domingo, 4 de setembro de 2011

Banco de Praça



Banco de Praça era um exercício para estudantes de teatro. Consistia em sentar ao lado de um outro estudante e criar uma situação em que um dos dois seria obrigado a se levantar e dar o fora. Um grande relógio ao fundo do palco marcava o tempo. Cada dupla dispunha de no máximo três minutos. Quem conseguisse permanecer sentado era considerado vencedor e deveria permanecer no banco. Era um exercício de improvisação que raras vezes derivava em pancadaria.

Os professores não costumavam impor nenhuma regra, então não era impossível que a coisa descambasse para o confronto quando dois homens se sentavam no mesmo "banco de praça". Mesmo assim nunca vi briga, só umas cotoveladas e tapas. Quando duas moças se sentavam no "park bench" a coisa deixava de ser tão física. Mas a porrada verbal era mais violenta. Mesmo assim, xingamentos e beliscões não eram comuns.

Eu era um estrangeiro perambulando pela universidade onde fazia um curso de extensão. Descobri os ensaios no teatro por acaso, num dia em que a moto quase congelou. Entrei no prédio para me esquentar e vi o primeiro exercício de "park bench" da minha vida. O cenário consistia apenas de um banco de ripas de madeira iluminado por um holofote. O professor orientava os alunos da platéia, onde todos ficavam. Cada um devia escolher um papel título de uma caixa cheia deles e agir de acordo com o personagem. Somente a primeira dupla era chamada pelo professor. Esgotado o tempo, caso os dois permanecessem no banco, uma nova dupla era chamada pelo professor. Achei super-interessante.

Às vezes, a escolha de papéis favorecia a criação de situações estereotipadas. Policial e vagabundo. Empresário e empregado. Branco e negro. Religioso e abortista. Mas as combinações eram aleatórias. Não lembro das cenas, minha memória é uma droga. Só me lembro de ficar impressionado com a qualidade de algumas interpretações.

Lembro que descobri a grade horária dos ensaios de teatro e de marcar presença em muitas tardes naquele teatro. Eu me diverti à beça. Mas devia dar risadas altas demais da platéia. Um dia, ao chegar no teatro, a porta estava com uma corrente e cadeado.

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