito aquele estardalhaço eu não teria saído de casa para examinar o quintal do vizinho. Eu nem havia tomado café com as crianças. Qualquer coisa fora da rotina significa chegar atrasado na escola. Mas até nisso o cachorro deu sorte. Hoje foi o aniversário da minha filha, dia perfeito para se quebrar qualquer rotina.
Fiquei com medo de me aproximar e levar uma mordida do cachorro ao tentar desenganchá-lo. Achei melhor voltar com um alicate e cortar o arame. O pobre animal desabou no chão e saltou quase imediatamente por cima da cerca. Mas não estava agressivo, pelo contrário, estava agradecido. E também não parecia muito ferido.
Voltei para casa com uma sensação boa, como se tivesse feito alguma coisa importante. Fazia tempo que não me sentia assim. Isso me ajudou a preparar a casa para a festa da minha filha e seus amigos com o maior bom-humor do mundo. E ainda deu tempo de gravar a enorme lista de músicas que minha filha pediu no Ipod.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Medidas cautelares
Rival Sons - Face of Light - Dica do Gravetos e Berlotas
Existem algumas coisas que falo todos os dias para os meus filhos. Não é exagero. Falo TODOS os dias. Alguns exemplos: vá escovar e não se esqueça de usar o fio dental; não deixe a toalha no chão; apague a luz; não desperdice água; sente direito.
Para cada uma das frases é preciso sinceridade total e sangue frio para enfrentar uma série de argumentações.
_Pai, no seu tempo você usava fio dental?
Às vezes tenho a impressão de que meus filhos acham que fui criança no tempo das cavernas, quando a tv era preto e branco. Bom, talvez eles tenham razão.
_Usava pouco. Deveria ter usado mais. Talvez ainda tivesse todos os dentes. Você já passou o fio dental?
_Já.
_Impossível, não deu tempo. Volte lá e use o fio dental.
_Já passei, pai.
_Nem o Flash passa o fio dental tão rápido.
Às vezes eu mesmo me sinto enjoado e enjoativo por repetir tantas vezes as mesmas coisas. Por isso, eu estou à procura do meu gravador. Usei esse gravador de mini-fita muitos anos, era muito bom para gravar entrevistas, tem uma tecla para recuo rápido e busca de pausas. Pretendo gravar as frases mais usadas e acionar o gravador quando for preciso.
_Mas paiê, eu pendurei a toalha.
_ A toalha está no chão.
_Ela caiu sozinha.
_E continua sozinha e triste lá no chão. Deve ter caído de madura, está bem velhinha essa toalha. Não deixe no chão, coitada. Pendure.
_Isso não é justo.
_Agora.
Pensando bem, nada de equipamentos analógicos. Talvez seja melhor gravar uma seqüência de frases no computador e depois passá-las para o ipod. Ele está sempre espetado no som portátil e seria bem mais fácil acioná-lo por controle remoto.
_Apague a luz.
_Já apaguei, paiê.
_Mas a lâmpada está ligada!
_Deixa só mais um pouquinho, só até eu dormir, paiê.
São essas coisas que complicam tudo. Nessas horas, todas as medidas cautelares e disciplinares vão por água abaixo.
domingo, 16 de setembro de 2012
sábado, 15 de setembro de 2012
O calor dos trópicos
Monophonics - Bang Bang
Estou com um ventilador no chão atrás de mim, apontado para os meus pés. O calor é intenso. Se eu não estivesse em contenção de despesas alerta vermelho top high five perigo eu compraria um ar condicionado em suaves prestações mensais para o escritório. Mas vai ficar para a próxima. Sempre fico pensando em teorias da evolução relacionadas ao clima. É uma mania besta, eu sei, mas a minha antropologia também é meio besta, então eu acho que casa.
Minha teoria é simples. O calor é estupefaciante. Onde as pessoas conseguiram se livrar do calor infernal, o desenvolvimento humano ocorreu com maior sustentabilidade e sem tanto suor. Aqui, no Planalto Central, estávamos indo bem até que resolveram aumentar o preço da água. É o quarto item mais caro do orçamento. Primeiro vem a educação das crianças. Depois vem o supermercado. Em seguida vem a Rose, a empregada-cozinheira-universitária-com-bolsa-suspensa daqui de casa. E, então, vem a conta de água.
