terça-feira, 13 de setembro de 2011

A horta do meu quintal



Começamos a fazer uma horta aqui em casa. Quero dizer, eu só jogo água nos quatro canteiros. Minha mulher é que decide o que será plantado. Ela foi à feira e trouxe um monte de mudas. E também plantou tomate, alface, couve e cenoura.

_E você, não vai plantar nada? - disse a minha mulher.

_Eu sou ruim de hortaliças. Mas talvez eu plante um pé de pimenta. Eu gosto daquelas amarelinhas bem ardidas - eu falei.

Isso foi há uns dois meses. O jardineiro preparou os canteiros com capricho. Trouxe esterco, terra escura. E usou um pouco da serragem e do pó de madeira da minha oficina improvisada como terra vegetal. Desde que plantamos as mudas e sementes, a horta vem sendo regada regularmente, todas as manhãs, pela minha mulher. De vez em quando ela precisa sair mais cedo para o trabalho e então sou eu que vou regar a horta.

_Não se esqueça de molhar os morangos. E também molhe aquela planta que o meu pai trouxe de São Paulo, é uma lembrança da minha tia, que morreu - diz a minha mulher.

Eu não me esqueço. O sol anda inclemente por aqui. E a grama do meu quintal está seca, com cor de palha. Você anda uns trinta passos no gramado seco e chega à horta, no fundo do quintal, beirando a cerca do vizinho. De um lado da horta fica o pé de limão-china, que está carregado. Do outro fica o pé de jabuticaba, que deve frutificar em dezembro. Eu jogo bastante água nessas duas árvores. Eu adoro limão-china e amo jabuticabas.

A horta é vigiada e atacada diariamente. As folhinhas verdes e tenras das couves e alfaces exercem uma atração muito louca sobre as aves. Um dia minha mulher comenta que está furiosa com os pássaros.

_Dá vontade de pegar uma espingardinha de chumbo.

_Mãe, você tem coragem de atirar em passarinho?

_Eu não, mas seu pai tem.

_Eu tinha. Hoje não tenho mais - eu disse.

_Ué, nem sabia que a gente tinha espingardinha de chumbo.

_É velha, está estragada.

O jardineiro veio e deu um jeito de colocar umas folhas de palmeira para cobrir a horta. Aumentou a sombra e os pássaros diminuíram os ataques.

_Também, já comeram toda a couve e acabaram com a alface - disse a minha mulher.

_Não é "o" alface? - eu disse.

_Sei lá, já comeram tudo, mesmo.

E é verdade. Sobraram as cenouras, mas nem sombra de tomate. Parece que mexeram no canteiro de morangos. E, ai, a muda de lembrança daquela tia está só um palito, não resta nenhuma folha.

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