segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O maravilhoso folclore nacional

Eu acho o maior barato o folclore nacional. Saci, mula-sem-cabeça, iara, boitatá, curupira, boto, caipora, mãe-de-ouro, sempre me amarrei nessas histórias. Ninguém da minha família contava nada disso, é claro. Aliás, nunca conheci ninguém de família nenhuma que contasse história de saci ou de outro mito qualquer do folclore nacional. Mas dizem que essas são as histórias que o povo conta, ou contava, e a gente estuda isso na escola. Veja meus filhos, por exemplo. O mais velho, agora com oito anos, aprendeu tudo o que se deve aprender sobre os mitos folclóricos brasileiros com a idade de seis anos. Aprendeu rapidinho, num instante. Na época (e até hoje) ele estava muito ligado em Pokemon e por isso vivia me fazendo perguntas sobre a evolução dos mitos.

_Pai, qual é o segundo estágio do Saci?

_Como é?

_O Saci evolui e vira o quê?

_Evolui? Filho, o Saci não evolui. No máximo, vira um Sacizão, dos grandes.

_Ai, que sem-gracesa, pai. Saci fica saci para sempre?

_Mas ele se diverte, filho. Ele esconde as coisas dos outros, tem um gorro mágico...

_E ele solta raio, pai?

_Não, que eu saiba, ele solta só umas baforadas de fumaça do cachimbo.

_E ele não sabe que fumar faz mal?

_Sabe, mas ele não consegue parar, filho.

_E como ele perdeu a perna?

_Bem, ele, ..., não sei, acho que os sacis nascem sem uma das pernas.

_Qual? Direita ou esquerda?

_Tanto faz.

_Não tem saci de duas pernas?

_Não. Todo saci nasce com uma perna só.

_E por quê ele esconde as coisas dos outros?

_É só para chatear, eu acho.

E por um tempo ele pareceu satisfeito. Eu achei que tinha ido bem com as respostas. Depois, na escola, eu vi um desenho que ele fez de um saci. Ele parecia se transformar em um ser musculoso. O cachimbo estava num cantinho, apagado.

Neste ano, minha filha vai fazer sete anos. Ela também estuda o maravilhoso folclore nacional. Ela não quer saber de saci e nem de evolução.

_Paiê, sereia e iara é a mesma coisa?

_Não. Acho que as sereias só existem nos mares, elas gostam de água salgada. A iara só gosta de água doce, dos rios e lagos.

_E a iara só fala português, paiê?

_Acho que sim, filha.

_Sereias sabem falar todas as línguas.

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