Fizemos todos os preparativos para o churrasco de aniversário da minha filha neste sábado. O calor dificultou um pouco as coisas, mas ninguém morreu por isso. A Rose caprichou na limpeza da casa, do sofá e das cadeiras. As crianças e até o Rafa colaboraram e mantiveram a casa mais limpa e arrumada. Armei o gazebo em frente à piscina e já deixei as bebidas nos isopores. Amanhã é só colocar o gelo de manhã, bem cedo. Grelhas e espetos estão lavados e prontos. O carvão também está no jeito. Minha mulher fez as compras de carnes neste sábado e também compramos os presentes.
Setembro é um mês campeão de aniversários. Quatro aniversários de familiares e de um monte de amigos. As reuniões e convites proliferam, mas é impossível dar conta de tudo. Tive que furar com um monte de gente, fazer o quê? Nesse ponto, acho que sou meio que nem o Rodrigo Mineiro, não consigo dizer que não vou quando as pessoas me convidam.
_Olha, vamos reunir a turma lá em casa no sábado, você e a família estão convidados! – os amigos me dizem.
_Que bom! Que bom! – eu digo.
_É bem legal! Contamos com vocês, hein?
_Que bom! Que legal! – eu digo.
_Sim, mas vocês vêm? – me perguntam, desconfiados.
_Que ótimo! A partir de que horas? – eu digo, bem disfarçado.
Em geral, o anfitrião se esmera em deixar o convidado bem à vontade e acaba se esquecendo de que fez uma pergunta que ficou sem resposta.
_Então a gente se vê, obrigado pelo convite – eu digo.
Mas no fundo eu sei que se não estivesse fazendo esse calor todo, que me dá uma preguiça danada, eu agiria com mais inteligência e não furaria com mais ninguém.
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Tocha , o hammster
Supergrass - Grace
Tocha, o hammster da sala da minha filha, esteve conosco nos últimos dois dias e amanhã volta para a escola. Ufa! Tocha veio acompanhado de um saco de raspas de madeira, gaiola com vasilhas para água e comida, cama e roda para prática de exercícios e um pequeno Diário do Tocha. Por onde foi acolhido, o ratinho também foi registrado em foto e texto pela criança que o hospedou. Folheei o diário e observei algumas fotos. Pude verificar que o Tocha é um hammster modedor, porque quase todas as crianças relataram mordidas. Outra característica forte do ratinho é ser fujão. Várias crianças disseram que o hammster escapuliu em suas residências, Para evitar fugas acidentais, resolvemos limpara a gaiola do hammster ....
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Preparativos
Monophonics - "Deception"
Terminei somente hoje aquela mesa de ripas que prometi para a minha mãe. Sim, demorei pacas. Mas tem feito um calor abominável e a rotina mudou, as crianças estão com natação e judô em lugares diferentes, duas vezes por semana. No semestre passado, as atividades físicas começavam às duas da tarde. Era preciso atravessar metade da cidade de carro para deixá-las no clube. O percurso era feito em trinta minutos. As atividades terminavam às seis horas e em geral minha mulher as trazia de volta. Mas quando isso não acontecia, eu era obrigado a sair de casa às cinco e meia e só conseguia chegar à casa lá pelas sete da noite, por conta do trânsito pesado. Não era raro chegarmos às sete e meia. Feitas as contas, estávamos pagando uma mensalidade alta, gastando muita gasolina e ficando pelo menos duas horas dentro do carro por conta das atividades físicas das crianças. Para piorar, as crianças ficaram sem aulas de ginástica olímpica por conta de um racha na equipe que oferecia o pacote de atividades físicas. Em troca, eles ofereceram aulas de circo. Resolvemos pular fora.
A natação fica a três minutos de carro. O judô fica a três minutos do local da natação. Feitas as contas, valeu a pena. Mas a logística exige a minha presença ou pelo menos que eu fique por perto. Estou aproveitando para desenhar o máximo que posso, atualizar leituras e estudar.
