sábado, 24 de setembro de 2011

As críticas de Rafa


The Budos Band - Mark of the Unnamed

Existem pencas de cachorros que pensam que são humanos. Rafa tem certeza. E mais, ele, além de sapiens sapiens, é da família. O cãozinho shi-tsu da minha filha faz de tudo para participar integralmente do nosso cotidiano. Isso inclui as refeições e a hora do banho. Rafa só não fica por perto quando vai dormir, porque nessa hora ele gosta de privacidade. Rafa gosta muito de sonecas, mas é um especialista em dormir de verdade. O fato de cochilar praticamente o dia inteiro não lhe tira o sono sagrado. Às dez da noite ele apaga. É fácil saber disso porque ele fica com a barriga pra cima, todo largado. Quando ele está desse jeito, o melhor é não encostar no Rafa. Uma vez encostei de leve e levei uma mordida forte, a única que o Rafa me deu em dois anos de convivência.

Quando as crianças estão na piscina, Rafa se preocupa. Ele late quando os meninos pulam de ponta e também quando dão salto mortal. Nessa hora, se alguém jogar água no Rafa ouvirá protestos latidos até cansar. Rafa também defende as crianças quando estou dando bronca. Ele fica latindo até que eu me canse dos latidos e esqueça porque estou bronqueando as crianças.

Mas, apesar disso, Rafa é um cão silencioso. Quando estou no escritório, passa horas aos meus pés, sem um latido sequer. Se bem que ele ronca. E soluça. Nunca vi um cachorrinho ter tanto soluço. Às vezes ele para de cochilar só porque começou a soluçar. E então ele tosse um pouco e pronto, volta para a soneca.

Rafa foi o presente de aniversário de cinco anos da minha filha. Desde que entrou para a família tem me ajudado a ser mais humano e menos canino. E isso vale para tudo. Ultimamente, por exemplo, Rafa tem sido um crítico impiedoso da minha marcenaria. Outro dia fiz um banco simples com umas sobras de tábuas e estacas. Rafa fez xixi numa das pernas. Eu vi e entendi o recado. O banco não estava legal. Lavei e incrementei o banco com espaçadores e cantoneiras reforçadas. Rafa não fez nada com o banco no dia seguinte, sinal de que a coisa tinha progredido.

Outro dia fiz um armário e o Rafa ficou me vigiando, esperando para ver qual era a cor que eu pretendia usar. Eu queria pintar de amarelo, mas o Rafa havia detonado um baú que pintei com essa cor, por isso pensei melhor. Como dá muito trabalho lavar madeira, eu decidi deixar o Rafa escolher a cor do armário. Usei todas as cores que eu tenho para madeira em pequenos pedaços de madeira que coloque ao alcance do Rafa. Rafa não gostou do verde, que ficou muito mordiscado. Também não gostou do amarelo, que foi regado em abundância. Para resumir, sobram intactos somente os pedaços pintados de vermelho e azul. Segui as sugestões e o Rafa deve ter gostado do resultado porque o armário continua sequinho e cheiroso.

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