No domingo vamos comemorar o oitavo aniversário da minha filha. A mesa de ripas terá que ficar por aqui até lá. Na medida do possível, estou tocando os projetos com rapidez, mas sem trabalho noturno na oficina, para não estressar os vizinhos. A seca também impõe maior cuidado com as plantas da casa. Amanhã será um dia especialmente intenso, pretendo passar uma segunda mão de tinta nas barras paralelas, postes e balanço do jardim. Com a ajuda do jardineiro, espero concluir o canil-canteiro e repintar algumas coisas, inclusive a oficina.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Maguila
Monophonics: Loose Nukes Music Video
Houve uma época em que torci para o Maguila. Eu acompanhei a carreira dele meio de longe e caí na propaganda enganosa da tv. O cara era porteiro de boate, tinha treinado duro e andava ganhando todas as lutas que arrumavam para ele. Algumas vitórias foram bem doloridas, com o nosso campeão trocando pernas e ganhando por pontos. Ele também tinha umas duas ou três derrotas na carteira. Mas o meu afã de torcedor era cego para esses detalhes toscos. Eu acreditava que Maguila era o campeão do povo, um sujeito que havía superado todas as adversidades na marra e, contra tudo e contra todos, na porrada, ia mostrar todo o valor da raça brasileira.
Eu torcia de verdade para o Maguila. E não era só eu. Os caras na TV devem ter sentido que era importante aproveitar aquele histórico momento de cegueira coletiva. Acertaram umas lutas com uns argentinos e mexicanos, o queixo agüentou as porradas com dignidade e acertou alguns golpes. Ganhou, deu sorte, não sei. Da noite para o dia, Maguila virou ídolo nacional, era a pátria de luvas e calção samba canção. E de alguma maneira inexplicável, a cegueira coletiva se expandiu e ultrapassou a barreira dos 200 km da costa.
Os caras da TV conseguiram emplacar nosso porteiro pancador além da sul-américa. Mas sabiam que lá não basta parecer campeão, tem que matar a cobra e mostrar o pau. Os caras da TV disseram então que suas vitórias haviam chamado a atenção dos técnicos do box internacional. Falaram que houve uma disputa(?!) entre eles e o baixinho Ângelo Dundee, que havia sido o treinador do incomparável Muhammad Ali resolveu tutelar o fenômeno sul-americano. O agente vivaldino de Mike Tyson, que diziam ser o Midas do Box, também entrou na jogada. Das boates brasileiras para o ringue do estrelato, uau. Com seu novo treinador de campeões e seu agente sem escrúpulos, Maguila alcançava a condição de lutador de calibre e fibra e se preparava para conquistar o título mundial. Eu e milhares, talvez milhões, tínhamos sonhos de grandeza: um brasileiro campeão do mundo de pesos-pesados. Rá, moleque.
No Brasil, a galera ia ao delírio. Todo mundo fazia troça do QI do Maguilla, mas o delírio coletivo continuava. Era o operário do Box. O lutador que havia treinado na base da estiva, carregando sacos de cimento, socando calça jeans com argamassa de obra. Maguila subia, lutando com os gringos. Muita gente, inclusive eu, acreditava que a conquista do título era uma possibilidade. O delírio fervilhava. Em 1989, Adilson Maguila Rodrigues era o segundo no ranking da WBC. Evander Holyfield era o primeiro. Quem vencesse teria o direito de desafiar Mike Tyson pelo titulo dos pesos pesados das 3 principais entidades do boxe. Tyson! O lutador fenomenal que conquistou o título aos vinte anos de idade! Rá, moleque.
Não lembro onde estava durante a luta. Não lembro mais do horário em que a luta foi exibida. Não me lembro se assisti só ou acompanhado. Mas eu me lembro de comparar brasileiro e americano no ringue. Nosso campeão parecia flácido e franzino perto do musculoso e elástico Holyfield. Maguila usava um bigodinho de cantor de forró de sacanagem. Ele ta de olho é na butique dela. Ele ta de olho é na butique dela, eu pensava, vendo a luta. Até do que eu pensava, eu lembro, mas não lembro da luta. Só das duas fenomenais pancadas que derrubaram Maguila. Ver o replay dos socos e da queda do boxeador só serviu para ampliar uma das mais terríveis sensações de vergonha que senti na minha vida. Maguila não sofreu apenas um nocaute, foi um blecaute com apagão duplo carpado, as pernas tremendo, seu corpo chacoalhando como se estivesse em convulsão, alguém enfiando os dedos em sua boca para evitar que sufocasse com o protetor dos dentes. Morria ali, soterrado pela vergonha, a pretensão de ter um compatriota campeão mundial dos pesos-pesados.
Acho que Maguila era sincero, ele também acreditou que era possível ser campeão. Ainda lutou contra George Foreman(não vi)e perdeu a chance de virar nome de grill. Dizem que foi um inocente útil e que chegou onde nenhum outro lutador brasileiro chegou, na categoria peso-pesado. Para mim, não importa. Sempre lembro do Maguila quando sinto um frio na barriga e uma vergonha infinita, quando parece que estou perto demais de ser nocauteado por alguém que,sem dúvida nenhuma, está bem mais preparado para essa luta do que eu.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
O que te deixa realmente feliz?
What Makes You Truly Happy?
Acho que fiquei bobo. Ultimamente, tenho me sentido muito feliz por qualquer coisa.
sábado, 8 de setembro de 2012
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Enfim
Green Day - Kill The DJ
Não é para me gabar, mas já havia chegado à mesma conclusão que o Green Day há muitos e muitos anos.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Pizza na Dom Bosco
The Wallflowers - Reboot the Mission
_Nesse país, todo mundo sabe, depois das eleições sempre se descobre que não é bem assim, é de outro jeito. Todas aquelas coisas que seriam feitas, não são feitas, é claro. Aquele serviço de saúde, aquela escola, a energia, o combustível, o transporte, a cadeia, a polícia, a rua, o porto, o poço, o rio, a ponte, o aeroporto, a calçada e a urbanização terão que ficar para depois, não sei quando. Os eleitos têm memória curta e não ligam para as mentiras que dizem durante as campanhas. Alguns são tão descarados que registram a mentirada em cartório. Depois não se fala mais da creche, do emprego, da fome, da água, do pão e nem daquele programa legal para tirar gente das ruas e transformá-las em cidadãos dignos, com teto, comida, crédito e um carro zerinho na garagem – diz o sujeito ao meu lado.
_É – eu disse, desinteressado.
Estamos na Pizzaria Dom Bosco, no Sudoeste. Nunca vi antes esse sujeito ao meu lado. Eu pedi uma Simples. É assim que se chama uma fatia da pizza de muzzarela com muito molho de tomate e orégano sobre massa de pão. Cada pizza demora 4 minutos para ser assada no forno a lenha. Eu adoro. Como essa pizza há mais de 30 anos. Sempre acompanhada de um guaraná caçulinha.
O sujeito que deseja conversar sobre política pediu uma Dupla. São duas fatias colocadas uma sobre a outra, como se fosse um sanduíche. Ele pediu um Mate Grande para acompanhar. Evito olhar na direção desse cara, que usa uma camisa branca social com gravata vermelha. Olho para a parede. Tem oferta de pilhas. Tem palhinha de Piracanjuba para cigarro de palha. Tem um aviso de que não se aceita. Com o canto do olho, observo esse mala. Blaser no braço, pasta 007 no chão, encostada no balcão. Tem barriga grande, um jeito mandão e fala com perdigotos. Quer parecer com advogado de bandido, mas tem a aparência de um estelionatário que precisa de advogado.
_O Russomano vai ganhar em São Paulo. Lá o povo já cansou da sua turma – diz o sujeito.
_Minha turma? Não tenho turma nenhuma– eu digo.
_Com essa barbinha, camisa vermelha, calça jeans e tênis velho?
_ O senhor está enganado.
_ Vai querer dizer que vota no Russomano, o apalpador?
_Não, eu voto aqui e aqui não tem eleição este ano.
_Ah, sei, está com vergonha de dizer que vota no cara que coligou com o Maluf. Esqueço o nome dele. Radádi. É isso, Radádi.
_Não, longe de mim.
_Então é eleitor do Serra? Está bem velhinho o Serra, hein?
_Ele também é feio. Mas é eleição pra prefeito ou concurso de miss?
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Tempo
Mark Knopfler - Postcards From Paraguay
Li com as crianças o pedaço do livro em que Harry e Hermione voltam no tempo para salvar o hipogrifo Bicuço e o famigerado Sirius. Eles dormiram depressa, embora eu fizesse vozes diferentes e conferisse um bom ritmo à leitura. No livro, os heróis voltam três horas no tempo e conseguem salvar o hipogrifo. Em um dos trechos, no entanto, Hermione diz que a regra número um de voltar no tempo é que não se pode alterar o que aconteceu. É um contrasenso porque é exatamente o que Harry e Hermione estão a fazer. Mas não importa. As crianças dormiram e fico me perguntando o que eu faria se voltasse três horas no dia de hoje. Não faria muita diferença. Talvez conseguisse terminar a mesa de ripas, mas o barulho incomodaria muito os vizinhos. Talvez fosse limpar o jardim, mas o jardineiro ficou de vir nesta quarta-feira. Todos os dias, quando finalmente engato um assunto o sono me assalta, como agora, e torna tudo impossível.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
domingo, 2 de setembro de 2012
Hora de rever
Tough Guys Don't Dance - Oh Man, Oh God
Norman Mailer dirigiu a versão para o cinema do seu próprio livro. É possível encontrar na internet um vídeo onde o escritor e diretor fala sobre a lenda de que Ryan O´Neal, o galã que vinha do mega sucesso Love Story, implorou para que a cena acima fosse cortada da película. Mailer alegou que era crucial. Muitos a consideram uma das piores coisas já rodadas da história do cinema. Algumas pessoas se deram ao trabalho de filmar cenas parecidas na beira da praia. Fingem ler uma carta, depois começam a girar e gritar Oh, Man, Oh, God, Oh, Man. Eu gosto da idéia. Mas fico intrigado com o fato do sujeito ir para a beira do mar ler uma carta. Sim, se você está em Provincetown talvez a beira mar seja um lugar tão bom quanto qualquer outro para se ler uma carta. Seja como for, estou tropeçando demais nesse tema. Está na hora de reler o livro e rever o filme.
sábado, 1 de setembro de 2012
Setembro
EARTH WIND & FIRE "SEPTEMBER" - Cover
Começamos hoje o primeiro dia do Mês Especial Sem Vídeogame aqui em casa. As crianças toparam o desafio de verificar se conseguem sobreviver 30 dias ininterruptos sem um PSP, XBox, Nintendo, Game Cube ou coisa que o valha por perto.
_Mas o Kinect pode, né, paiê? - disse a menina.
_Só se for com o sensor de movimento. Nada de controle remoto.
_Mas pai, por quê estamos de castigo? - disse o meu filho.
_Não é castigo. É um teste de resistência. Vocês vão ver que vai valer a pena.
_Caramba, pai. Não dá para fazer esse teste em outubro ou novembro?
_Opa, não gostamos de gíria aqui em casa. E não, não dá. Eu acho melhor neste mês porque em outubro tem o dia das crianças e um monte de aniversários. Em novembro também não dá, é muito perto de dezembro. Além disso, já adiamos esse projeto em maio, junho, julho e agosto. Se não fizermos agora, não faremos nunca.
_Boa idéia, pai.
_Qual?
_Nunca.
_Temos um engraçadinho na família. Em homenagem a ele, também vamos diminuir a televisão.
_Ah, não! Aí já é demais! Eu não falei nada e fiquei com a TV diminuída! E eu nem sou viciada em videogame. Isso não é justo - disse a minha filha.
_Menos TV e videogame zero vão fazer muito bem a vocês dois. Vocês vão ganhar tempo de sobra para ler, desenhar, brincar e fazer muitas outras coisas - eu disse.
_Vai ser um tédio - disse o meu filho.
_Não é justo.
_É super justo. Eu também vou ficar longe do videogame e da tv durante 30 dias.
_E do computador? - disseram os dois, parecendo Huguinho, Zezinho e Luizinho.
Então eu disse que iria pensar. Talvez seja uma boa.
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